Excesso de peso e ambiente de trabalho no setor público municipal

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Sabe-se que diversos fatores estão relacionados ao excesso de peso e que o ambiente pode exercer influência tanto sobre as práticas alimentares quanto sobre a disposição para a realização de atividades físicas. Além disso, é evidenciada na literatura a associação entre obesidade e ambientes de trabalho com características hostis e longas jornadas, o que gera preocupação com a saúde dos trabalhadores.

Pensando nisso, um estudo teve como objetivo identificar a relação entre excesso de peso e características sociodemográficas, hábitos alimentares, situação de saúde e condições de trabalho em um grupo de servidores e empregados públicos municipais.

A pesquisa foi realizada em um município do estado de Minas Gerais, por meio de aplicação de questionário eletrônico respondido por servidores e empregados do município no período de Setembro a Dezembro de 2009. Para avaliar o excesso de peso foram utilizadas as medidas de peso e altura autorreferidas para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e para diagnóstico foi considerado IMC ≥ 25 kg/m².

Dos participantes, a maioria eram mulheres (66,3%) com mediana de idade de 42 anos e escolaridade superior a 11 anos. A prevalência do excesso de peso foi de 44,4%, variando de acordo com as características sociodemográficas, de saúde e status ocupacional. Indivíduos com excesso de peso referiram com maior frequência as seguintes práticas: cozinhar, ir ao supermercado ou feira, consumir carne com gordura aparente e pele de frango. Já a análise das condições e do ambiente de trabalho mostrou a relação entre o excesso de peso e a falta de autonomia na execução das tarefas profissionais e a menor satisfação com as atividades desenvolvidas, jornada prolongada e trabalho em turnos.

O excesso de peso dos trabalhadores municipais também foi associado ao diagnóstico autorreferido de diabetes mellitus, hipercolesterolemia e hipertensão arterial, à autoavaliação negativa sobre sua própria saúde e à menor frequência de pausas durante a jornada de trabalho.

Embora no referido grupo se constate  prevalência de excesso de peso  inferior à apresentada pela população brasileira, esses resultados indicam a influência do contexto de trabalho na determinação do peso dos indivíduos.

Em situação de jornada de trabalho prolongada, as pausas são fundamentais para permitir a recuperação da capacidade física e mental. Sob privação do tempo para recuperação, é possível que o indivíduo ultrapasse seus limites fisiológicos, gerando respostas negativas, como a ansiedade, a qual pode perturbar a duração e a qualidade do sono, alterar a secreção de hormônios fundamentais para o metabolismo sadio e tornar o indivíduo mais propenso a buscar alívio imediato das tensões por meio de comportamentos prejudiciais à saúde, como compulsão alimentar e tabagismo.

Quanto aos hábitos, a prática de cozinhar foi diretamente relacionada ao peso corporal excessivo, resultado este inesperado, pois a prática implicaria em restrições ao consumo de alimentos prontos ou pré-fabricados, os quais favorecem a ingestão de açúcar, gordura e sódio. Entretanto os autores ressaltam a possibilidade de causalidade reversa, dado o desenho transversal do estudo. O hábito de cozinhar, nesse caso, pode ser uma tentativa daqueles com comprovado excesso de peso de adotarem hábitos alimentares mais saudáveis.

Os autores concluem que os resultados obtidos reforçam a necessidade de medidas preventivas específicas aos fatores de risco modificáveis identificados, com destaque para a privação de pausas no trabalho, além da necessidade de atividades de educação em saúde.

Para acessar o artigo na íntegra, clique aqui.

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