Relação entre sobrepeso e obesidade por composição socioeconômica e status socioeconômico do adolescente
A obesidade durante a adolescência é um forte preditor de obesidade na idade adulta. A literatura sugere que a obesidade resulta da interação entre genes de suscetibilidade e hábitos de vida pouco saudáveis, como alimentação inadequada, comportamento sedentário e atividade física insuficiente. Em parte, os hábitos são moldados pelas disposições e tipos de instalações disponíveis nos ambientes nos quais as pessoas vivem e circulam, por exemplo, a presença de restaurantes fast-food, parques, ciclovias e instalações esportivas. As áreas desfavorecidas estão sujeitas a maior prevalência de sobrepeso e obesidade devido a um ambiente desfavorável para adoção de uma alimentação saudável e um estilo de vida fisicamente ativo.
Adolescentes que vivem em um bairro e que frequentam escolas com menor composição socioeconômica, considerando o poder aquisitivo médio das famílias e dos estudantes, respectivamente, estão em maior risco para o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade do que aqueles de famílias com menor status socioeconômico. Ou seja, a condição socioeconômica do contexto seria mais relevante que a individual.
Quais os efeitos da composição socioeconômica escolar e do status socioeconômico no estado nutricional do adolescente?
Um estudo publicado em 2021 teve como objetivo investigar o efeito da interação da composição socioeconômica escolar e do status socioeconômico do adolescente, controlando atividade física, alimentação escolar e composição familiar, na prevalência de sobrepeso e obesidade em uma amostra representativa de adolescentes franceses. Essas informações ajudariam a compreender se as diferenças sociais no sobrepeso e obesidade são devidas, em parte, a estilos de vida diferentes ou a outros aspectos ambientais.
Um total de 18 escolas públicas de ensino médio foram selecionadas aleatoriamente. De 1257 participantes, 1149 (91,4%) foram incluídos no estudo. Os participantes responderam um questionário desenvolvido para o estudo e autorreferiram idade, sexo, altura, peso, composição familiar (se viviam com os pais ou sem), quantos irmãos tinham, ocupação do pai e da mãe, alimentação escolar (pensão completa, meia pensão ou nenhuma pensão), quantos dias usaram a bicicleta por pelo menos 10 minutos e quantas horas semanais, quantos dias e horas praticavam esportes fora de aulas obrigatórias por semana.
A partir destas informações, foram construídas as variáveis: classificação de Índice de Massa Corporal – IMC (pelo CDC – percentil); composição familiar, dividida em duas categorias: morar com o pai e a mãe ou não morar com os pais; status socioeconômico do pai e da mãe, combinados em três categorias: alto, médio e baixo, para determinar o status socioeconômico do adolescente; as escolas foram classificadas em três grupos de composição socioeconômica: alta, média e baixa, de acordo com o status socioeconômico dos estudantes; sobre a alimentação escolar eles foram divididos em dois grupos: almoço na escola e almoço fora da escola; a atividade física foi mensurada em minutos/semana e calculado o equivalente metabólico (MET).
Em relação ao IMC, 6,3% dos adolescentes apresentaram baixo peso, 81,5% apresentaram peso adequado, 8,9% sobrepeso e 3,4% obesidade. Os adolescentes matriculados em escolas com composição socioeconômica média e alta eram mais propensos a comer na escola e terem níveis de atividade física médio ou alto em comparação com aqueles matriculados em escolas com composição socioeconômica baixa. Adolescentes mais velhos e meninas eram menos propensos a terem sobrepeso/obesidade em comparação com adolescentes e meninos mais jovens. De forma semelhante, adolescentes com alto nível de atividade física eram menos propensos a terem sobrepeso/obesidade em comparação com aqueles com baixo nível de atividade física.
Em escolas com composição socioeconômica média, adolescentes com baixo status socioeconômico eram mais propensos a terem sobrepeso/obesidade em comparação com adolescentes de alto status socioeconômico. Em escolas com alto composição socioeconômica, ou seja, com status socioeconômico médio mais alto, adolescentes com baixo status socioeconômico apresentavam maior risco em comparação com adolescentes de médio status socioeconômico. Em escolas com baixo composição socioeconômica, ou seja, com menor status socioeconômico médio dos estudantes, nenhuma diferença estatisticamente significativa foi observada.
Ambiente alimentar tem influência distinta de acordo com a composição socioeconômica da escola
Este estudo observou que a propensão de almoçar na escola estava mais relacionada à composição socioeconômica escolar do que pelo status socioeconômico do adolescente, variando de 12,4% em escolas com composição socioeconômica baixa a 50% e 82,4% em escolas com composição socioeconômica média e alta, respectivamente. Em escolas com composição socioeconômica baixa, os adolescentes eram menos propensos a comerem na escola, independente do seu status socioeconômico e foi observado um gradiente social inverso, com maior prevalência de sobrepeso/obesidade, variando de 11,4% para adolescentes com baixo status socioeconômico, 18,6% para adolescentes com médio status socioeconômico e 23,4% para adolescentes com status socioeconômico alto. A literatura sugere que o almoço fora da escola é influenciado pelas ofertas dos restaurantes ao redor e que bairros com baixa composição socioeconômica são caracterizados por uma maior densidade de restaurantes fast-food, o que pode ser uma explicação para o resultado encontrado. Em escolas com composição socioeconômica média e alta, os resultados mostram a presença de um gradiente social mais “convencional”, onde adolescentes com status socioeconômico alto estavam em menor risco, em comparação com adolescentes com status socioeconômico baixo. Estes resultados sugerem que o ambiente alimentar de escolas com composição socioeconômica alta não beneficia todos os adolescentes igualmente, a depender do seu status socioeconômico. Por outro lado, o ambiente alimentar desfavorável das escolas com baixo composição socioeconômica afeta todos os adolescentes, independente do seu status socioeconômico.
Em relação à atividade física, esta estava negativamente ligada ao sobrepeso e obesidade, independente da composição socioeconômica escolar ou status socioeconômico do adolescente. Adolescentes de baixo status socioeconômico tiveram uma prevalência de sobrepeso/obesidade igualmente alta em todas as composições socioeconômicas escolares. Por outro lado, adolescentes com nível médio e alto de status socioeconômico, corriam mais risco em escolas com composição socioeconômica baixa em comparação com escolas com composição socioeconômica superior.