“Análise de uma década de cobertura da mídia sobre obesidade – isso é o que descobrimos”

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Tradução do texto original (https://theconversation.com/we-analysed-a-decade-of-media-coverage-of-obesity-this-is-what-we-found-172563?s=03):

“Com o ano novo chegando, sem dúvida, muitas manchetes incitarão os leitores a estabelecerem resoluções para perder o peso que podem ter ganho durante as férias. No entanto, a maneira como a imprensa britânica fala sobre peso, obesidade e saúde tem flutuado acentuadamente nos últimos anos.

Para saber mais sobre essas mudanças, conduzimos uma análise linguística de milhares de matérias publicadas em jornais no Reino Unido sobre obesidade, dietas e nutrição de 2008 a 2017.

Entre esses anos, a imprensa nacional britânica publicou conjuntamente 43.878 artigos que mencionavam a palavra ‘obeso’ ou ‘obesidade’, totalizando a ocorrência de 36 milhões de palavras. O número dessas histórias em 2016 foi o dobro de 2011. Houve também aumentos notáveis em termos como ‘epidemia da obesidade’ ao longo do tempo, indicando uma preocupação crescente com o assunto.

Para saber mais sobre a cobertura em si, classificamos as palavras em categorias temáticas. Isso incluía nutrição (por exemplo, chocolate, tortas, dieta), biologia (genes, cérebro, células), atividade física (exercícios, educação física, natação), política (deputados, governo, orçamento) e questões sociais (discriminação, desigualdade, desemprego). Em seguida, rastreamos as frequências coletivas de palavras nessas categorias ao longo do tempo para identificar quais conceitos estavam aumentando ou diminuindo.

Responsabilidade social

A principal tendência que observamos é que, ao longo dos anos, a imprensa cada vez mais enquadrou a obesidade como algo que depende do indivíduo – seja porque você nasce com um corpo que tende a ganhar peso, ou porque você faz escolhas que resultam em ganho de peso. A frequência de palavras que enquadram a obesidade em termos de responsabilidade individual, tendo a ver com as escolhas de estilo de vida (o que você come e quanto exercício você faz), aumentou com o tempo.

Por exemplo, em artigos de 2008, a palavra “lanches” ocorreu 58 vezes por milhão de palavras. Em 2017, esse número saltou para 143. O conjunto de termos relacionados a fatores biológicos (como genes, atividade cerebral ou vírus) também aumentou com o tempo.

Sabemos agora, por meio de pesquisas em saúde, que fatores sociais desempenham um papel importante na obesidade. Por exemplo, os adultos de bairros mais carentes da Inglaterra tem quase o dobro de probabilidade de ter obesidade, se comparados àqueles de bairros mais ricos.

Mas, com o tempo, esses fatores sociais tiveram um papel menor na cobertura da imprensa sobre obesidade. A frequência de palavras ligadas a fatores sociais (políticas governamentais e de planejamento urbano, práticas de fabricantes de alimentos e anunciantes e desigualdade social) diminuiu.

Por exemplo, em 2008, a palavra “governo” ocorreu 904 vezes por milhão de palavra, mas apenas 418 vezes por milhão de palavras em 2017. Mesmo jornais liberais como Guardian, que tendiam a mencionar os fatores sociais mais frequentemente, os discutiram menos ao longo da década.

Mudança de calendário

Também descobrimos que o foco nas causas da obesidade muda de mês para mês. Durante o Natal e o ano novo, há mais cobertura em torno da escolha pessoal, como não se entregar a tortas de carne, junto com as resoluções de ano novo para iniciar uma nova dieta.

Mas durante o anúncio do orçamento na primavera e as conferências do partido no outono, a política governamental relacionada à obesidade tende a receber mais atenção da mídia.

A época do ano afeta até mesmo os conselhos sobre perda de peso impressos nos jornais. Em janeiro, o foco é a adesão a uma academia. Mas fevereiro, a retórica do ‘novo você’ tende a desaparecer e é substituída por matérias que nos lembram de dormir o suficiente, pois isso reduzirá nosso risco de obesidade.

Por volta de abril, os leitores são incentivados a participar de atividades ao ar livre, como jardinagem, para perda de peso. Em agosto, esportes como natação e ciclismo são incentivados, mas a barra diminui em novembro, quando a caminhada é promovida como atividade preferida para perder peso.

A ansiedade em torno da obesidade também tende a ser sazonal. O início do bom clima em maio traz um aumento no número de matérias sobre obesidade, além de reportagens sobre como ficar bem em trajes de banho. Embora os jornais não sejam os culpados pelo clima ou pelo momento dos eventos políticos, esses fatores levam a mensagens inconsistentes em torno das causas e soluções para obesidade mês a mês.

Examinamos apenas uma década de artigos e não é sensato extrapolar além desse ponto, por exemplo, prevendo que a direção atual é irreversível. No entanto, para o período que examinamos, há uma clara mudança na imprensa no sentido de situar a obesidade como algo mais individual do que político.

Esse período foi de austeridade governamental e de políticas destinadas a reduzir gastos com pagamentos de previdência, subsídios para moradia e serviços sociais. A mensagem que ‘se algo ruim acontece, a culpa é sua’ nas matérias sobre obesidade se encaixa na ideologia política dominante na época.

Se fatores pessoais desempenham um papel no desenvolvimento da obesidade, eles são apenas parte da história. A imprensa britânica parece menos interessada em destacar o papel que poderosos fatores sociais têm desempenhado na contribuição para as altas taxas de obesidade do país. Talvez isso possa explicar por que, apesar do foco crescente da obesidade nas notícias, as taxas de obesidade e sobrepeso tem permanecido em 61-64% nos últimos 20 anos.”

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1 Comment

  1. ana vida disse:

    Sou a Ana e gostei muito do seu artigo Parabéns pelas informação

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