Obesidade e utilização de serviços de saúde no Brasil

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Estudo com dados representativos da população brasileira analisou a associação entre obesidade e utilização de serviços de saúde relacionados à hipertensão e/ou diabetes. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, que avaliou uma amostra representativa da população brasileira com idade ≥18 anos, composta por moradores de domicílios particulares situados em todo o território nacional. A PNS tem por objetivo avaliar o desempenho do sistema nacional de saúde do Brasil, o estado de saúde da população e realizar a vigilância de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e de fatores de risco associados.

 

Para coletar os dados da PNS, foi aplicado um questionário dividido em três partes: 1) domicílio; 2) moradores do domicílio; e 3) individual. O questionário individual pertinente ao estudo foi respondido por apenas um morador, com idade mínima de 18 anos, selecionado aleatoriamente pelo entrevistador, por meio de computador pessoal de mão. Todos os indivíduos que responderam à parte individual do questionário e tiveram os dados de altura e peso medidos disponíveis foram elegíveis para as análises. Foram excluídas as mulheres que afirmaram estar grávidas. A principal exposição analisada foi a categoria de índice de massa corporal (IMC – peso/altura2) dos indivíduos, sendo: baixo peso/peso normal, sobrepeso e obesidade. As informações sobre a utilização de serviços de saúde foram fornecidas por indivíduos que referiram ter diagnóstico clínico de hipertensão e/ou diabetes. Esses indivíduos foram questionados sobre a utilização dos seguintes serviços de saúde: 1) visita regular ao médico ou serviço de saúde; 2) realização de exames prescritos; 3) encaminhamentos a um especialista (incluindo consultas); e 4) internação hospitalar pela doença ou complicação relacionada. No caso de indivíduos com ambas as doenças, considerou-se a utilização do serviço de saúde por pelo menos uma delas.

 

Para descrever a amostra e nas análises ajustadas foram utilizadas as variáveis ​​sociodemográficas:  escolaridade, idade, raça/cor da pele, macrorregião e área de residência (urbana ou rural). Foi realizada análise estatística descritiva de todas as variáveis a fim de caracterizar a distribuição das características da população do estudo. Foram calculadas as frequências relativas para analisar a relação entre as categorias de IMC, características sociodemográficas e relato de uso de serviços de saúde para hipertensão e/ou diabetes. Todas as análises foram estratificadas por sexo (masculino/feminino), ao invés de utilizar este parâmetro apenas para ajuste, permitindo observar a relação desta variável com possíveis explicações de associações. As associações entre as três categorias de IMC e uso de serviços de saúde foram analisadas por meio de modelos de regressão de Poisson (brutos e ajustados).

 

No total, 59.402 indivíduos maiores de 18 anos compuseram a amostra para a análise. Estes tinham peso médio de 70,4 kg (± 15,2 Kg), 1,63 m de altura (± 9,7 cm) e IMC médio de 26,5 Kg/m2. Da população em questão, 36,4% apresentavam sobrepeso e 20,8%, obesidade. Foi encontrada maior utilização de serviços de saúde por indivíduos com sobrepeso e obesidade, de ambos os sexos, comparados a indivíduos com baixo peso/peso normal. Indivíduos com diabetes e/ou hipertensão podem precisar dos serviços de saúde em maior ou em menor grau, e o sobrepeso e a obesidade influenciaram o grau dessa utilização.

 

Desta forma, indivíduos brasileiros com obesidade (ambos os sexos) fizeram aproximadamente o dobro da utilização de todos os serviços de saúde investigados em decorrência de hipertensão e/ou diabetes, sendo estes consultas de rotina, encaminhamentos/consultas com especialistas, exames realizados e internação hospitalar, quando comparados a indivíduos de baixo peso/peso normal. Sendo assim, além de outras consequências, a presença da obesidade demanda maiores recursos humanos e materiais ao sistema nacional de saúde. Conclui-se que a obesidade é um problema de saúde alarmante, principalmente considerando-se que estudo com dados representativos da população identificou associação entre obesidade e maior utilização de serviços de saúde em um país de renda média, encontrando resultados nos três níveis de atenção à saúde. Tais achados podem contribuir significativamente para o planejamento, formulação e gestão de políticas de saúde, particularmente na esfera pública, podendo contribuir para a saúde pública nacional e internacional.

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