Associação entre o ambiente alimentar de escolas brasileiras e o consumo de alimentos ultraprocessados

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O Ambiente Alimentar Escolar, que envolve a disponibilidade e a venda de alimentos tanto no espaço interno quanto no entorno das escolas, é considerado essencial para a promoção da alimentação adequada e saudável, tendo em vista que crianças e adolescentes passam um parcela expressiva do seu dia na escola. Assim, a depender dos alimentos disponíveis, o ambiente alimentar das escolas pode influenciar de maneira positiva ou negativa a alimentação e, consequentemente, impactar a saúde dos estudantes.

Apesar de o ambiente escolar ser considerado estratégico para a promoção da saúde, estudos têm mostrado uma elevada oferta de alimentos ultraprocessados nas cantinas escolares e nos pontos alternativos de venda de alimentos situados no entorno das escolas, favorecendo o consumo desses alimentos pelos adolescentes. Por outro lado, a adesão dos estudantes à alimentação escolar tem sido relacionada a uma melhor qualidade da alimentação, a um impacto positivo no estado nutricional e consequentemente menores chances de ocorrência de obesidade.

Nesse contexto, foi desenvolvido um estudo com o objetivo de avaliar a associação entre o ambiente alimentar de escolas públicas e privadas e o consumo de alimentos ultraprocessados por adolescentes brasileiros. Para isso, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, um inquérito nacional de base escolar conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Saúde e Ministério da Educação.

O Ambiente Alimentar Escolar foi avaliado por meio de um indicador que englobou a presença de cantinas e pontos alternativos de venda de alimentos no entorno das escolas e a oferta de sete itens em cada um desses locais. A pontuação do indicador variou de 0 a 16, sendo que quanto maior a pontuação melhor o ambiente alimentar das escolas. Já o consumo de alimentos ultraprocessados, foi avaliado pelo relato de consumo de 13 alimentos ultraprocessados no dia anterior, pelos estudantes que resultou em um escore, sendo considerado o consumo elevado um escore ≥ 5. Além disso, foi descrita a média de consumo de ultraprocessados que variou de 0 a 13.

Foram analisados os dados de 158.816 estudantes matriculados em escolas públicas e privadas brasileiras. Todas as análises foram realizadas levando em consideração se a escola era pública ou privada e segundo características sociodemográficas (sexo, idade, raça/cor, região, residente em capital ou não capital e localização rural ou urbana).

Os adolescentes relataram um consumo médio no dia anterior de aproximadamente 4,3 alimentos ultraprocessados. Quase metade dos estudantes apresentaram consumo elevado de alimentos ultraprocessados (≥ 5 subgrupos de ultraprocessados) não havendo diferenças entre alunos de escolas públicas e privadas (44,71% e 44,57%, respectivamente). A maior prevalência de consumo elevado de ultraprocessados foi observada nas faixas etárias menores de 13 anos e entre 13 e 15 anos para os estudantes de escolas públicas, e entre 16 e 17 anos para os estudantes de escolas privadas.

Em relação ao ambiente alimentar escolar, as escolas públicas apresentaram um melhor desempenho no escore (média de 9,67) em comparação com as escolas privadas (média de 8,86). A maior pontuação do escore foi observada nas escolas privadas da área rural, com escore médio de 11,09.

Foi verificada uma relação inversa entre o ambiente alimentar das escolas e o consumo de alimentos ultraprocessados, ou seja, estudantes que frequentavam escolas públicas e privadas com um ambiente alimentar mais saudável, apresentaram uma chance menor de consumo elevado de alimentos ultraprocessados. Além disso, foi observado que quando um estudante passa de um ambiente com menor prevalência de consumo elevado de alimentos ultraprocessados para outro ambiente com maior prevalência, as chances de consumo elevado desses alimentos aumentam tanto em escolas públicas quanto em escolas privadas.

Os achados do presente estudo reforçam as evidências crescentes sobre o papel do ambiente alimentar escolar nos hábitos alimentares dos estudantes. Além disso, evidenciam a necessidade de mediadas que protejam o ambiente escolar da presença de alimentos não saudáveis e que façam desses locais espaços promotores de saúde, aumentem a qualidade de vida e protejam os direitos de crianças e adolescentes, ajudando a prevenir todas as formas de desnutrição, obesidade e outras doenças crônicas resultantes da má alimentação.

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