Alimentos Ultraprocessados e Câncer relacionado à Obesidade

Abordagem multinível para a prevenção e gestão da obesidade infantil
9 de junho de 2025

A literatura científica sugere que o consumo de ultraprocessado está associado ao risco de desenvolvimento de câncer e mortalidade relacionada a esse grupo de doenças. Considerando este cenário, uma revisão narrativa objetivou sintetizar as evidências recentes sobre os vínculos etiológicos entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de câncer relacionado à obesidade, integrando principais achados epidemiológicos para esclarecer esses riscos de saúde interconectados.

Características dos alimentos ultraprocessados, como a alta densidade energética, hiperpalatabilidade, níveis elevados de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio estão associadas ao aumento da prevalência de obesidade. Neste contexto, o manejo da obesidade se tornou uma estratégia para tratamento de pacientes oncológicos, visto que a obesidade está associada a risco aumentado para diferentes tipos de câncer, além do impacto nas taxas de sobrevida e risco de recidiva entre esses pacientes.

Dentre os mecanismos que relacionam a obesidade e câncer, pode-se destacar que o tecido adiposo desempenha um papel importante na metástase, carcinogênese e progressão tumoral. Além disso, a desregulação imunológica, metabolismo de ácidos graxos, remodelamento da matriz extracelular, desregulação hormonal, alterações na microbiota intestinal e inflamação crônica, são processos que podem impactar no desenvolvimento de neoplasias, a depender do tipo de câncer.

Fatores como baixa atividade física, tratamento inadequado, alterações hormonais, síndrome metabólica, também contribuem para que pacientes com obesidade apresentem piores desfechos em saúde. Pesquisas sugerem ainda que indivíduos inativos apresentam piores resultados em terapias convencionais, como complicações cirúrgicas e menor eficácia ao tratamento por radioterapia.

Em relação aos ultraprocessados, estudos indicam que sua alta ingestão está relacionada a maior risco de cânceres específicos, particularmente aqueles do trato digestivo e hormônio-dependentes, como colorretal, de cólon, câncer gástrico não cárdico e câncer de mama.

O consumo de ultraprocessados pode aumentar o risco de câncer devido às suas características obesogênicas e à presença de contaminantes e aditivos alimentares. Açúcares adicionados, gorduras e aditivos químicos presentes nos ultraprocessados contribuem para disfunções metabólicas, desregulação endócrina e desequilíbrios na microbiota intestinal, fatores conhecidos por promover a obesidade e a inflamação.

Dentre os ingredientes potencialmente carcinogênicos destes alimentos, pode-se destacar as gorduras trans, acrilamida, oxihalogenados, ácidos haloacéticos, aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Além disso, os ultraprocessados podem conter contaminantes indiretos oriundos de embalagens que interferem em vias hormonais, como o ftalato de di(2-etilhexila) (DEHP) e o bisfenol A (BPA), ambos disruptores endócrinos. Condições relacionadas à obesidade, como resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão e desequilíbrios hormonais, têm sido relacionadas à exposição a produtos químicos como BPA, ftalatos e seus análogos.

Evidências recentes apontam ainda para a influência dos ultraprocessados na disbiose intestinal e sua contribuição para carcinogênese associada à obesidade devido a inflamação crônica de baixo grau e endotoxemia (presença de endotoxinas no sangue, geralmente associada a uma resposta inflamatória sistêmica). Os emulsificantes podem contribuir com a permeabilidade do intestino, reduzir a diversidade da microbiota intestinal, promovendo inflamação e endotoxemia e aumentando a absorção de plastificantes e seus metabólitos que estão associados a prejuízos a microbiota.

Embora existam resultados contraditórios, atribuídos à falta de padronização dos estudos na classificação e análise dos ultraprocessados, as evidências atuais sugerem que os efeitos obesogênicos dos ultraprocessados, combinados à exposição a aditivos e poluentes potencialmente carcinogênicos resultantes do processamento industrial, podem aumentar o risco de diferentes tipos de câncer. Essas descobertas podem auxiliar de no desenvolvimento de políticas públicas e a avaliação de intervenções que visem reduzir a exposição dietética aos ultraprocessados.

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