Aproximadamente 51% da população com idade igual ou superior a 5 anos viverão com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) em 2035. Profissionais da área da saúde desempenharão um papel crucial no enfrentamento das comorbidades decorrentes do excesso de peso e dos fatores psicossociais que podem estar associados a essas comorbidades. Entretanto, pesquisas tem relatado a presença de crenças e atitudes negativas dos profissionais de saúde em relação às pessoas que vivem com excesso de peso, podendo comprometer o cuidado adequado para esta população.
O preconceito, definido como crenças, atitudes, julgamentos e suposições negativas sobre as pessoas que vivem com excesso de peso, pode ser explícito ou implícito e pode levar a comportamentos estigmatizantes. Sofrer estigma de peso por parte dos profissionais de saúde pode levar pessoas que vivem com excesso de peso a reduzir ou adiar a sua busca e adesão por tratamento. Portanto, há uma necessidade de enfrentar o preconceito em relação ao peso entre estudantes da área da saúde para garantir que as futuras gerações de profissionais de saúde estejam preparadas para fornecer um suporte imparcial às pessoas que vivem com sobrepeso e obesidade.
Estudos de intervenções tem utilizado estratégias como educação, evocação da empatia e aceitação do tamanho corporal para redução do viés de peso dos estudantes da área da saúde. Diante dessa literatura existente, um estudo de revisão sistemática e meta-análise explorou a eficácia das intervenções que visam reduzir o viés de peso em estudantes da área da saúde e os fatores que podem impactar o sucesso da intervenção.
A revisão seguiu a estrutura PICO (paciente, população, intervenção e desfecho) para desenvolver a pergunta e estratégia de busca. Utilizou-se as bases de dados MEDLINE, PsycINFO, CINAHL, ProQuest e Web of Science para a busca dos termos e os estudos foram incluídos desde o início das bases de dados até agosto de 2023. Dos 3463 artigos de periódicos e dissertações encontrados, 67 estudos atenderam aos critérios de inclusão com 35 estudos incluídos nas metanálises e 32 estudos incluídos na síntese narrativa (por apresentarem apenas o pós-teste e delineamentos qualitativos ou não forneceram dados necessários para meta-análise).
Dos estudos incluídos nesta revisão, 64 foram quantitativos e 3 qualitativos e dentre os estudos quantitativos, todos examinaram a eficácia das intervenções de viés de peso explícito (atitudes e crenças) e 13 examinaram vieses de peso explícito e implícito.
A metanálise encontrou que as intervenções tiveram um impacto positivo pequeno, porém significativo, para redução de viés de peso explícito dos estudantes. Contudo, não foi encontrado efeito significativo das intervenções no viés de peso implícito dos estudantes. Oito análises de subgrupos foram conduzidas para as metanálises, utilizando as características categóricas do estudo: área da saúde, tipo de intervenção (unidimensional ou multifacetada), referencial teórico, método de aplicação, tipo de aprendizagem (ativa ou passiva), categoria de intervenção (ex: educação, evocação da empatia), duração da intervenção, contato com uma pessoa com excesso de peso durante a intervenção e medida de desfecho. Todas as comparações de subgrupos não foram significativas e não conseguiram explicar a heterogeneidade observada. Além disso, não houve diferença nos efeitos da intervenção segundo o sexo dos participantes. A síntese narrativa corroborou os resultados da meta-análise. Os resultados indicam a necessidade de intervenções mais robustas.
Embora a redução do viés de peso explícito tenha sido pequena, este resultado indica que as tentativas de reduzir o viés explícito em relação ao peso dos estudantes da área da saúde são relevantes e significativas. O estudo sugere que o viés de peso implícito seja mais resistente à mudança em comparação ao viés de peso explícito. Acredita-se que o reforço de estereótipos sociais afeta o desenvolvimento de viés implícito e este é formado a partir de influências e impressões ao longo da vida e estão no subconsciente, por isso a dificuldade de o acessar e mudar. Assim, verdadeiras reduções no viés de peso implícito podem se originar a partir de uma mudança social em crenças e atitudes, o que pode levar anos para que uma mudança social notável aconteça.
É necessário que a comunicação dos profissionais de saúde seja centrada no paciente e que estes incluam os pacientes em todas as tomadas de decisões, reconheçam a dificuldade das mudanças nos hábitos de vida e evitem utilizar comunicações estereotipadas com pessoas que vivem com excesso de peso. Também é necessário aumentar a conscientização dos profissionais e estudantes da área da saúde sobre a natureza multifatorial da obesidade, incluindo determinantes que estejam totalmente ou parcialmente fora do controle do indivíduo.