A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas

No início de 2019 foi publicado o documento “A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas: relatório da comissão Lancet”, com o objetivo de recomendar ações abrangentes para lidar com a obesidade no contexto atual. A comissão sugere que as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas representam o principal desafio para os seres humanos, o meio ambiente e o nosso planeta. Essas pandemias interagem de forma simultânea representando a “Sindemia Global”, caracterizada por uma sinergia de pandemias que coexistem no tempo e no espaço, interagem entre si e compartilham fatores fundamentais que afetam a maioria das pessoas em todos os países e regiões do mundo.

A Sindemia Global traz custos sociais extensos, que impactam desproporcionalmente a população pobre e os países de renda baixa, com a perda do potencial humano, as desigualdades sociais, a ruptura social, os danos ambientais e a perda da biodiversidade. Os custos sociais são enormes e ofuscam os econômicos. Entretanto a obesidade afeta mais de 2 milhões de pessoas no mundo todo, sendo responsável por um custo estimado de aproximadamente 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Na Ásia e na África, a desnutrição custa 4 a 11% do PIB e as estimativas dos custos econômicos futuros das mudanças climáticas são de 5 a 10 % do PIB mundial, podendo exceder 10% do PIB em países de renda baixa.

O relatório aponta para a existência de uma “inércia política”, onde as respostas dos governos a obesidade, desnutrição e mudanças climáticas têm sido lentas e inadequadas, além destes serem tratados como problemas separados. Atualmente, a desnutrição está diminuindo muito lentamente, distante das metas globais, nenhum país conseguiu controlar a epidemia de obesidade e as respostas políticas abrangentes às ameaças das mudanças climáticas mal começaram.

Desnutrição, obesidade e fatores climáticos interagem e coexistem entre si. Os sistemas alimentares, por exemplo, não apenas impulsionam as pandemias de obesidade e de desnutrição, mas também geram de 25-30% das emissões de gases do efeito estufa, sendo a produção de gado responsável por mais da metade dessas emissões. Sistemas de transporte dominados por carros apoiam estilos de vida sedentários e geram entre 14-24% dos gases do efeito estufa. Paralelo a isso estão os frágeis sistemas de governança política, marcada por uma busca econômica pelo crescimento do PIB e por estratégias comerciais poderosas que estimulam o consumo excessivo. Já as mudanças climáticas aumentarão a desnutrição por meio do aumento da insegurança alimentar e nutricional resultante de eventos climáticos extremos, secas e mudanças na agricultura.

O documento descreve que para enfrentar seriamente a Sindemia Global será necessária uma ação com a finalidade de enfrentar os fatores societais, políticos, socioeconômicos e comerciais fundamentais, que seriam ações de trabalho duplo ou triplo porque podem influenciar múltiplas partes da sindemia de forma simultânea. Tais ações precisam acontecer local, nacional e globalmente e são essenciais para mudanças sistêmicas. Alguns exemplos dessas ações seriam guias alimentares sustentáveis, restrição das influências comerciais, redução do consumo de carne vermelha e mudanças no modo de transporte.

A comissão diz não ter qualquer ilusão de que a implementação dessas ações será de fácil implementação, mas um movimento social transformador, construído nos níveis local, nacional e global é necessário para vencer a inércia política descrita.

Vale a pena conferir o documento na íntegra. Clique aqui para acessar a versão original, em inglês, ou clique aqui para acessar a versão em português, traduzida pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC.