As diretrizes nutricionais de países são uma ferramenta importante para a promoção da saúde da população. Elas devem se basear nas evidências científicas mais recentes sobre a relação entre dieta e saúde e fornecer recomendações para prevenir Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) por meio da alimentação culturalmente condizente com a realidade do País. Ademais, podem servir como base para materiais de educação alimentar e nutricional e subsidiar programas e políticas públicas.
No Brasil, o Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB), 2ª edição, publicado em 2014, apresenta para a população recomendações baseadas em evidências e introduz a classificação NOVA, que classifica alimentos conforme a extensão e o propósito do processamento industrial. No entanto, os dados atuais de vigilância alimentar e nutricional sugerem que apenas uma parcela da população segue as recomendações do GAPB. Reconhecendo empecilhos para aplicação prática de diretrizes nutricionais, um estudo desenvolveu e refinou uma seleção de mensagens motivadoras para adesão a práticas saudáveis em adultos.
Uma abordagem sequencial, de cinco etapas e métodos mistos, determinada a priori, foi seguida para desenvolver e refinar mensagens que apoiem práticas consistentes com as recomendações do GAPB. As etapas foram: (1) extração de conteúdo, (2) análise de público, (3) contribuição de um painel de especialistas, (4) desenvolvimento e refinamento de mensagens, e (5) teste de validade de conteúdo. As mensagens foram elaboradas para serem aplicáveis a um amplo grupo demográfico e dirigidas a adultos que vivem em áreas urbanas.
O processo de extração de conteúdo levou à identificação 63 trechos do GAPB, organizados nos seguintes temas: Recomendações gerais para a escolha dos alimentos; Orientações sobre a combinação dos alimentos; O ato de comer e comensalidade; Obstáculos na adesão às recomendações.
A análise do público destacou as barreiras à alimentação saudável que incluíam: falta de tempo (para comer, para cozinhar), dificuldade de acesso a alimentos saudáveis, conveniência e marketing onipresente de alimentos ultraprocessados. Uma crença comum era de que os alimentos saudáveis não eram tão saborosos e uma alimentação saudável era considerada um sacrifício, além de que os papéis de gênero eram tradicionalmente definidos com os homens contribuindo financeiramente para a compra de alimentos e apenas cozinhando em ocasiões especiais ou quando desejavam algo específico.
Após considerar os resultados da análise de público, 20 dos 63 trechos do GAPB analisados pelo painel de especialistas foram identificados como prioritários para o desenvolvimento de mensagens. As mensagens foram organizadas em torno das atividades de planejamento de refeições, compras e preparo de alimentos, e a comensalidade, destacando-se a apresentação da classificação NOVA. Além dos ganhos em saúde, o desenvolvimento de mensagens que enfatizassem sustentabilidade ambiental, igualdade de gênero e economia de gastos também foi sugerido com base nas lições da análise do público.
Foram desenvolvidas 111 mensagens curtas e estruturadas para serem unilaterais, por meio de linguagem simples e clara, com ênfase inicial em informações primordiais, usavam uma linguagem simples e eram explícitas nas informações que transmitiam. Além disso, as mensagens eram apresentadas na voz ativa, com caráter de empatia, positividade e vantagem. Também eram focadas em objetivos e desenvolvimento de habilidades, processo auto-reflexivo sobre comportamentos, valorizando economia de tempo e / ou custos.
No final da validação de conteúdo e após a incorporação do feedback dos especialistas, um total de 40 mensagens foram finalizadas e testadas para aplicação com a população-alvo (Etapa 6 do estudo, relatada em artigo subsequente).
No referido estudo, as mensagens foram desenvolvidas para tornar o GAPB mais significativo e mais fácil de ser colocado em prática, tornando explícito o comportamento recomendado ao consumidor. Detalharam-se métodos que podem ser adaptados e replicados para o desenvolvimento de mensagens em outros contextos. Concluiu-se que a integração de métodos que permitem uma compreensão mais profunda das preocupações do consumidor, ao mesmo tempo que fornece orientação nutricional que os motiva a agir, é fundamental para a criação de mensagens de mudança de práticas. Como o próprio Guia aponta, existem barreiras para a adesão a suas recomendações, como o acesso físico e financeiro a alimentos, e também a informação. Este estudo pretendeu contribuir para a superação desta barreira.
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