Artigo “Indivíduos com obesidade e COVID‐19: Uma perspectiva global sobre a epidemiologia e as relações biológicas”

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Artigo “Alimentos ultraprocessados e transição nutricional: tendências globais, regionais e nacionais, transformações dos sistemas alimentares e impulsionadores da economia política”
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A prevalência de indivíduos com excesso de peso (sobrepeso e obesidade) está aumentando em todos os países do mundo, e quase todos os países apresentam uma prevalência de indivíduos com excesso de peso superior a 20%. A literatura também tem sugerido que o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) tem acompanhado um aumento da adiposidade central, representada pela circunferência da cintura, em todas as idades e que os países economicamente mais pobres são mais propensos ao desenvolvimento da obesidade, comparado aos países mais ricos economicamente.

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou a pandemia de COVID-19, infecção viral causada pela síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS‐CoV‐2). Para pessoas com COVID‐19, parece haver uma forte relação entre ser um indivíduo com sobrepeso ou obesidade e os riscos de hospitalização e necessidade tratamento em unidades de terapia intensiva (UTI).

Um recente estudo publicado no “Obesity Reviews” realizou uma revisão sistemática com meta-análise com o objetivo de analisar a relação entre indivíduos com obesidade e COVID-19. Foram incluídos 75 estudos, publicados em chinês e inglês, conduzidos entre Janeiro e Junho de 2020, envolvendo a um total de 399.461 indivíduos. Uma revisão sistemática sobre os mecanismos que relacionam a obesidade com a COVID-19 também foi apresentada no estudo.

A associação entre obesidade e COVID-19 foi avaliada em 20 estudos e, com exceção de dois, todos encontraram uma associação significativa entre indivíduos com obesidade e maior risco de COVID-19. Após meta-análise destes estudos, foi encontrado que a chance de indivíduos com obesidade terem testado positivo para COVID-19 era 46% maior do que entre aqueles que não tinham obesidade.

A relação entre indivíduos com obesidade e risco de hospitalização pela COVID-19 foi examinada em 19 estudos e todos mostraram uma prevalência significativamente maior de indivíduos com obesidade em pacientes hospitalizados do que em pacientes não hospitalizados ou na população em geral. Todos os estudos mostraram que, entre aqueles diagnosticados com COVID-19, os pacientes com obesidade tinham maior probabilidade de ser admitido em UTI. Ao agrupar os dados para meta-análise foi encontrado que os indivíduos com obesidade tiveram maiores chances de serem hospitalizados (113%) e admitidos na UTI 74%.

Ao avaliar o risco de mortalidade por COVID-19 em indivíduos com obesidade, o estudo encontrou que os indivíduos com obesidade eram mais propensos a terem resultados desfavoráveis, com um aumento de 48% das chances de morte.

Mas, afinal, porque os indivíduos com obesidade apresentam sérios riscos para a COVID-19?

Ser um indivíduo com obesidade está associado a vários fatores de risco subjacentes para COVID-19, como hipertensão, diabetes mellitus tipo 2, doença renal ou hepática crônica. É importante ressaltar que, apesar dos resultados deste estudo sugerirem uma maior gravidade da COVID-19 entre indivíduos com obesidade, os mecanismos responsáveis ainda permanecem desconhecidos, no entanto, o conhecimento de outras infecções virais e as evidências epidemiológicas oferecem algum entendimento sobre como a obesidade aumenta o risco de gravidade para a COVID-19.

As consequências fisiológicas da obesidade, como as disfunções metabólicas, deficiências imunológicas e estado inflamatório, podem prejudicar a resposta à infecção da COVID-19. Esses fatores também podem influenciar uma resposta à vacina em indivíduos com obesidade.

A pandemia de COVID-19 também aumentou o desemprego e à insegurança em relação à renda, além de levar a muitas mudanças no abastecimento de alimentos e no sistema alimentar, podendo ter impacto significativo sobre a desnutrição e sobre a insegurança alimentar em famílias de baixa renda.

Embora não tenhamos dados sobre as vendas de alimentos e bebidas ultraprocessados, muitos relatórios de organizações que monitoram compras de alimentos e relatórios de empresas globais sugerem que em países de renda alta e média o acesso a alimentos frescos, especialmente frutas e hortaliças, tem sido impactado devido a avarias em cadeias de abastecimento locais, e que a demanda por alimentos ultraprocessados ​​embalados aumentou, especialmente os prontos para consumo. Este fato pode ser justificado por estes alimentos requererem menos armazenamento, serem altamente palatáveis e relativamente baratos, entretanto os alimentos ultraprocessados ​​são os principais contribuintes para a obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

Além disso, o bloqueio e o medo do contato com o vírus provavelmente levarão ao aumento da inatividade física, o que atrelado ao maior consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de sobrepeso, obesidade e outras DCNT.

O artigo conclui que a pandemia da COVID-19 desafia enormemente todos os países. Nossos sistemas, instituições, saúde e bem-estar sentirão os impactos por muitos anos. A alta prevalência de indivíduos com obesidade exacerba a ameaça à saúde de todos, e os componentes do distanciamento econômico, social e de permanência em casa agravam os impactos. Precisaremos de soluções criativas rapidamente para prevenir padrões alimentares indesejáveis ​​e promover uma alimentação saudável, que é tão crítica para nossa saúde futura e para construir resiliência contra ameaças futuras.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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