Má nutrição em todas as suas formas e desigualdades sociais no Brasil

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No último mês, o periódico Public Health Nutrition (PHN) publicou um suplemento que reuniu artigos do tema “Má nutrição em todas as suas formas segundo riqueza, educação e etnia na América Latina: quem são os mais afetados?”. Compreender como a má nutrição (desnutrição, anemia e obesidade) são associadas com renda, nível de educação e raça/etnia pode apoiar a implementação de programas e políticas mais equitativas voltadas para a luta contínua contra a desnutrição e níveis crescentes de obesidade em países de baixa e média renda.

Dentre os artigos publicados neste suplemento, um deles teve como objetivo descrever sobre a má nutrição (desnutrição e excesso de peso) por renda, escolaridade e raça/etnia na população brasileira. O estudo utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre os anos de 2008 e 2009. Foram utilizados os dados referentes a todas as crianças com idade inferior a 5 anos, adolescentes de 11 a 19 anos e adultos de 20 a 49 anos, de ambos os sexos, totalizando 131.132 indivíduos e 47.945 domicílios.

O estado nutricional foi avaliado a partir do Índice de Massa Corporal (IMC) para adultos, enquanto para crianças e adolescentes foram utilizados os indicadores: escore Z de altura para idade, escore Z de peso para altura e escore Z de IMC para idade. Todas as classificações seguiram as recomendações da OMS para cada faixa etária, a fim de avaliar a má nutrição em suas diferentes formas (desnutrição e obesidade).

Para avaliação das condições sociais foram utilizadas características individuais como sexo, idade, renda familiar per capita (dividida em terços: baixo – renda per capita média de 174,54 reais; médio– renda per capita média de 467,61 reais; alto– renda per capita média de 1743,09 reais), nível de educação (a partir do ano de escolaridade: 0 a 6 anos – baixa escolaridade, 7 a 12 anos – média escolaridade, mais de 12 anos – alta escolaridade – para as crianças e adolescentes foram considerados os anos de escolaridade dos chefes de família e, para os adultos, os anos de escolaridade dos próprios homens ou mulheres) e raça/cor autorreferida (branca, negra, parda, asiática ou indígena).

Os resultados do estudo apontaram que indivíduos negros e pardos eram mais propensos a estar no terço mais baixo de renda familiar. Em crianças menores de 5 anos, a prevalência de sobrepeso foi de 10,1% e de obesidade de 7,2%. O déficit de estatura foi maior e o excesso de peso menor para as crianças cujo chefe da família tinha baixa escolaridade. A obesidade foi maior em crianças brancas, em comparação com crianças negras e pardas.

Nos adolescentes, a prevalência de excesso de peso em meninas e meninos foi de 14,7% e 15,4%, respectivamente. Os níveis de obesidade foram mais baixos em meninas e meninos de baixa renda. A prevalência de obesidade foi maior e a prevalência de baixa estatura foi menor em meninas e meninos brancos, em comparação com adolescentes pardos e negros, respectivamente.

O excesso de peso estava presente em 42,2% das mulheres e 47,9% dos homens adultos de 20 a 49 anos. As prevalências de excesso de peso e baixa estatura foram todas maiores em mulheres de baixa renda e baixa escolaridade. As prevalências de obesidade e de baixo peso foram maiores em mulheres negras, em comparação com mulheres pardas e brancas. Para os homens o cenário foi diferente, a prevalência de excesso de peso foi maior entre os de alta renda e alta escolaridade, enquanto o baixo peso foi maior entre os de baixa renda. Homens brancos apresentaram maior prevalência de excesso de peso em comparação com homens negros e pardos.

O artigo concluiu que no Brasil a prevalência de excesso de peso foi pelo menos três vezes maior que a desnutrição em crianças e adolescentes e pelo menos sete vezes maior em adultos. As taxas mais elevadas tanto de excesso de peso quanto de desnutrição foram encontradas em grupos de baixa renda com menor nível educacional e minorias raciais/étnicas, com exceção de homens adultos. As políticas públicas destinadas a reduzir a desnutrição foram bem-sucedidas e devem continuar, entretanto, a implementação de políticas para controlar e reduzir o excesso de peso continuam a ser um desafio.

Para acessar o suplemento, clique aqui.

E para ter acesso ao artigo na íntegra clique aqui: Malnutrition in all its forms and social inequalities in Brazil.

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