Atitudes de enfermeiros da equipe da Saúde da Família em relação à obesidade

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A obesidade é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como acúmulo de gordura corporal anormal ou excessiva.

Não obstante, os indivíduos com obesidade tendem a ser estigmatizados e estereotipados como pessoas preguiçosas, sem força de vontade, incompetentes, sem atrativos físicos e culpados pelo seu excesso de peso, diante da regulação moral dos corpos e comportamentos na sociedade de consumo. Isso pode suscetibilizá-los à depressão, ansiedade, insatisfação corporal e baixa autoestima.

Muitas vezes este preconceito e desvalorização são reiterados pelos próprios profissionais da área da saúde, comprometendo seu vínculo com os pacientes, assim como a adesão e resposta ao tratamento.

Um estudo recente avaliou as atitudes de enfermeiros em relação à obesidade. O estudo foi do tipo transversal, observacional, conduzido com enfermeiros das equipes de Saúde da Família da cidade de Blumenau – SC.

Participaram da pesquisa 42 enfermeiros, em sua maioria do sexo feminino (90,5%), com idade variando entre 27 e 65 anos. A maioria dos participantes relataram histórico de excesso de peso (73,8%), consideraram-se com sobrepeso/obesidade (61,9%) e foram classificados com sobrepeso (45,2%) e obesidade (23,8%) a partir do seu Índice de Massa Corporal, calculado na pesquisa.

As atitudes em relação à obesidade mais referidas pelos enfermeiros foram referentes a ‘controle de peso e culpa’ e ‘a maioria dos gordos compram muita besteira (junk foods)’. A culpabilização do sujeito com obesidade foi evidenciada neste estudo, corroborando com os achados na literatura, o que reforça uma visão de que o indivíduo está nessas condições por não conseguir se controlar, ser relaxado e preguiçoso.

A literatura tem apontado que a negatividade das atitudes dos médicos em relação a pacientes com obesidade é associada à magnitude do peso apresentado pelo paciente. Consequentemente, amplia-se o distanciamento na relação médico-paciente. Assim como médicos, em outros estudos, nutricionistas também apontaram a inatividade física como principal ‘causa’ da doença. A percepção dos enfermeiros do presente estudo não diferiu desta, uma vez que os mesmos relataram a atividade física como a estratégia mais utilizada por eles para a perda de peso; também apresentaram baixa concordância com os itens ‘quando pessoas gordas fazem exercício elas parecem ridículas’ e ‘a maioria das pessoas gordas é preguiçosa’, o que sugere a importância do conhecimento dos enfermeiros sobre atividade física e sua relação com a obesidade.

É discutido neste estudo como a falta de compreensão sobre a obesidade, em algumas narrativas reducionistas, na saúde e na sociedade, fomenta a ideia de que a obesidade é fruto da má alimentação e falta de exercícios físicos e de que a culpa é do indivíduo por estar nesta condição. Esta situação desconsidera os determinantes sociais, ambientais e comerciais da obesidade e afeta a autoimagem que o indivíduo constrói, além de prejudicar sua autoestima, autoconfiança, gerando sentimentos de culpa, vulnerabilidade, estresse e depressão.

O estudo conclui que é importante que as equipes de saúde entendam os mecanismos do estigma e estejam atentos para evitar a reprodução do mesmo no cotidiano. Propõe-se que os profissionais se sensibilizem com a complexidade da obesidade, para desenvolver um olhar mais humanizado e holístico, especialmente pelo fato de que as equipes da Saúde da Família são a porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Para acessar o artigo na íntegra, clique aqui.

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