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A baixa efetividade das intervenções centradas no modelo biomédico impõe a necessidade de implementar modelos assistenciais pautados na atenção integral à saúde e que consideram os múltiplos condicionantes do processo saúde/doença. A instituição do SUS, em 1990, impulsionou a reorientação do modelo assistencial na direção da atenção integral à saúde, com a consolidação da Estratégia Saúde da Família (ESF). A inserção da ESF em territórios de variadas complexidades sociais faz com que os profissionais estejam em contato com situações que demandam a interlocução com outras disciplinas, com vistas à ampliação do olhar sobre a saúde do indivíduo e sua família. Os sentidos da integralidade englobam: a articulação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), entre promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação e a busca pela abordagem integral à saúde por meio da escuta qualificada e acolhimento, bem como a sensibilização para condicionantes históricos, sociais, culturais do processo saúde-doença.

Um recente estudo analisou as características dos “modelos assistenciais” que fundamentam as ações de prevenção e controle da obesidade propostas nas políticas do SUS e referidas por profissionais que atuam na atenção básica, em municípios do Estado do Rio de Janeiro nas seguintes dimensões: organizativa, visando identificar princípios e diretrizes gerais para organização institucional; e técnico assistencial, a fim de identificar desafios para o cuidado integral em saúde.

Foram analisadas ações de prevenção e controle da obesidade nos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro no âmbito da atenção básica entre os anos de 2014 e 2018. Além da análise documental de políticas governamentais, os dados foram coletados a partir de entrevistas e grupos focais com profissionais e gestores da atenção básica e das Áreas Técnicas de Alimentação e Nutrição (ATAN) e pacientes do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro em acompanhamento nutricional de sobrepeso e obesidade. Os instrumentos de coleta de dados abordaram questões sobre as ações de prevenção e controle da obesidade, os desafios e as estratégias para sua implementação.

Os princípios e diretrizes que norteiam as propostas governamentais de atenção à pessoa com doença crônica e obesidade sinalizam a importância da integralidade, potencializada pela terapêutica multiprofissional compartilhada com o usuário. Os resultados do estudo também indicaram que a assistência em saúde no Estado do Rio de Janeiro decorre de um diagnóstico nutricional que não é precoce e que, ao contrário, sinaliza um quadro já instalado e, por vezes, avançado do problema.

Os profissionais de saúde (nutricionista, médico, enfermeiro) do Estado do Rio de Janeiro sinalizaram sua frustração diante da dificuldade de adesão e continuidade do tratamento da obesidade, acompanhado de um sentimento de impotência e despreparo para lidar com a complexidade das doenças crônicas/obesidade. Apesar de estes profissionais da saúde também reconhecerem que a obesidade é condicionada por múltiplos fatores (genéticos, ambientais, culturais, entre outros), eles sinalizam que a baixa adesão ao tratamento é fruto de uma dificuldade do indivíduo obeso em mudar seus hábitos alimentares, com uma perspectiva culpabilizadora dos indivíduos. A importância do psicólogo na equipe multiprofissional foi amplamente reiterada pelos profissionais do Estado do Rio de Janeiro, que reconhecem a dificuldade em lidar com os condicionantes emocionais da obesidade.

O estudo concluiu que as propostas governamentais analisadas pautam-se em princípios e diretrizes que visam orientar a um modelo assistencial baseado na integralidade, diante das múltiplas fragilidades do modelo biomédico. Frente aos desafios mencionados pelos profissionais de saúde, o estudo sugere que pode ser fundamental resgatar nos processos de formação e diálogo com os profissionais, alguns princípios e diretrizes pautados nos documentos como: o conceito de corresponsabilização entre profissional e usuário, que pode contribuir para evitar os extremos da culpabilização e/ou vitimização; a valorização de outros ganhos para além da perda de peso, que pode ressignificar a concepção de adesão ao tratamento e a atuação multiprofissional para que o conhecimento das diversas áreas contribuam para uma compressão contextualizada e multicausal do processo saúde/doença, visando à integralidade do cuidado.

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