Desafios para o manejo da obesidade no Sistema Único de Saúde: a visão dos profissionais de saúde

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A prevalência de sobrepeso e obesidade em todo o mundo não diminuiu, nem estabilizou nos últimos anos, sendo a causa mais importante de outras doenças não-transmissíveis. No mundo, em 2016, 1,9 bilhões de adultos estavam com excesso de peso e destes, mais de 650 milhões foram classificados com obesidade. No Brasil, em 2018, o percentual da população com obesidade representava 19,8%. Diante deste contexto, a linha de cuidado do sobrepeso e obesidade do Sistema Único de Saúde (SUS) foi redefinida pela Portaria 424/MS, representando um avanço na qualificação da atenção a estes indivíduos. Ela prevê assistência longitudinal e multiprofissional, que pressupõe a identificação do indivíduo com obesidade no território e sua estratificação de risco, reforçando a demanda por ações de vigilância alimentar e nutricional. Apesar de estes atendimentos serem universais e gratuitos no Brasil para todos os indivíduos com obesidade, a literatura tem mostrado que o aconselhamento para alimentação saudável, atividade física e/ou emagrecimento nem sempre é realizado em consultas de rotina. Neste contexto, um estudo publicado em 2020 teve como objetivo identificar as barreiras percebidas pelos profissionais de saúde no manejo da obesidade no SUS.

O estudo foi do tipo exploratório, transversal, realizado em julho de 2018. Dentre os profissionais inseridos no SUS, foram convidados a participar do estudo nutricionistas, profissionais de educação física, psicólogos, enfermeiros e médicos dos serviços de atenção primária e secundária, que são chaves para o manejo da obesidade. A pesquisa foi realizada online, por meio do Formulário do Google (Google Forms) e foram coletados os seguintes dados: sexo, idade, categoria dos profissionais de saúde, ambiente de trabalho e região geográfica do país. Para avaliar os desafios da rotina em oferecer cuidados de saúde para pessoas com obesidade foi utilizada uma escala de Likert de cinco pontos (completamente concordo, concordo parcialmente, não concordo nem discordo, discordo parcialmente e discordo totalmente) relacionados à percepção geral de gerenciamento da obesidade, estrutura e processo de trabalho. Os participantes também foram questionados sobre as abordagens que teriam maior dificuldade de desenvolver (atendimento individual, em grupo ou domiciliar).

A amostra incluiu 1.323 participantes. Destes, 45,0% eram nutricionistas, 37,6% enfermeiros e 16,9% eram profissionais de educação física, psicólogos ou médicos. A maioria dos entrevistados eram mulheres (90,2%) e se concentravam na região Sudeste (61,1%). As principais barreiras estruturais citadas pelos profissionais foram: alta demanda curativa (83,1%), alta demanda por atendimento individual (83,1%) e falta de estrutura física adequada (77,8%). Presença de outras condições de saúde, falta de apoio da família e da comunidade e baixa adesão dos usuários ao tratamento de obesidade foram as principais barreiras referentes ao processo de trabalho, citadas por mais de 80% dos profissionais. Mais de 40% dos profissionais deste estudo, particularmente enfermeiros, relataram dificuldades no diagnóstico nutricional de usuários com obesidade. Também foram destacadas a ausência ou insuficiente acesso a materiais didáticos e qualificação profissional, além da insuficiente abordagem multiprofissional e comunicação com outros serviços. Em relação às abordagens dos profissionais de saúde, o atendimento em grupo foi a abordagem mais difícil para nutricionistas e enfermeiros, enquanto os profissionais de educação física, psicólogos e médicos consideraram o atendimento domiciliar o mais difícil.

Estes resultados podem auxiliar no planejamento de políticas públicas e ações de saúde pública, sinalizando a importância da melhoria da estrutura física e do trabalho multiprofissional, além da ampliação das atividades de educação permanente e desenvolvimento de materiais para o manejo da obesidade no atendimento, individual ou em grupo, para múltiplas categorias profissionais.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

 

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