As cidades e suas intervenções para controle da obesidade
A obesidade se tornou um dos mais importantes desafios de saúde global do século 21. Mais da metade da população de 34 países, dentre os 36 que constituem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresenta sobrepeso, e ¼ destes, obesidade. A obesidade atinge de forma desproporcional grupos mais vulneráveis da sociedade e pode acarretar, a curto e longo prazo, consequências que reforçam ainda mais a desigualdade.
Um estudo publicado em 2021 teve como objetivo identificar sistematicamente intervenções no ambiente urbano para lidar com a obesidade, a partir de recomendações de formuladores de políticas e líderes políticos e do sistema de saúde que poderiam ser realizadas nas cidades. A revisão foi descrita com base na diretriz PRISMA – Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses, que se refere a um conjunto mínimo de itens com base em evidências para avaliar o impacto de uma intervenção de saúde.
Revisão sistemática aponta que intervenções para controle da obesidade infantil ocorrem em creches e escolas
As fontes usadas para pesquisa na base de dados foram heterogêneas, sem restrições com base no tipo de artigo, período ou localização geográfica, independentemente do desenho do estudo e da qualidade metodológica. Foram incluídos somente estudos na língua inglesa. Os descritores utilizados para busca de dados foram: redução da obesidade, redução do peso e / ou redução do IMC.
A pesquisa encontrou 42.137 estudos, dos quais 1.614 preencheram os critérios de inclusão e 96 foram codificadas como relacionadas à obesidade. Os 96 estudos, publicados entre 1997 e 2019, foram realizados em 36 cidades de 5 continentes e 13 destes não indicavam uma cidade específica. A maior proporção de publicações foi da América do Norte (59/96), principalmente dos EUA (56/96), na cidade de Nova York (23/96). Cerca de 25% (24/96) dos estudos incluídos relataram impacto na obesidade, peso ou IMC.
As intervenções para controle da obesidade observadas são uma combinação de abordagens educacionais, fiscais, regulatórias e ambientais. As mais frequentes, 28% (n=27), foram aquelas que visam lidar com a obesidade infantil em escolas e creches. As ações incluíam programas de educação e apoio sobre alimentação saudável e atividade física para crianças, professores, pais e cuidadores, com foco em restringir o fornecimento de alimentos considerados não saudáveis e aumentar a oferta de uma alimentação escolar de melhor qualidade nutricional e gratuita.
Londres, Amsterdã e Baltimore: cidades implementaram ações proibitivas de propaganda para reduzir a obesidade em grupos vulneráveis
Durante o ano de 2008, a cidade de Londres proibiu a abertura de novos estabelecimentos do tipo fast-food na cidade durante um ano. Além disso, Londres implementou proibições de publicidade de alimentos não saudáveis nos transportes públicos, assim como Amsterdã, que, para além disso, também proibiu patrocínio de alimentos e bebidas não saudáveis em eventos esportivos, que contava com mais de 1/4 do seu público constituído por crianças.
A cidade de Baltimore promoveu intervenções para melhorar a oferta e disponibilidade de produtos saudáveis, com foco em uma população específica, jovens afro-americanos com situação socioeconômica desfavorável e seus familiares.
As intervenções para controle da obesidade caracterizadas como programa de educação e apoio variaram muito o direcionamento e o número de pessoas foi limitado em algumas intervenções. Algumas cidades promoveram intervenções em dois ou mais temas simultaneamente.
No que se refere a ações que promovem uma mudança na infraestrutura física das cidades para promover a atividade física, a cidade de Oklahoma melhorou parques, calçadas, trilhas, ciclovias e instalações esportivas dos bairros com altas taxas de doenças cardíacas. Outras cidades promoveram estratégias de mesmo impacto, como Nebraska, com a instalação de bicicletários.
Estratégias proibitivas e mudanças na infraestrutura das cidades deram resultado positivo no controle à obesidade
Dentre os resultadosdos estudos, Nova York apresentou redução da obesidade de 5,5% entre 2006-2007 para 2010-2011, após estabelecer uma série de intervenções, assim como o Alasca, que teve um declínio de 5,4% no excesso de peso e obesidade em crianças entre2004 e 2014, através de intervenções em ambientes escolares e creches. Em Amsterdã, após adoção de abordagens sistêmicas houve redução do sobrepeso e obesidade em crianças de 21% para 18,5%e o excesso de peso em crianças entre 2012 e 2015 caiu 12%. Na Filadélfia, a redução foi de 6,5% na obesidade infantil, por meio de ações também no ambiente escolar, onde o maior declínio observado foi em crianças afro-americanas e asiáticas, se comparadas a brancas, sendo a única cidade a alcançar este resultado.
Desigualdade social, rede de apoio, oferta de alimentos saudáveis e estrutura das cidades são fatores que influenciam a obesidade
Já está bem estabelecido pela literatura que as pessoas mais ricas têm acesso a uma alimentação mais saudável do que as pessoas mais pobres, sendo compreensível o fato de cidades serem o foco de muitas intervenções para melhorar o acesso a alimentos saudáveis a grupos mais vulneráveis. O investimento em recursos pré existentes e o desenvolvimento de uma rede de apoio para o indivíduo parecem contribuir de melhor forma para a redução da obesidade. A epidemia de obesidade é resultante do ambiente em que vivemos. Por isso, as políticas e intervenções para controle da obesidade realizadas na cidade precisam considerar simultaneamente a saúde e o ambiente nos seus diferentes níveis, individual, comunitário e municipal.
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