Excesso de peso na adolescência e o consumo de refrigerantes
O excesso de peso é um grave problema de saúde pública, devido a sua elevada prevalência em todo o mundo, em todas as faixas etárias, inclusive na adolescência. O excesso de peso na adolescência pode levar a prejuízos à saúde na vida adulta, além de contribuir para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes, síndrome metabólica.
O consumo de bebidas açucaradas, como os refrigerantes, parece estar associado ao excesso de peso em adolescentes. Entretanto, os resultados e as relações de causalidade dos estudos que avaliaram a associação do consumo de refrigerantes com o excesso de peso na adolescência são controversos, fazendo-se necessário avaliar a exposição a grupos populacionais e categorias específicas do estado nutricional, já que o desfecho pode ser distinto em cada categoria, como: sexo, idade, e contexto social e cultural, a que público estudado está inserido. Nesse sentido, um estudo teve como objetivo verificar a associação entre excesso de peso corporal e consumo de refrigerante em adolescentes escolares segundo o sexo.
Estudo em Montes Claros investiga associação entre excesso de peso na adolescência e o consumo de refrigerantes
O estudo foi realizado com estudantes do ensino médio da zona urbana do município de Montes Claros, Minas Gerais. A cidade de Montes Claros tinha 38 unidades de escolas públicas da rede estadual com ensino médio, com 12.342 escolares matriculados no ano de 2017. O cálculo do tamanho amostral evidenciou um tamanho amostral de no mínimo 1.768 escolares. A seleção da amostra foi do tipo probabilística por conglomerados em dois estágios, sendo o primeiro constituído pelas escolas e o segundo pelas turmas das escolas selecionadas. A coleta de dados ocorreu entre maio de 2017 e março de 2018, em dias agendados em cada escola, com a utilização de um questionário autoaplicável. Foram incluídos alunos de ambos os sexos, com idade entre 14 e 19 anos, que concordaram em participar da pesquisa. Foram excluídos os participantes com os dados ausentes de peso e altura.
A variável desfecho do estudo foi o Índice de massa corporal (IMC), calculado de acordo com a altura e o peso autorreferidos pelos participantes. O IMC foi categorizado em adolescentes eutróficos e com excesso de peso, classificados em ≤ mediana e > mediana, a partir da distribuição do escore Z (zIMC). O consumo de refrigerante, variável de exposição principal do estudo, foi avaliado a partir da sua frequência de consumo semanal, variando de nunca a todos os dias da semana. Os adolescentes foram categorizados em dois grupos: consumo de refrigerante até um dia na semana e 2 ou mais dias na semana.
Mais da metade dos adolescentes consume refrigerantes em 2 ou mais dias da semana
Participaram do estudo 1.225 adolescentes, sendo 53,4% do sexo feminino. A proporção do consumo de refrigerante na frequência de 2 ou mais dias na semana foi de 54,3% (IC 95% =51,5-57,1) entre os participantes. A prevalência de excesso de peso foi de 9,6% (n=118), sendo que destes 53,4% eram do sexo feminino e 46,6% do sexo masculino.
Para os adolescentes eutróficos a mediana de IMC foi de -0,24 e para os adolescentes com excesso de peso a mediana foi 1,64. Na análise de associação entre zIMC e a frequência de consumo de refrigerantes, observou-se que entre os adolescentes do sexo masculino (p=0,900) e feminino (p=0,188) eutróficos não houve associação significativa.
Entre os adolescentes do sexo masculino com excesso de peso, o consumo de refrigerantes entre 2 ou mais dias da semana esteve associado a aumento na chance 2,18 vezes de estarem acima da mediana de zIMC, quando comparado aos adolescentes com consumo até um dia na semana. A associação permaneceu após o ajuste por idade. Já para os adolescentes do sexo feminino com excesso de peso não houve associação entre o consumo de refrigerantes e zIMC.
Estudantes do sexo masculino: quanto maior o consumo de refrigerantes, maior o excesso de peso na adolescência
Em resumo, foi encontrada associação positiva entre consumo de refrigerantes e as categorias mais altas de zIMC em adolescentes do sexo masculino. Os autores sugerem a implementação de estratégias capazes de diminuir a prevalência do excesso de peso na adolescência e o consumo de refrigerantes a fim de melhorar a qualidade da alimentação e reduzir a incidência de doenças crônicas. Ressalta-se que os programas de educação alimentar e nutricional devem pensar em como priorizar o consumo de outras bebidas, mas também deve-se regular a comercialização desses produtos nas escolas, com o objetivo de estimular o consumo de bebidas mais saudáveis nessa faixa etária.
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