Quais são os impactos econômicos da obesidade?
Entre 1975 e 2016, a prevalência de obesidade aumentou em todos os países do mundo. Os indivíduos com obesidade são significativamente mais propensos a usarem os serviços de saúde domiciliares, passarem por consultas ambulatoriais, utilizarem mais medicamentos, serem admitidos em hospital, serem submetidos a uma cirurgia e apresentam custos mais elevados de cuidados e internações hospitalares mais longas. Portanto, são evidentes os custos diretos de saúde associados ao tratamento de doenças relacionadas à obesidade. Os impactos econômicos da obesidade também incluem custos indiretos, resultantes da perda ou redução da produtividade e do capital humano.
Como serão os impactos econômicos da obesidade em 2060 no mundo?
A maioria dos estudos que avaliam os impactos econômicos da obesidade são realizados em países de alta renda e usam uma perspectiva do sistema de saúde ao invés de uma perspectiva da sociedade. Um estudo publicado em 2021 teve como objetivo estimar os impactos econômicos da obesidade atuais e futuros (2060) em oito países, na perspectiva da sociedade, usando uma metodologia que pode ser aplicada a diferentes contextos nacionais em todo o mundo.
Além de estimar os custos econômicos futuros da obesidade, foram desenvolvidos dois cenários hipotéticos para avaliar os impactos econômicos da obesidade nos mesmos. No primeiro cenário teria de uma redução de 5 pontos percentuais na prevalência de obesidade projetada (por sexo e faixa etária) e no segundo cenário foi estimada uma manutenção da prevalência de obesidade (por sexo e faixa etária) constante nos níveis de 2019.
Tratamento de doenças associadas, perda de produtividade e absenteísmo também estão entre os impactos econômicos da obesidade
No presente estudo, o termo ‘obesidade’ se referiu ao excesso de peso (IMC <= 25 kg/m2), que inclui sobrepeso e obesidade, nos oito países estudados: Austrália, Brasil, Índia, México, Arábia Saudita, África do Sul, Espanha e Tailândia. Estes países foram selecionados para representar diversos contextos geográficos e econômicos nacionais e com base na disponibilidade de dados. Foram incluídas 28 doenças relacionadas à obesidade e os impactos econômicos da obesidade foram divididos em custos diretos, como custos médicos e custos não médicos (especificamente, a viagem e o tempo necessário para receber cuidados), e custos indiretos, como a perda econômica por mortalidade prematura e perdas de produtividade por absenteísmo e presenteísmo.
Foram pesquisados no PubMed e Google Scholar estudos revisados por pares e literatura cinzenta sobre os impactos econômicos da obesidade em países de renda média e baixa, publicados entre 2010 e 2019. Os dados sobre a prevalência de obesidade e mortes atribuíveis à obesidade foram extraídos do “NCD Risk Factor Collaboration” (NCD-Risk) e estudo “Global Burden of Disease” (GBD), respectivamente. Os dados sobre as despesas nacionais de saúde foram extraídos do “Banco de dados de despesas globais de saúde” da Organização Mundial de Saúde (OMS). Dados de salários, PIB e taxas de emprego foram obtidos do banco de indicadores de desenvolvimento mundial do Banco Mundial. Parâmetros como população, expectativa de vida e taxas de mortalidade foram extraídos da Divisão de população das Nações Unidas. Os demais parâmetros utilizados nos modelos, como o custo médio de viagem, a média de consultas de pacientes internados e ambulatoriais, dias de internação, dias de absenteísmo e presenteísmo foram obtidos de estudos revisados por pares. Todos os custos foram estimados em dólares.
Número crescente de indivíduos com obesidade pode gerar impactos econômicos de até 4% do PIB
O estudo encontrou que, em 2019, os custos totais da obesidade representaram um impacto médio comparável a 1,76% do PIB dos oito países, variando de 0,8% a 2,4%. Para contextualizar, a taxa de crescimento anual do PIB em 2019 foi em média 1,6% entre os oito países, portanto, os impactos econômicos da obesidade podem ser fatores significativos de entrave no desenvolvimento econômico dos países. Neste sentido, entender a obesidade como uma questão coletiva e não individual é fundamental.
Entre 2020 e 2060, os custos da obesidade deverão dobrar na Espanha e aumentar 19 vezes na Índia. Para o percentual do PIB projetado, os custos totais em 2060 são estimados em uma média de 3,57% nos oito países, variando de 2,43% na Espanha a 4,88% na Tailândia. Nos cenários hipotéticos, se houver uma redução de 5 pontos percentuais na prevalência de obesidade em relação aos níveis projetados, foi estimada uma ligeira redução nos custos com a obesidade, com uma economia média anual de aproximadamente 5,18% em todos os oito países entre 2021 e 2060. Para o segundo cenário hipotético, a manutenção da prevalência de obesidade nos níveis de 2019, traduz-se em uma economia média anual de 13,18% em comparação com os custos de projeção para 2060.
Prevenir o excesso de peso como política é diminuir os impactos econômicos da obesidade na sociedade como um todo
O estudo concluiu que os impactos econômicos da obesidade são substanciais e atingem uma magnitude semelhante em contextos de países de alta renda e baixa renda. As estimativas dos impactos econômicos da obesidade que são limitados apenas aos custos diretos de saúde subestimam o efeito econômico total do sobrepeso e da obesidade uma vez que os resultados encontrados apontaram que os custos indiretos foram responsáveis por uma proporção maior do custo total (65% em média entre os países) em comparação com os custos diretos.
Este cenário ressalta a necessidade de implementação de medidas para reduzir os impactos econômicos da obesidade no futuro e isso não será alcançado se os atuais níveis de subinvestimento em prevenção e tratamento e em promoção da saúde, com foco nos determinantes sociais da obesidade, continuarem. Os esforços para abordar os impactos econômicos da obesidade não devem ser deixados para os indivíduos, mas focar nos fatores ambientais complexos que levam à obesidade.