Contextos alimentares, consumo alimentar e excesso de peso em adolescentes

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Contextos alimentares e sua influência no consumo alimentar em adolescentes

A literatura tem sugerido uma mudança negativa nos hábitos alimentares de adolescentes, com redução do consumo de frutas e hortaliças, aumento do consumo de refrigerantes e outras bebidas açucaradas. Além disso, o excesso de peso também tem aumentado nesta faixa etária. Em todo mundo, cerca de 20% dos adolescentes estavam com excesso de peso em 2016. No Brasil, em 2019, 19,4% dos estudantes de 15 a 17 anos apresentavam excesso de peso. Pular o café da manhã, comer fora de casa, comer em frente às telas ou enquanto estuda, e fazer refeições sem companhia são algumas das práticas alimentares vivenciadas por adolescentes que se relacionam a uma alimentação de pior qualidade, menor ingestão diária de vitaminas e minerais e maior Índice de Massa Corporal (IMC).

Diante deste cenário, um estudo publicado em 2021 teve como objetivo estimar associações entre contextos alimentares e consumo alimentar, de acordo com o processamento industrial dos alimentos, e indicadores de excesso de peso, em uma amostra de adolescentes brasileiros.

EVA – Estudo traz respostas sobre contextos alimentares e consumo alimentar

Os dados deste artigo provêm de um estudo transversal denominado estudo EVA-JF (Estilo de vida na adolescência – Juiz de Fora), realizado com uma amostra de adolescentes de 14 a 19 anos de ambos os sexos, que frequentam escolas públicas localizadas na zona urbana de Juiz de Fora-MG. Os adolescentes foram escolhidos de forma aleatória e a coleta ocorreu dentro das escolas (29 no total), sempre no período da manhã, entre maio de 2018 e maio de 2019, totalizando uma amostra final de 805 participantes.

Para avaliação dos contextos alimentares foi aplicado um questionário com 23 questões, cujos conteúdos foram extraídos do Guia Alimentar para a População Brasileira – 2 edição. Este apresentava três tópicos como aspectos-chaves: comer regularmente e com cuidado, comer em ambientes adequados e comer em companhia. A avaliação do consumo alimentar envolveu dois recordatórios alimentares de 24 horas, realizados em dias da semana não consecutivos. Após a conversão dos alimentos em gramas, o conjunto de dados foi associado a uma tabela de composição dos alimentos e classificado de acordo com a classificação NOVA que considera a extensão e o propósito do processamento industrial. Os itens alimentares foram divididos em três grupos: alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. As avaliações antropométricas e de composição corporal dos participantes do estudo foram realizadas por um único profissional de saúde. Dados sociodemográficos foram coletados como: faixa etária, ano letivo, raça/cor, situação de moradia, escolaridade e situação ocupacional da mãe.

Contextos alimentares foram classificados em adequados ou inadequados por refeição

Os participantes do estudo tinham em média 16,1 anos, 57,5% eram do sexo feminino e 64,8% se autorreferiram não brancos (pardos, pretos, indígenas ou amarelos). A ingestão energética média foi de 2.134,9kcal/dia, sendo 43,3% deste proveniente de alimentos in natura, minimamente processados ou ingredientes culinários, 11,0% de alimentos processados e 45,7% de alimentos ultraprocessados. Em relação aos contextos alimentares, foram identificados 3 agrupamentos de práticas: 1, intitulado “contextos alimentares adequados no café da manhã, almoço e jantar”; 2, “contexto alimentar inadequado no café da manhã”; e, 3, “contexto alimentar inadequado no jantar”. Aqueles indivíduos do agrupamento 1 consumiram um percentual maior de energia derivada de alimentos in natura, minimamente processados e ingredientes culinários, além de menor percentual de alimentos ultraprocessados.

Os adolescentes com sobrepeso representaram 28,3% da amostra e com obesidade, 9,5%. Aqueles no agrupamento 1 tinham valores médios mais baixos de peso e IMC, comparado com o agrupamento 3, assim como menor percentual de gordura corporal comparado com os agrupamentos 2 e 3. Em relação ao consumo de alimentos, o agrupamento 3 esteve associado a uma redução média de 3,61% no consumo de energia proveniente de alimentos in natura, minimamente processados e ingredientes culinários. O agrupamento 2 foi associado a uma redução média de 1,84% na ingestão energética proveniente de alimentos processados e os agrupamentos 2 e 3 estiveram associados a aumentos médios de 2,55% e 4,18%, respectivamente, no consumo energético proveniente de alimentos ultraprocessados. Em relação aos indicadores de peso, nos modelos ajustados, os agrupamentos 2 e 3 estiveram associados a aumentos no IMC, e o agrupamento 2 foi associado a um aumento na gordura corporal.

Refeições fora de casa, sozinhos ou em frente a telas não são contextos alimentares favoráveis

Os autores sugerem que a ligação entre o “contexto alimentar inadequado no jantar” e menor qualidade da alimentação se deu pelo hábito de pular o jantar ou substituí-lo por lanches não saudáveis a base de alimentos ultraprocessados. Os alimentos ultraprocessados também parecem favorecer o consumo em contextos inadequados, como fora de casa, em locais barulhentos, em frente a telas e sem companhia, por serem convenientes (pré-fabricados ou prontos para consumo, facilmente armazenados e transportados), vendidos a preços acessíveis, em alguns casos, e anunciados e comercializados de forma agressiva pelo marketing. A literatura também tem sugerido que pular o café da manhã, fazer refeições em frente a tela ou durante os estudos e fazê-las sem companhia está associado ao uma menor qualidade da alimentação e com a obesidade, corroborando com os achados do presente estudo. O estudo concluiu que contextos inadequados no café da manhã e no jantar foram associados a um menor consumo de alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários, maior consumo de alimentos ultraprocessados, maior IMC e maior percentual de gordura corporal em adolescentes brasileiros. Este estudo sugere a importância de uma abordagem de contextos alimentares na agenda das políticas públicas direcionadas ao ambiente escolar.

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