Ter um peso corporal elevado é socialmente estigmatizado nas culturas ocidentais. O estigma de peso refere-se à desvalorização social das pessoas pelo seu peso ou tamanho corporal e estes indivíduos são estereotipados como preguiçosos, sem autodisciplina e força de vontade, e são moralmente culpados. Embora os maus tratos baseados no peso estejam presentes em várias áreas da vida, as mídias sociais criaram um ambiente social particularmente perigoso para o estigma de peso prosperar uma vez que, além da proliferação de imagens e conteúdo que promovem ideias irreais de magreza, a natureza das mídias sociais alimentou a comunicação que envergonha ou estigmatiza diretamente os indivíduos por seu peso ou tamanho corporal.
Apesar de décadas de evidências documentando o estigma do peso e suas consequências prejudiciais à saúde, poucos esforços têm sido realizados para seu enfrentamento, destacando-se a incipiência de políticas públicas que reprimam a discriminação associada. A ausência de uma ação política permite que as desigualdades baseadas no peso persistam, além de reforçar as percepções errôneas da sociedade de que as pessoas são individualmente culpadas pelo peso corporal. Um artigo publicado em 2022 resumiu o status atual das políticas para lidar com os maus tratos relacionados ao peso, bem como evidências de apoio público a diferentes tipos de políticas que podem ser implementadas para reduzir o bullying e a discriminação.
A respeito do cenário jurídico atual, a discriminação pelo peso permanece legal em quase todos os lugares. Nos Estados Unidos, não existem leis federais para proteger as pessoas contra a discriminação pelo peso, entretanto, Michigan aprovou, em 1976, a incorporação do respeito ao peso corporal em seu estatuto de direitos civis, juntamente com o sexo e raça. Apenas algumas cidades espalhadas pelo país aprovaram leis locais para proibir a discriminação relacionada ao peso corporal, deixando a maioria dos americanos sem recurso legal neste âmbito. Os estados de Massachussetts, Flórida e Kentuchy já propuseram legislações estaduais para adicionar o peso como uma categoria protegida em seus atuais direitos civis, porém, essas leis ainda não foram aprovadas. Na ausência de um reconhecimento legal, algumas pessoas buscam proteção sob a “Lei dos Americanos com Deficiência (ADA)”, destinada a proteger as pessoas com deficiência de sofrer discriminação, a qual inclui a “obesidade grave” como uma deficiência. Entretanto, classificar a obesidade como uma deficiência pode amplificar o estigma.
Para crianças e adolescentes, o estigma do peso é frequentemente vivenciado como bullying e apesar das evidências acerca de sua alta prevalência e consequências deletérias para os jovens, as políticas continuam inadequadas. Embora os Estados Unidos tenham aprovado uma lei anti-bullying, apenas em três estados (Nova York, New Hampshire e Maine) o peso corporal está na lista de características que colocam os jovens em risco de bullying.
O apoio público é uma força motriz das mudanças políticas, influenciando legisladores. A literatura tem mostrado que, nos Estados Unidos, houve um aumento do apoio público, de 2010 a 2015, especialmente (80%) para leis que proíbem discriminação de peso no local de trabalho e que adicionam peso corporal como uma classe protegida em direitos civis existentes. Um menor apoio público tem se direcionado ao apoio a legislações que estenderiam as proteções de deficiência para pessoas com obesidade. Em geral, um maior apoio foi encontrado por mulheres, indivíduos com maior peso corporal e aqueles de orientação política liberal. Um elevado nível de apoio público às políticas para lidar com bullying relacionado ao peso de jovens também tem sido encontrado na literatura, tanto nos Estados Unidos como em outros países.
Embora haja visões diferentes em relação ao peso e à saúde, ou às palavras e terminologias usadas para se referir a um peso corporal mais elevado, há um consenso de que pessoas de todos os tipos de corpos devem ter oportunidades iguais, merecem ser tratadas com respeito e dignidade, e que o estigma do peso é uma injustiça social que deve ser erradicada. Essa compreensão coletiva e o reconhecimento de injustiça são fundamentais para lutar por ações políticas necessárias para legitimar e eliminar essa forma de estigma que permanece tão persistente e prejudicial na sociedade.
As mídias sociais são muitas vezes vistas como uma fonte prejudicial de desinformação com imagens e vídeos que promovem a vergonha à gordura e o estigma do peso, reforçando estereótipos negativos baseados no peso, idealizando a magreza, incentivando a alimentação desordenada e favorecendo transtornos alimentares. Por outro lado, as plataformas de mídias sociais podem ser uma ferramenta potencial para aumentar a conscientização pública sobre as desigualdades baseadas no peso e chamar a atenção para o estigma, trazendo visibilidade ao público e a formuladores de políticas sobre a necessidade de coibição de maus tratos baseados no peso e no tamanho corporal.
As políticas públicas que proíbem a discriminação baseada no peso e o bullying são extremamente importantes e ainda são incipientes. Apesar do cenário atual jurídico, o apoio público está presente para várias medidas diferentes que podem reduzir o estigma do peso. As mídias sociais podem ser oportunas para aumentar a conscientização do público, ampliar as narrativas que abraçam a diversidade corporal e promover um ativismo mais amplo para as políticas públicas.
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Excelente artigo. Muito didático e bem detalhado. parabéns!
Excelente artigo. Muito didático e bem detalhado. parabéns!