Ambiente obesogênico da vizinhança e risco cardiometabólico em crianças brasileiras

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Ambientes obesogênicos são aqueles cujas condições favorecem escolhas de vida não saudáveis, como aqueles com amplo acesso a alimentos não saudáveis, níveis mais elevados de criminalidade, menor condição socioeconômica e menor acesso a áreas verdes. Em contrapartida, ambientes leptogênicos são caracterizados por possuírem melhor acesso físico e financeiro a alimentos saudáveis, maior possibilidade de realizar caminhadas, acesso a área verde e instalações para lazer e/ou atividade física.

Evidências tem mostrado que ambientes obesogênicos da vizinhança, ou seja, da área onde as pessoas vivem, estão positivamente associados ao maior risco cardiometabólico em crianças.  Além disso, determinantes individuais e familiares, como o consumo de alimentos ultraprocessados das crianças e a obesidade dos pais, também estão positivamente associados ao maior risco cardiometabólico entre crianças.

Nesse contexto, somado ao alarmante aumento da prevalência da obesidade infantil, um estudo desenvolvido em Minas Gerais teve como objetivo investigar a associação entre os ambientes obesogênico e leptogênico da vizinhança com o risco cardiometabólico de escolares, bem como o potencial papel mediador do Índice de Massa Corpora (IMC) materno e do consumo de alimentos ultraprocessados pela criança.

O estudo foi realizado em Viçosa (MG) e o ambiente da vizinhança foi classificado em obesogênico ou leptogênico. Aqueles com maior densidade de estabelecimentos que comercializavam prioritariamente alimentos ultraprocessados, de acidentes de transito e de criminalidade foram classificados como ambiente obesogênico enquanto aqueles com maior possibilidade de realizar caminhada, maior densidade de espaços públicos para lazer e/ou atividade física, espaço verde e elevada renda do bairro, foram considerados ambiente leptogênico.

O risco cardiometabólico foi avaliado através da circunferência da cintura (CC), pressão arterial e exames bioquímicos. O consumo de ultraprocessados foi avaliado por meio da aplicação de três recordatórios alimentares de 24 horas e foram coletados dados de peso e altura das mães para o cálculo do IMC.

Foram avaliadas 367 crianças, entre 8 e 9 anos de idade, sendo 52,8% do sexo feminino. O estudo encontrou que o ambiente obesogênico da vizinhança teve uma associação significativa com o “alto risco metabólico” da criança, mediado pelo IMC da mãe, enquanto o ambiente leptogênico não teve associação direta ou inversa com o risco cardiometabólico da criança.

Sugere-se, então, que a promoção de ambientes urbanos que proporcionem oportunidades para modos de vida saudáveis pode ser um passo importante para prevenir e/ou reduzir o risco cardiometabólico e comorbidades associadas tanto em crianças como em suas mães. Este estudo reforça evidências para o desenvolvimento de políticas públicas com o objetivo de favorecer ambientes leptogênicos.

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