Com o aumento da obesidade mórbida (IMC ≥ 40 kg/m2) na população brasileira, é crescente a demanda por cirurgias bariátricas. Esta é uma intervenção considerada eficaz e com bom custo-benefício, principalmente para indivíduos com comorbidades associadas, como diabetes e hipertensão.
O Brasil realiza cerca de 17% do total de cirurgias bariátricas no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Cerca de 90% desses procedimentos são realizados na rede privada de saúde, enquanto 75% da população elegível para cirurgia depende do sistema público de saúde, o SUS. Apesar da tendência de aumento na realização de cirurgias bariátricas pelo SUS, a oferta ainda é escassa, com limitação de recursos e com muitos hospitais públicos especializados ainda não realizando o número mínimo de cirurgias estabelecido pelo Ministério da Saúde (96 por ano ou em média 8 por mês).
Um estudo conduzido no Brasil teve como objetivo analisar os fatores socioeconômicos, demográficos e de gestão em saúde associados às taxas de cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS nas unidades federativas do Brasil entre 2008 e 2018 e se estes fatores explicam as diferenças regionais observadas em cada unidade federativa, considerando a quantidade dessas cirurgias.
A taxa média de cirurgias bariátricas feitas pelo SUS foi de 2,44 por 100 mil habitantes, variando de 0 (nenhuma cirurgia) a 58,46 por 100 mil (registrado no Paraná em 2018). Os dados indicam a existência de desigualdades na realização desse procedimento entre as áreas e durante o período analisado. As regiões Sul e Sudeste destacam-se na realização do procedimento, enquanto a região Norte possui menor número de cirurgias. Estados como Acre, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Goiás não realizaram cirurgia bariátrica pelo SUS em 2008 e passaram a implementar em 2018. Estados como Rondônia, Amazonas, Roraima, Amapá e Piauí não registraram nenhuma cirurgia bariátrica pública durante todo o período estudado.
O estudo destaca que o aumento no nível econômico dos estados está associado à redução de cirurgias bariátricas, o que pode ser explicado pelas ações estratégicas de prevenção da obesidade serem mais adotadas nas áreas mais ricas. A média de anos de estudo da população dos estados também se associou negativamente à realização de cirurgias bariátricas pelo SUS, uma vez que níveis mais baixos de escolaridade podem ser fator de risco para a obesidade, principalmente para as mulheres, público que mais procura pelos procedimentos ofertados pelo SUS.
A expectativa de vida exerceu impacto positivo e significativo sobre o índice de cirurgias bariátricas nas unidades federativas brasileiras, entre 2008 e 2018. Conforme a população envelhece, mais exige medidas de cuidados com a saúde e bem-estar, e isso pode implicar no aumento da demanda por cirurgias bariátricas.
O estudo destaca que ter maior cobertura de equipes de saúde da família contribuiu para a redução das taxas de cirurgias bariátricas nas unidades federativas. Esse achado reforça a importância dessa estratégia como política pública para a prevenção e controle dos índices de obesidade mórbida no país. Além disso, a taxa de cirurgiões do aparelho digestivo e a taxa de hospitais credenciados na assistência de alta complexidade nas unidades federativas tem impacto positivo sobre o índice de cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS. A maior contratação, valorização e treinamento desses profissionais é fundamental para a oferta do procedimento pelo SUS e para minimizar o problema da obesidade mórbida no país, e também para ampliar a oferta do procedimento, particularmente nas regiões menos assistidas.
Por fim, destaca-se a importância de fortalecer e expandir as equipes de saúde na prevenção e tratamento da obesidade, e a ampliação do credenciamento de hospitais da alta complexidade, melhorando o financiamento e uso dos recursos, para que esses procedimentos sejam realizados em nível estadual e municipal, sobretudo nas unidades federativas onde a oferta do procedimento ainda é baixa ou inexistente.