Tendência da obesidade severa entre 2006 e 2021

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como tendo obesidade indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC)  30 kg/m2 e obesidade grave indivíduos com IMC  40 kg/m2. A obesidade grave aumenta em maior proporção, quando comparada aos demais graus de obesidade, o risco de morbidade e mortalidade, pois está associada a doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, diabetes mellitus tipo 2, doenças metabólicas e neoplásicas, doenças ortopédicas, entre outras. Ainda, influencia negativamente na capacidade funcional do indivíduo, diminuindo a qualidade e a expectativa de vida.

Em 2017, o IMC elevado ( 25 kg/m2) contribuiu para 34,1 milhões de mortes e para que 1,2 bilhão de indivíduos tivessem invalidez proveniente da obesidade. Aproximadamente um quinto dos anos de vida ajustados por incapacidade evitáveis associados a doenças não transmissíveis (DCNT) pode ser atribuído ao alto IMC, um dos principais fatores de risco para DCNT.

A projeção para os próximos 10 anos é que a incapacidade atribuída à obesidade aumente em 39,8%, com aumento maior previsto em mulheres (41,3%) do que em homens (38,4%). Já o prognóstico para a mortalidade relacionada à obesidade prevê um aumento de 42,7% de 2020 a 2030, resultando em um aumento global de 5.185.364 para 7.397.615 casos, com um aumento maior esperado em mulheres (43,8%) do que em homens (41,5%).

Além do efeito deletério à saúde, a obesidade impacta em recursos diretos e indiretos relacionados a saúde.  Os custos diretos incluem despesas médicas para indivíduos com obesidade e complicações por doenças associadas, bem como custos de transporte até as consultas e tratamentos médicos. Os custos indiretos abrangem perdas de produtividade devido a problemas de saúde e mortalidade prematura. No Brasil, o gasto com sobrepeso e obesidade no ano de 2019 foi de aproximadamente US$ 39 bilhões.

Um estudo observacional de série temporal com dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) teve como objetivo analisar a tendência da obesidade grave nas capitais dos estados brasileiros e no Distrito Federal, no período de 2006 a 2021. No total, 778.445 indivíduos foram incluídos no estudo (38,2% eram homens e 61,8% eram mulheres).

A prevalência de obesidade grave aumentou de 1,1% em 2006 para 1,9% em 2021. A variação percentual média anual indica tendência ascendente no período (variação anual: 4,7%; IC 95%: 3,8;5,7). Ao estratificar a tendência da obesidade grave por sexo, observou-se tendência ascendente significativa para o sexo feminino (variação anual: 4,3%; IC 95%: 1,9;6,8). Houve uma tendência significativa de aumento para todas as faixas etárias, cores de pele e níveis de escolaridade. No entanto, as faixas etárias mais altas e com menor escolaridade apresentaram menor variação anual. Ao estratificar a tendência de obesidade grave por região geográfica, foram observadas variações anuais mais elevadas para o Sudeste (variação anual: 4,6%; IC 95%: 2,1;7,2), Nordeste (4,4%; IC 95%: 3,3;5,5) e Centro-Oeste (4,0%; IC 95%: 1,3;6,9). A região Norte foi a única que não apresentou tendência de alta significativa.

O aumento mais significativo da obesidade feminina pode estar relacionado a diferenças nos padrões de consumo alimentar, gasto energético e questões de gênero. Em relação a classe social, segundo o Estudo Latino-Americano de Saúde e Nutrição, indivíduos de baixa renda consomem menos alimentos in natura ou minimamente processados em comparação com aqueles de maior renda.

Políticas governamentais para aumentar o consumo de alimentos saudáveis vêm sendo implementadas nos últimos anos, por meio do Ministério da Saúde, como a rotulagem obrigatória de alimentos, acordos com a indústria para eliminar gorduras trans e reduzir o sal em alimentos processados e ultraprocessados, além de a definição e respectivas recomendações publicadas no Guia Alimentar para a População Brasileira 2014. No entanto, a alta frequência de substituição de refeições por lanches e a alta prevalência de consumo de alimentos ultraprocessados reforçam a importância de avançar em outras ações e políticas como entender a relação do preço de alimentos ultraprocessados com o sobrepeso e obesidade.

Apesar do aumento das tendências de obesidade em geral e grave ocorrendo em todo o Brasil, as diferenças regionais são notórias principalmente pelo fato do Brasil ser um país com uma elevada diversidade socioeconômica e cultural. Assim, entender os motivadores dessas diferenças regionais pode ajudar a orientar estratégias de intervenção mais promissoras.

Diferentes intervenções vêm sendo utilizadas ao longo dos anos como estratégias de enfrentamento contra a obesidade. Dentre elas, cirurgia bariátrica, intervenções medicamentosas e atendimento ambulatorial individualizado. No entanto, embora essas medidas tenham se mostrado eficazes no nível individual, outras intervenções de saúde com enfoque socioambiental voltadas para a redução dos desertos alimentares, por meio da articulação intersetorial, parecem fortalecer a perspectiva de garantir o acesso à alimentação adequada, saudável e sustentável em maior escala do que as medidas individuais.

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