Crianças em todo o mundo consomem menos frutas e hortaliças que o recomendado, e cerca de dois terços das calorias ingeridas por crianças são provenientes de alimentos preparados em casa. Uma meta-análise encontrou que uma refeição familiar mais longa foi associada a uma melhor saúde nutricional de crianças, apesar de refeições mais longas estarem relacionadas com um maior consumo de alimentos. Assim, aumentar a duração das refeições familiares pode aumentar a exposição e o consumo de alimentos saudáveis, além de indiretamente afetar o comportamento alimentar de crianças com a atmosfera positiva, levando a uma melhor qualidade nutricional da alimentação.
O presente artigo é um ensaio clínico aleatorizado que objetivou examinar o efeito do prolongamento da duração de refeições em família sobre o consumo de frutas e hortaliças em crianças.
Participaram do estudo duplas de pais e filhos alemães, sendo 1 pai/mãe e 1 filho com idade entre 6 e 11 anos. As crianças não deviam seguir nenhuma uma dieta especial e nem ter alergias alimentares, e os pais participantes deviam ser o membro da família responsável por pelo menos metade do planejamento e preparação dos alimentos.
Primeiro, os pais preencheram uma pré-avaliação online e depois foram convidados ao laboratório para 2 jantares com características da alimentação alemã. Na condição regular, os participantes tiveram a mesma quantidade de tempo para terminar a refeição que foi relatada no questionário (duração média 20,83 minutos). Na condição longa, cada dupla teve 50% mais tempo que a condição regular (em média, 10 minutos a mais). Eles receberam pão fatiado, queijos e frios e pedaços pequenos de frutas e hortaliças. No final da refeição, a mesa foi retirada e foi oferecido pudim de chocolate ou iogurte de frutas e biscoitos. Água e 1 bebida açucarada foram fornecidas durante a refeição. Todos os alimentos e bebidas servidos refletiam as preferências da criança conforme relatado na pré-avaliação online. Os participantes foram orientados a não comer nada nas 2 horas anteriores à vinda ao laboratório.
Cinquenta duplas de pais e filhos participaram do estudo, sendo 36 mães e 14 pais, 25 meninas e 25 meninos. As crianças consumiram mais pedaços de frutas e hortaliças nas refeições mais longas que nas regulares. E consumiram mais água e bebida açucarada na refeição mais longa. Os autores repetiram as análises somente com as crianças cujos pais não concluíram o ensino médio e os resultados permaneceram os mesmos.
As crianças já haviam comido mais pedaços de hortaliças quando seu horário regular de refeições acabou na condição mais longa, em comparação com a condição regular. Para as frutas, as crianças comeram menos pedaços de fruta ao final de suas refeições regulares na condição mais longa versus regular. Como o consumo de frutas foi maior na condição mais longa, este resultado sugere que a fruta adicional foi consumida durante o tempo extra.
Além disso, o tempo gasto em comunicação interpessoal positiva não diferiu entre as condições regulares e mais longas. Da mesma forma, não houve diferença na autoavaliação da atmosfera entre as duas condições. A taxa de alimentação das crianças (mordidas por minuto) foi significativamente menor no mais longo do que no regular. Crianças relataram saciedade significativamente maior na condição mais longa do que na regular. No entanto, o consumo de sobremesa em quilocalorias não foi menor na condição longa.
Os resultados deste ensaio clínico sugerem que aumentar a duração das refeições em família em aproximadamente 10 minutos podem melhorar as dietas e o comportamento alimentar das crianças. Refeições familiares mais longas foram associadas a uma taxa de alimentação mais lenta, aumento da saciedade e menor risco de obesidade, visto que o aumento da saciedade gera uma redução no hábito de lanchar entre as refeições.
No entanto, estudos adicionais devem examinar os efeitos de refeições mais longas em amostras mais diversas e em intervalos de tempo mais longos. Se os efeitos dessa intervenção simples, barata e de baixo limiar se mostrarem estáveis ao longo do tempo, esta estratégia poderia contribuir para um grande problema de saúde pública, a obesidade infantil.