Efeito de intervenção sobre consumo de alimentos ultraprocessados e peso corporal

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Dietas a base de alimentos ultraprocessados contribuem para ingestão excessiva de calorias, aumento no peso corporal e aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.  A obesidade tornou-se uma epidemia global, afetando mais de 1 bilhão de pessoas. O consumo de alimentos ultraprocessados têm contribuído para o crescimento da obesidade e evidências científicas vêm relatando a associação entre o consumo de ultraprocessados e o maior índice de massa corporal (IMC). Apesar disso, poucos estudos têm explorado o papel do consumo de ultraprocessados e as variações no peso corporal em usuários dos serviços públicos de saúde, especialmente na Atenção Primária à Saúde (APS), espaço estratégico para ações de promoção da saúde.

Diante disso, este estudo teve como objetivo avaliar a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e a mudança no peso corporal após a participação em intervenção nutricional para promover o consumo de frutas e hortaliças entre os usuários da APS em Belo Horizonte, Brasil.

A pesquisa foi um ensaio comunitário controlado aleatorizado, conduzido em 18 unidades do Programa Academia da Saúde (PAS), selecionadas aleatoriamente entre as nove regionais administrativas da cidade. As unidades foram divididas entre grupo controle (GC; n=9) e grupo intervenção (GI; n=9), contemplando áreas de média e alta vulnerabilidade social. Foram incluídos todos os usuários com 20 anos ou mais que participavam das atividades físicas do PAS, com exceção de mulheres grávidas e pessoas com comprometimento cognitivo.

A coleta de dados ocorreu em dois momentos: no início do estudo (M0) e após 12 meses (M1), por meio de entrevistas presenciais e avaliações do peso corporal. Aplicou-se questionários para coleta de dados sociodemográficos, autopercepção de saúde, prática de atividade física, tentativas de perda de peso, tempo de participação no PAS, além de avaliação do consumo alimentar por meio de dois recordatórios alimentares de 24 horas. Os participantes relataram alimentos e bebidas consumidos no dia anterior, com respectivas quantidades e formas de preparo. Posteriormente, esses alimentos foram classificados segundo a classificação Nova, para identificação dos alimentos ultraprocessados.

A intervenção nutricional coletiva teve duração de 7 meses e foi planejada por uma equipe interdisciplinar, com foco no estímulo ao maior consumo de frutas e hortaliças, quando confrontados com obstáculos (autoeficácia) e também para aumentar a conscientização sobre os benefícios de uma dieta saudável, minimizando os fatores contra a mudança (equilíbrio decisório), e no estímulo à redução de ultraprocessados. Os participantes foram agrupados em subgrupos conforme o nível do consumo de frutas e hortaliças e seu estágio de prontidão para mudança de comportamento alimentar, com base no modelo transteórico (pré-ação, preparação e ação). As intervenções envolveram a realização de atividades como oficinas, sessões educativas, envio de mensagens motivacionais, ligações telefônicas, atividades baseadas no ambiente (como filmes e competições culinárias), painéis educativos e distribuição de materiais informativos. Os temas abordaram porções de alimentos, informações nutricionais, obstáculos para o consumo de frutas e hortaliças e outros.

Foram incluídos 3.414 participantes, 1.931 no grupos de controle e 1.483 no grupo intervenção. Destes, 88,1% era do sexo feminino, com idade média de 56,7 anos, 7,2 anos de escolaridade e 19,7 meses de participação no PAS. Mais da metade (61%) dos participantes relatou tentativa de perda de peso recente.

A contribuição energética média de ultraprocessados entre os 25% da população com maior consumo (quarto quarto de consumo) na linha de base (M0) foi de 47,7% vs. 9,7% entre os 25% com menor consumo (primeiro quarto de consumo), sem diferenças entre os participantes em ambos os grupos.

Em relação a variação no peso após 12 meses, os indivíduos com maior consumo de ultraprocessados, apresentaram variação positiva no peso, média de 0,178 kg, com diferença entre os grupos (GC = −0,096 kg vs. GI = 0,531 kg). Após realizar ajustes e comparar com os indivíduos com menor consumo, todos os outros apresentaram variações positivas de peso, que foram: 0,363 Kg (segundo quarto de consumo); 0,467 Kg (terceiro quarto) e 0,389 Kg (quarto quarto), sem diferença entre o GC e o GI.

Os resultados mostram que o maior consumo de ultraprocessados no início do estudo foi associado ao ganho de peso entre usuários do programa de promoção da saúde do SUS após os 12 meses de acompanhamento e sem diferenças no ganho de peso de acordo com a participação na intervenção nutricional. Esses resultados se somam a outras evidências que têm mostrado que o consumo de ultraprocessado está associado ao ganho de peso corporal. Apesar da intervenção nutricional não ter impactado na redução do peso corporal, diversos estudos têm ressaltado a importância das intervenções nutricionais, especialmente nos serviços de saúde, para a promoção e manutenção da saúde. Além disso, políticas públicas devem enfrentar os desafios impostos pela ampla disponibilidade e apelo de marketing dos ultraprocessados, contribuindo para ambientes que favoreçam o consumo de alimentos saudáveis como frutas e hortaliças.

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