Posição socioeconômica e excesso de peso na América Latina: Uma revisão sistemática

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10 de setembro de 2024

A América Latina tem passado por um rápido processo de urbanização que aumenta as desigualdades em saúde, levando a disparidades nas taxas de morbimortalidade entre grupos de diferentes níveis socioeconômicos. A urbanização está associada à adoção de comportamentos não saudáveis, como estilos de vida sedentários e dietas ricas em alimentos ultraprocessados. Pesquisas anteriores sugerem que tais comportamentos são adotados primeiro por indivíduos com alto nível socioeconômico. No entanto, tem sido observada uma reversão do gradiente social, com taxas de obesidade aumentando mais rapidamente entre grupos de menor nível socioeconômico.

Diante deste cenário, foi realizado um estudo revisão sistemática com o objetivo sintetizar as evidências sobre a direção das associações entre posição socioeconômica, pré-obesidade e obesidade entre adultos latino-americanos que vivem em áreas urbanas.

Para tal, foram coletados estudos publicados de julho de 2017 até maio de 2023 em duas bases de dados. Fizeram parte do estudo 31 artigos que continham informações de adultos que vivem em cidades latino-americanas, informações sobre posição socioeconômica (escolaridade, renda ou indicadores socioeconômicos) e prevalência de pré-obesidade e obesidade.

Dos 31 estudos selecionados, a maior parte foi conduzida no Brasil (n=22), com demais estudos conduzidos no México, Chile, Argentina, Peru e Colômbia (n=9). A associação foi considerada negativa quando indivíduos com baixa posição socioeconômica tinham uma prevalência maior de pré-obesidade ou obesidade e positiva quando indivíduos com alta posição socioeconômica tinham uma prevalência maior.

Entre os homens, a associação observada entre escolaridade e a obesidade foi negativa em oito estudos, mas positiva em dois, e a associação entre renda e obesidade foi negativa em três estudos, mas positivo em cinco. Entre as mulheres, a associação entre renda e obesidade foi negativa em oito estudos, positiva em dois estudos e nenhuma associação foi encontrada em 5 estudos.

Poucos estudos avaliaram a associação entre  posição socioeconômica e pré-obesidade. Em ambos os sexos, a associação entre escolaridade e pré-obesidade foi positiva em um estudo, mas negativa em quatro estudos. Entre os homens, dois estudos mostraram resultados opostos sobre a associação entre escolaridade e pré-obesidade, no entanto, a associação foi positiva para renda em ambos os estudos. Entre as mulheres, a associação entre escolaridade e pré-obesidade foi negativa em três estudos, enquanto a associação com a renda foi negativa em dois.

Em síntese, os resultados do presente estudo foram heterogêneos. A maior parte dos estudos mostrou uma associação negativa entre posição socioeconômica e a presença de pré-obesidade e obesidade entre as mulheres. Já entre os homens os resultados revelaram principalmente associações positivas para a pré-obesidade, com resultados mistos para obesidade.

A relação entre a pré-obesidade e a obesidade e a posição socioeconômica não seguiu o mesmo padrão entre países da América Latina, o que pode apontar que os países estejam sob mecanismos sociais diferentes. No entanto, uma relação clara foi vista para escolaridade e renda para a população feminina, revelando que mulheres com baixa posição socioeconômica em países da América Latina têm maiores taxas de excesso de peso em comparação mulheres àquelas em alta posição socioeconômica. Tais achados sugerem a existência de desigualdades na ocorrência da pré-obesidade e obesidade e uma reversão do gradiente social em áreas urbanas, ocorrendo primeiro nas mulheres.

Como o excesso de peso é um fator de risco para outras doenças não transmissíveis, o estudo corrobora a hipótese de um risco aumentado para tais doenças crônicas em pessoas com baixo nível socioeconômico, especialmente as mulheres. Destaca-se ainda a urgência de combinar planos governamentais articulados que visem intervenções estruturais, como políticas públicas que forneçam acesso a alimentos saudáveis, especialmente em bairros mais pobres, controle de marketing e regulamentações de preços de alimentos não saudáveis, além de ações para reduzir as desigualdades sociais e de gênero em saúde e nutrição.

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