A prevalência global da obesidade atingiu proporções epidêmicas, com um impacto alarmante na morbidade e mortalidade. Em 2017, a prevalência de obesidade atingiu 12% da população mundial adulta, alcançando cerca de 603,7 milhões de adultos. No Brasil, a prevalência de obesidade aumentou de 20,8% em 2013 para 25,9% em 2019. Tanto o sobrepeso quanto a obesidade contribuem significativamente para desenvolvimento de várias doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), tais como o diabetes mellitus e hipertensão. A alta prevalência de diabetes mellitus e hipertensão entre adultos brasileiros ressalta ainda mais a carga das DNTC.
A identificação da multimorbidade, como a combinação de hipertensão e diabetes mellitus, é crucial para o gerenciamento clínico eficaz das condições de saúde, pois permite que os gestores e tomadores de decisão adaptem as intervenções para abordar questões de saúde interconectadas. No entanto, o gerenciamento da multimorbidade representa desafios significativos para o sistema de saúde pública devido à complexidade do tratamento, aumento da utilização de assistência médica e a necessidade de vias de atendimento integradas. Apesar da importância desta questão, a prevalência nacional de diabetes mellitus e hipertensão de acordo o IMC, bem como sua tendência nas últimas décadas, não foi adequadamente descrita.
Portanto, um estudo objetivou identificar tendências temporais em hipertensão e diabetes, tanto individualmente quanto combinadas, segundo categorias de IMC, e identificar tendências temporais em hipertensão e diabetes entre adultos brasileiros que vivem com obesidade, considerando características sociodemográficas.
Para tal, realizou-se um estudo de série temporal usando dados do Vigitel coletados entre 2006 e 2023. Para a construção dos indicadores avaliados, o IMC foi calculado com base nas informações autorreferidas de peso e altura, e posteriormente classificado como normal/abaixo do peso, pré-obesidade (ou sobrepeso) e obesidade. Também foram coletados dados autorrelatados sobre diagnóstico médico de hipertensão e diabetes. Destes, foram derivados quatro indicadores: (a) prevalência de hipertensão; (b) prevalência de diabetes; (c) prevalência de hipertensão e diabetes; e (d) prevalência de hipertensão ou diabetes. Informações sobre sexo, faixa etária e nível educacional também foram utilizadas.
Entre os indivíduos com obesidade, foram calculadas a prevalência dos quatro indicadores relacionados ao diagnóstico médico de hipertensão e diabetes, considerando características sociodemográficas e ano da pesquisa.
Para este estudo foram recuperados dados de 806.169 adultos do Vigitel entre 2006 e 2023. Entre os participantes, 47,8% tinham peso normal/abaixo do normal; 34,6% tinham pré-obesidade e 17,6% tinham obesidade.
Os achados destacam mudanças na prevalência de hipertensão e diabetes entre pessoas com obesidade. A hipertensão diminuiu, enquanto o diabetes e ambas as condições combinadas aumentaram. Essas tendências variaram por sexo, faixa etária e nível educacional. Em homens, a hipertensão se manteve estável, mas o diabetes e ambas as condições combinadas aumentaram. Em mulheres, a hipertensão diminuiu, mas o diabetes e as condições combinadas permaneceram estáveis. A prevalência de diabetes aumentou com a idade, especialmente entre aqueles com menor nível educacional. Entre os jovens, a hipertensão diminuiu, enquanto o diabetes aumentou, particularmente entre aqueles com obesidade, homens e com menor nível educacional. Os indivíduos com obesidade tiveram mais que o dobro da prevalência de todos os quatro indicadores em comparação com aqueles que classificados como normais/abaixo do peso.
Estas observações corroboram com outros estudos feitos em populações diversas, que também encontraram uma maior prevalência de diabetes entre participantes com obesidade. As disparidades encontradas na prevalência de hipertensão por categorias de IMC permaneceram significativas em análises estratificadas por faixa etária, reforçando a relação dose-resposta entre IMC e pressão alta observada em estudos globais.
Em síntese, este estudo mostrou prevalências crescentes de diabetes e hipertensão no Brasil entre 2006 e 2023, sozinhas e combinadas, que tenderam a ser mais acentuadas entre indivíduos com obesidade. Essas tendências ressaltam a necessidade de intervenções direcionadas e políticas de saúde abordando o papel da obesidade na prevalência de hipertensão e diabetes.