Excesso de peso e risco de multimorbidade: uma revisão sistemática e meta-análise

Estratégias para prevenção da Obesidade e de Doenças Crônicas no México
27 de agosto de 2024

O excesso de peso tem aumentado em todo o mundo, e as estimativas apontam que, até 2030, 1,35 bilhões e 573 milhões de pessoas no mundo terão sobrepeso e obesidade, respectivamente. O excesso de peso contribui significativamente para o aumento do risco de mortalidade precoce, possivelmente devido à sua contribuição para o desenvolvimento de doenças crônicas. O ganho de peso também é um fator de risco para multimorbidade, que é a presença de duas ou mais doenças crônicas simultaneamente no mesmo indivíduo.

A multimorbidade se tornou uma questão emergente para a saúde pública devido à sua crescente prevalência e aos impactos no estado de saúde do indivíduo, além de acarretar maiores gastos para o sistema de saúde. Os indivíduos com multimorbidade têm maior risco de demandar cuidados médicos, maior frequência de hospitalizações, polifarmácia e uma redução significativa na produtividade e no tempo de trabalho.

Diante disso, esse estudo teve como objetivo, resumir e quantificar as evidências dos estudos longitudinais sobre a associação entre sobrepeso e obesidade na ocorrência de multimorbidade na população geral.

Para tal, realizou-se uma revisão sistemática com metanálise, com pesquisa em cinco bases de dados e incluindo estudos publicados até abril de 2022. Os dados coletados referem-se às características da amostra, localização do estudo, renda do país, tempo de acompanhamento, métodos para classificação de sobrepeso e obesidade, definição de multimorbidade, os fatores de confusão e as principais descobertas.

No total, foram incluídos 8 estudos realizados em países de alta renda. Desses estudos o tempo médio de acompanhamento foi de 12,1 anos e variando de 2 anos em um estudo realizado na Irlanda com 4823 indivíduos de 50 anos ou mais, até 28 anos de acompanhamento em um estudo com 1066 mulheres chilenas com idade entre 40 e 59 anos. Identificou-se a inclusão de cinco a 30 doenças ao avaliar a multimorbidade, sendo a diabetes e as doenças cardiovasculares incluídas em todos os estudos.

Na avaliação do risco de multimorbidade entre os indivíduos, sete estudos avaliados evidenciaram um aumento do risco de multimorbidade entre indivíduos com sobrepeso e/ou obesidade e apenas um estudo não encontrou diferenças estatisticamente significativas. O estudo conduzido na Irlanda com indivíduos acima de 50 anos, relatou que apenas 2 anos de acompanhamento foram suficientes para que a obesidade fosse um fator de risco para multimorbidade.

A metanálise cobriu cerca de 191.000 indivíduos e identificou que os participantes com sobrepeso tiveram um risco aumentado em 1,26 para multimorbidade, enquanto a obesidade aumentou o risco em 1,99. Quando combinados os indivíduos com sobrepeso e obesidade, observou-se um risco de multimorbidade de 1,57. Ao analisar os subgrupos por tempo de acompanhamento, os resultados foram estatisticamente significativos apenas entre os estudos com 10 ou mais anos de acompanhamento, sendo que para esses estudos, os participantes com sobrepeso apresentaram um risco de multimorbidade de 1,25, enquanto para obesidade, o risco foi ainda maior, chegando em 2,28.

Na avaliação da qualidade, todos os estudos incluídos foram classificados como de alta qualidade, no entanto, os autores destacam a elevada heterogeneidade entre os estudos, especialmente em relação ao número de doenças incluídas e a duração do acompanhamento.

Em síntese, os resultados indicaram que o sobrepeso aumenta em 26% o risco de desenvolver multimorbidade, enquanto a obesidade quase duplica o risco. A duração da exposição à obesidade impacta o risco de desenvolvimento da multimorbidade. Esses resultados dialogam com a literatura existente, que já apontava para um risco elevado de desenvolver doenças crônicas, quando avaliadas individualmente, entre indivíduos com excesso de peso. Além disso, a obesidade está associada a um aumento do risco de diabetes, doenças cardiovasculares, asma, artrite e depressão, doenças que são frequentemente presentes na lista de multimorbidade.

Esses resultados demonstram que a obesidade deve ser tratada como um fator de risco para multimorbidade e devido à complexidade da multimorbidade, exige pensar em políticas de prevenção, ampliando o olhar ao considerar a presença das doenças simultaneamente nos indivíduos. Os estudos incluídos nesta revisão são derivados de países de alta renda, necessitando assim de mais estudos em países de baixa e média renda para avaliar o risco de multimorbidade entre pessoas com excesso de peso em um contexto socioeconômico menos favorável. Por fim, os autores destacam a necessidade de uma maior homogeneidade em relação à definição de multimorbidade, especialmente no número de doenças a serem incluídas, facilitando assim, comparações entre os estudos.

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