Consumo de frutas e hortaliças entre adultos brasileiros

Consumo de alimentar de ultraprocessados por crianças e adolescentes: principais subgrupos e associação com estado nutricional
29 de abril de 2025

 O consumo adequado de frutas e hortaliças tem importante efeito protetor na saúde, entretanto vários estudos relataram uma baixa prevalência de indivíduos que atendem à recomendação de ingestão mínima de cinco porções ou 400g de frutas e hortaliças por dia da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, houve um aumento neste consumo recomendado de frutas e hortaliças entre 2008 e 2016, com aproximadamente 24,4% da população adulta atingindo o consumo adequado desses alimentos em 2016. No entanto, uma série de mudanças políticas e econômicas vivenciadas no país desde 2015 pode ter influenciado negativamente os padrões de consumo alimentar da população brasileira, além da pandemia da COVID-19 que agravou a situação ao introduzir uma emergência sanitária e intensificar os desafios econômicos.

Diante desse contexto, monitorar a evolução temporal do consumo de frutas e hortaliças é importante para avaliar e fortalecer estratégias e políticas públicas voltadas à promoção do consumo desses alimentos. Sendo assim, um estudo teve como objetivo analisar a tendência temporal do consumo de frutas e hortaliças entre adultos nas capitais brasileiras e no Distrito Federal no período de 2008 a 2023, comparando as estimativas do período inicial (2008-2014) e do período mais recente (2015-2023).

Trata-se de um estudo de série temporal com base em dados coletados pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) no período de 2008 a 2023. Para este estudo, foram analisados ​​os indicadores de consumo regular e recomendado de frutas e hortaliças. O consumo regular foi considerado nos casos em que frutas (incluindo sucos naturais) e hortaliças (independentemente do tipo) foram consumidos em cinco ou mais dias da semana. É necessário que os indivíduos consumam ambos regularmente, mas o número de porções ao longo do dia não é considerado. Em relação ao consumo de frutas, foram consideradas até três porções diárias, sendo o consumo de suco de fruta contabilizado como, no máximo, uma porção. Em relação ao consumo de hortaliças crus e cozidas no almoço e/ou jantar, foram consideradas até quatro porções diárias. A ingestão recomendada de frutas e hortaliças foi alcançada quando o total de porções consumidas diariamente atingiu pelo menos cinco porções em pelo menos cinco dias da semana, seguindo as diretrizes alimentares da OMS e do Brasil. Variáveis ​​sociodemográficas como sexo, faixa etária e nível de escolaridade em anos de estudo complementam a análise.

A prevalência do consumo regular de frutas e hortaliças (≥ 5 dias/semana) permaneceu estável de 2008 a 2023, com média de 34,1% para toda a população e entre todos os grupos sociodemográficos. No período inicial (2008-2014), o consumo regular de frutas e hortaliças aumentou de 33% para 36,5% (0,71 pontos percentuais ao ano – pp/ano) para toda a população, com aumento em quase todos os grupos sociodemográficos, exceto para adultos de 25 a 34 anos. O maior aumento nesse período foi observado entre mulheres (0,75 pp/ano), indivíduos com 65 anos ou mais (0,83 pp/ano) e até 8 anos de escolaridade (0,69 pp/ano). Por outro lado, a análise do período mais recente (2015-2023) mostrou uma redução na prevalência do consumo de frutas e hortaliças para toda a população, de 37,6% para 31,9% (-0,56pp/ano), particularmente entre os homens (-0,70pp/ano), indivíduos de 25 a 34 anos (-0,84pp/ano) e com 12 anos ou mais de estudo (-0,96pp/ano).

O consumo recomendado de frutas e hortaliças (≥ 5 porções/dia em ≥ 5 dias/semana) também permaneceu estável de 2008 a 2023, com uma média de 22,5% para toda a população e em todos os grupos sociodemográficos. No período inicial (2008-2014), o consumo recomendado de frutas e hortaliças aumentou de 20% para 24,1% (0,81 pp/ano) para toda a população e em quase todos os grupos sociodemográficos apresentando aumento, particularmente entre mulheres (0,90 pp/ano), indivíduos de 55 a 64 anos (0,96 pp/ano) e aqueles com 12 anos ou mais de escolaridade (0,77 pp/ano). A única exceção foi o grupo de indivíduos com 65 anos ou mais, no qual não foi observado aumento. Entretanto, de 2015 a 2023, o consumo recomendado de frutas e hortaliças diminuiu de 25,2% para 21,4% (-0,52 pp/ano) para quase todos os grupos sociodemográficos, exceto para homens, indivíduos de 18 a 24 anos e com 65 anos ou mais. As maiores reduções foram observadas entre mulheres (-0,68 pp/ano), adultos de 25 a 34 anos (-0,73 pp/ano) e com 12 anos ou mais de escolaridade (-0,74 pp/ano).

De 2008 a 2023, observou-se estabilidade na prevalência do consumo regular e recomendado de frutas e hortaliças entre adultos brasileiros. Entretanto, ao estratificar o período, foram evidentes mudanças significativas no consumo de frutas e hortaliças, com aumento do consumo de frutas e hortaliças no período inicial (2008-2014) seguido de redução acentuada no período mais recente (2015-2023). Entre os grupos sociodemográficos, o consumo de frutas e hortaliças aumentou no período inicial, principalmente entre mulheres e idosos. Houve aumento do consumo regular de frutas e hortaliças, principalmente entre adultos com menor escolaridade, e aumento do consumo recomendado de frutas e hortaliças para adultos com maior escolaridade. Por outro lado, houve redução do consumo regular e recomendado de frutas e hortaliças no período mais recente para quase todos os grupos sociodemográficos, principalmente homens (quanto ao consumo regular), indivíduos de 25 a 34 anos e com maior escolaridade. De forma geral, a maior prevalência e o maior aumento no consumo de frutas e hortaliças no período inicial entre mulheres, indivíduos mais velhos e com maior escolaridade mantiveram esses grupos com as maiores prevalências de consumo.

Apesar do aumento no consumo de frutas e hortaliças no país entre 2008 e 2014, observou-se redução substancial entre 2015 e 2023. A redução foi mais evidente entre os homens, os adultos mais jovens e aqueles com maior nível de escolaridade. Tais resultados reforçam a necessidade de ampliar e fortalecer ações de saúde pública voltadas para a melhoria do consumo de frutas e hortaliças, além da realização de vigilância contínua para o desenvolvimento e o aprimoramento de políticas de saúde eficazes.

Compartilhar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *