Está bem estabelecido que o bombardeamento de marketing de alimentos ultraprocessados contribui de maneira significativa para o consumo destes alimentos pelas crianças e para a epidemia de sobrepeso e obesidade nesta população. Em função do seu estágio de desenvolvimento, as crianças estão mais vulneráveis ao marketing, se comparadas aos adultos. Estudos têm apontado que a publicidade na TV tem impacto direto sobre as preferências alimentares das crianças e têm sugerido uma relação inversa entre a publicidade de alimentos saudáveis com a prevalência de sobrepeso e obesidade nesta população.
Em 2010, a Organização Mundial de Saúde (OMS) encorajou os países a regulamentar a publicidade de alimentos e bebidas destinados a crianças, que contenham elevado teor de gordura saturada, ácidos graxos trans, açúcar ou sal. Embora políticas relacionadas ao marketing de alimentos ultraprocessados tenham sido implementadas em todo o mundo, elas se referiram em sua grande maioria a políticas de auto-regulação, ou seja, o conjunto de indústrias alimentícias regulam suas ações de marketing.
Alguns estudos têm reportado a ineficácia das políticas de auto-regulação para a redução da publicidade de alimentos não saudáveis e a exposição de publicidade para jovens. Diante deste contexto, foi realizada uma pesquisa com o objetivo de avaliar o impacto das políticas de publicidade de “junk food” (que são alimentos ultraprocessados) sobre as vendas destes alimentos e identificar as características das políticas eficazes na redução de vendas.
As informações sobre “junk food” foram obtidas a partir da base de dados do EuroMonitor International. Foi realizada uma revisão acerca das políticas de marketing de 79 países, implementadas entre os anos de 2003 e 2014. Diversas variáveis foram analisadas sobre as políticas, como: 1) o tipo de regulação – auto-regulação ou estatuto/regulamento; 2) as restrições de audiência – através de múltiplas abordagens, como restringir a publicidade em determinado horário ou baseado no % de crianças assistindo ou % de publicidade de “junk food”; e 3) baseado em critérios nutricionais –padronizados para todos os anunciantes ou não. As variáveis analisadas acerca da implementação das políticas foram: 1) se eram baseadas em orientações, restrições ou mensagens; 2) as técnicas de marketing utilizadas – através do apelo a personagens licenciados, celebridades/estrelas do esporte, alegações de saúde, patrocínio e ofertas promocionais; 3) os meios de comunicação –televisão, rádio, internet ou escola; e 4) baseado na idade das crianças – menores de 12 anos ou maiores de 13 anos.
O estudo encontrou que 49 países (62%) tiveram pelo menos uma política relacionada à publicidade de “junk food”. Nos países que tinham políticas implementadas observou-se uma queda de 2% nas vendas de “junk food” per capita entre os anos de 2002 e 2016, enquanto nos países que não tinham políticas implementadas foi observado um aumento de 13,9% nas vendas per capita.
Ao avaliar o tipo de política de publicidade, nos países que apresentavam uma regulamentação houve uma redução de 8,9% nas vendas per capita, enquanto nos países que apresentavam apenas a política de auto-regulação pelas próprias indústrias, observou-se um aumento de 1,7% das vendas per capita. Os países que empregaram em suas políticas a restrição de audiência ou critérios nutricionais observaram queda de venda de “junk food” em comparação com países que não empregaram esses métodos. A redução nas vendas de “junk food” per capita também aconteceu em países com duas ou três restrições em meios de comunicação, enquanto países com restrição de dois meios de comunicação encontraram um aumento nas vendas.
Os resultados encontrados permitem que os países observem o impacto das políticas e o papel da publicidade de alimentos na tomada de decisão da população (compra). Os autores sugerem que os governos devem estabelecer regulamentação de publicidade forte e abrangente para reduzir efetivamente a publicidade de alimentos direcionada às crianças. Para os países que já utilizam alguma política de publicidade, sugere-se utilizar os dados de venda dos produtos para avaliar a eficácia das políticas.
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