Estigma e Obesidade: o cerne da questão

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A negligência no cuidado e o estigma da obesidade foram discutidos em um comentário publicado pelo “The Lancet” (clique aqui para acessar). Os autores sugerem que a obesidade não é abordada adequadamente como um problema de saúde e por isso os atuais esforços para enfrentá-la fracassam. As pesquisas citadas no comentário reforçam que os sistemas de saúde estão mal equipados para lidar com a obesidade e as principais lacunas encontradas são: a ausência de diretrizes de qualidade para avaliação preliminar e caminhos de tratamento, treinamento inadequado dos profissionais de saúde e barreiras financeiras dos serviços. O fracasso em lidar com determinantes comerciais da saúde ou em incluir a obesidade em estratégias abrangentes de assistência médica também contribui para o número crescente de obesidade.

A resistência em adotar a obesidade como uma doença não transmissível foi apontada como importante fator para estigmatizar pessoas com obesidade em campanhas da mídia e em políticas isoladas que simplificam demais as soluções, contribuindo para internalizar vergonha nas pessoas com obesidade. Grande parte da inércia no tratamento de obesidade pode ser atribuída pelo enquadramento predominante e persistente da obesidade como questão de responsabilidade pessoal. As noções preconcebidas enfrentadas pelas pessoas com obesidade ao procurarem aconselhamento e cuidado médico também foram sugeridas como barreiras para o gerenciamento eficaz.

Os autores sugerem que enfrentar a obesidade como uma doença crônica requer compreender a regulação biológica do consumo de alimentos e os mecanismos fisiológicos que controlam a regulação do tecido adiposo e destacam que mesmo uma modesta perda de peso melhora a glicemia, pressão arterial, lipídios, mobilidade e qualidade de vida, benefícios que não exigem um retorno ao Índice de Massa Corporal (IMC) eutrófico.

Por fim, o texto destaca que os programas de tratamento da obesidade devem incorporar treinamento de profissionais de saúde (com destaque para os médicos) e da população. Em ambientes de saúde, o atendimento deve ser centrado na pessoa e os profissionais da saúde devem tratar as pessoas com obesidade com a mesma dignidade, profissionalismo e não discriminação concedidos a pacientes com outras doenças não transmissíveis. Continuar negligenciando e estigmatizando crianças, jovens e adultos com obesidade é antiético e viola os direitos humanos.

O comentário finaliza convidando a comunidade a compartilhar uma responsabilidade coletiva de identificar a obesidade e o estigma como o cerne da questão, um fator central na carga global de doenças não transmissíveis e assumir um papel central remodelando a narrativa, colocando as pessoas com obesidade no centro das práticas e políticas.

 

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