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Alimentos ultraprocessados são formulações industriais com pouco ou nenhum alimento in natura em sua composição, geralmente com alto teor de gorduras, sódio e açúcar e que utilizam aditivos cosméticos. Existem evidências de que o consumo de alimentos ultraprocessados está associado a obesidade e doenças crônicas. Em países como Reino Unido e Estados Unidos, mais da metade das calorias da dieta é oriunda de alimentos ultraprocessados. Uma razão para o aumento em seu consumo pode advir da pouca habilidade culinária ou pela prática pouco frequente de preparar alimentos e refeições.

Nesse contexto, partindo da hipótese de que indivíduos que apresentavam melhores habilidades de preparação de alimentos em casa e que os preparavam com mais frequência consumiriam uma dieta com menos alimentos ultraprocessados, um estudo examinou tal relação em adultos do Reino Unido.

O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional sobre Dieta e Nutrição do Reino Unido 2008–2009. Habilidades e comportamentos de preparação de alimentos caseiros por indivíduos com idade superior a 19 anos (n = 509) foram avaliados por meio de perguntas envolvendo: confiança na utilização de oito técnicas culinárias, confiança em cozinhar 10 tipos de alimentos, capacidade de preparar um bolo ou biscoitos sem ajuda e frequência de preparo de uma refeição principal. O consumo de alimentos ultraprocessados dos indivíduos foi analisado a partir de diários alimentares de quatro dias. As análises de associações foram ajustadas para idade, sexo, classe social ocupacional e composição familiar.

Cerca de metade dos indivíduos estudados se referiram como confiantes para a execução de todas as oito técnicas e para o preparo de todos os 10 alimentos. Quase 3/4 eram capazes de assar bolos ou biscoitos sem ajuda e mais de 2/3 cozinhavam uma refeição principal para eles mesmos ou para outras pessoas, em cinco ou mais dias por semana. A participação média de alimentos ultraprocessados na dieta dos indivíduos foi de 51,3%.

Em modelos ajustados, estar confiante quanto ao preparo de todos os 10 alimentos, ser capaz de assar bolos ou biscoitos sem ajuda e cozinhar uma refeição principal pelo menos cinco dias por semana foi inversamente associado ao consumo de alimentos ultraprocessados. A confiança na execução das 8 técnicas culinárias não foi associada ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Verificou-se que aqueles indivíduos que estavam mais confiantes ou preparavam comida com mais frequência consumiam cerca de 3 a 4% menos calorias oriundas de alimentos ultraprocessados, quando comparados a indivíduos menos confiantes. Com uma ingestão energética média diária na amostra de 1887 kcal/dia, essa diferença representa cerca de 57-75 kcal a menos de alimentos ultraprocessados por dia, ou cerca de 40–50% de uma lata de 330 ml de refrigerante tradicional à base de cola. De forma acumulada, essa diferença é substancial e reflete achados anteriores de relações entre melhores habilidades culinárias e maior frequência de consumo de comida caseira e qualidade da dieta.

Os autores concluem que, em adultos do Reino Unido, melhores habilidades e menor frequência de preparação de alimentos em casa tendem a estar associados a um menor consumo de alimentos ultraprocessados. Tal achado suscita a importância de melhor conceituar, operacionalizar e promover habilidades e comportamentos de preparação de alimentos em casa, de modo a reduzir a dependência de alimentos ultraprocessados.

Por outro lado, mais pesquisas fazem-se necessárias para confirmar os resultados e, assim, aumentar a confiança de que as associações relatadas são causais.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

 

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