Custos da COVID-19 associados com a obesidade

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A “primeira onda” da pandemia da COVID-19 na Europa, correspondente aos primeiros 6 meses de 2020, foi marcada por 2,4 milhões de pessoas neste continente com testes positivos e mais de 190.000 óbitos, e provavelmente muito mais casos não confirmados. A prevalência de indivíduos com obesidade na Europa aumentou nos últimos anos e em 2018, 58% das pessoas maiores de 15 anos apresentavam excesso de peso (sobrepeso ou obesidade) e 21% tinham obesidade.

A obesidade tem sido reportada por diversos estudos como um fator de risco independente para os desfechos mais graves da COVID-19, incluindo morte. Embora os mecanismos subjacentes deste risco aumentado para pessoas com sobrepeso e obesidade ainda sejam mal compreendidos, alguns potenciais mecanismos foram levantados, como a elevada resistência à insulina e os baixos níveis de adiponectina, predispondo à inflamação pulmonar agressiva.

Diante deste cenário, um estudo investigou o custo total do tratamento de paciente hospitalizados em função da COVID-19 em países europeus segundo categorias de índice de massa corporal (IMC) (eutrofia, sobrepeso e obesidade). Foram estimados os custos diretos totais da atenção secundária na Europa, definidos como o uso de serviços hospitalares com financiamento público dentro do sistema de saúde, incluindo internações hospitalares, internações em unidade de terapia intensiva (UTI) e suporte por ventilação mecânica invasiva (VMI) durante a permanência na UTI (UTI + VMI). Os custos de atenção primária não foram incluídos na análise.

Inicialmente, foi realizada uma revisão da literatura, a partir de artigos científicos publicados no PubMed, para obter conhecimento sobre a evolução da COVID-19 em indivíduos com sobrepeso e obesidade. Os estudos de interesse foram aqueles que estimaram o risco de hospitalização geral, risco de admissão em UTI, risco de admissão em UTI + VMI em relação à COVID-19, bem como tempo de internação hospitalar entre pessoas com sobrepeso e obesidade. Um total de 15 estudos foram incluídos na revisão.

As estimativas de risco de hospitalização geral para COVID-19 entre as categorias de IMC foram baseadas em publicação dinamarquesas, britânicas e americanas. As estimativas de risco de admissão em UTI ou de ter doença crítica entre pessoas com obesidade foram baseados em dados dinamarqueses e americanos, enquanto as estimativas de risco de admissão em UTI + VMI entre pacientes com COVID-19 hospitalizados, com obesidade, foram baseados em dados franceses. A estimativa do número de dias de leito em hospital, UTI e UTI + VMI foram baseados em dados da Itália e da Espanha. As estimativas de custos de hospitalização geral, admissão em UTI e admissão em UTI + VMI foram baseadas em custos publicamente disponíveis na Dinamarca, França, Espanha e Reino Unido. Todos os custos foram convertidos e apresentados em euros.

Como resultados, o estudo encontrou que na Europa foram admitidos em hospitais mais de 720.547 pessoas, entre 1 de janeiro de 2020 e 30 de junho de 2020. Destes, o estudo sugere que 71% dos pacientes internados com COVID-19 tinham excesso de peso e 35% apresentavam obesidade. Além de apresentarem maior probabilidade de internação, os indivíduos com obesidade também apresentaram maior probabilidade de internação em UTI e de UTI + VMI, em comparação com pessoas com IMC inferior a 25kg/m2. Entre as pessoas internadas em UTI e que apresentavam IMC superior a 35kg/m2, 86% foram tratadas com VMI.

O custo médio de um dia de leito hospitalar (24 horas) para admissão em hospital geral é de 883 euros, para admissão em UTI é de 1925 euros e para admissão em UTI + VMI é de 3183 euros. Uma vez que o risco de admissão em UTI e em UTI + VMI aumenta com o IMC, o custo médio estimado para admissão hospitalar devido à COVID-19 também aumenta com o IMC.
Os custos diretos totais da atenção secundária da COVID-19 na Europa foram estimados em 13,9 bilhões de euros e os custos diretos totais da atenção secundária da COVID-19 associados ao excesso de peso (sobrepeso e obesidade) foram estimados em 10,5 bilhões de euros, o que representa 76% dos custos totais. Os custos de pacientes com desfechos graves com COVID-19 e com obesidade foi estimado em 6,1 bilhões de euros, representando 44% dos custos totais.

Os fatores que influenciam um maior custo dos indivíduos com obesidade com COVID-19, incluem: uma maior probabilidade de ser hospitalizado devido à COVID-19, um maior risco de desfechos graves e uma estadia mais prolongada, quando hospitalizados.
O estudo conclui que tanto o sobrepeso quanto a obesidade contribuem de forma desproporcional para os custos da COVID-19. Tanto os custos econômicos, quanto o número de pessoas que morrem pela COVID-19 seriam menores se as taxas de sobrepeso e obesidade fossem menores em todos os países europeus, sendo necessárias políticas públicas direcionadas à prevenção e controle da obesidade.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

 

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