Fatores psicológicos têm importante papel na etiologia da obesidade. A literatura vem mostrando uma associação entre desordens emocionais ao longo da vida e o sobrepeso e a obesidade. A obesidade é um problema de saúde frequentemente acompanhado de depressão e ansiedade, bem como de práticas de alimentação psicológicas, como o comer emocional, comportamentos alimentares de dependência e compulsão alimentar.
Em contraste com os transtornos depressivos acompanhados por perda de apetite, a depressão com características atípicas é caracterizada por aumento do apetite que, subsequentemente, pode levar ao ganho de peso. Na depressão com características atípicas, os indivíduos são propensos a desenvolver práticas alimentares associadas a emoções como o comer emocional, ou seja, comer demais em resposta às emoções negativas. Esses padrões incluem: comer para enfrentar o estresse, ansiedade, frustração, tristeza e raiva, entre outros, e muitas vezes estão relacionados à dificuldade de controlar a quantidade de alimentos ingeridos.
Durante as últimas décadas, diversos modelos psicológicos têm tentado explicar a relação entre estados emocionais e comportamento alimentar, levando em consideração não apenas a frequência da alimentação, mas também a escolha do alimento e o tamanho da porção.
A depressão e o comer emocional foram associadas ao consumo de alimentos mais calóricos, “alimentos de conforto”. Se esses episódios ocorrerem com frequência, podem, consequentemente, levar ao ganho de peso e à obesidade. Estudos anteriores indicaram que indivíduos com recorrência frequente do comer emocional tinham índice de massa corporal (IMC) mais alto. Neste contexto, um estudo teve por objetivo investigar a associação entre sintomas de depressão, comer emocional e IMC em universitários mexicanos e avaliar o comer emocional como mediador entre os sintomas depressivos e o IMC.
O estudo se baseou na avaliação das medidas corporais (peso e altura) aferidas e em dados obtidos por questionários autoadministrados de estudantes universitários do primeiro ano de curso de uma instituição pública da Cidade do México, com idade média de 21 anos. Um total de 1453 participantes foram incluídos na análise.
O instrumento empregado para a avaliação de sintomas depressivos contemplava 20 itens com opções de resposta em escala do tipo Likert, muito utilizada em questionários para avaliar o nível de concordância com as afirmações, variando de 1 (concordo totalmente) a 5 (discordo totalmente), usado para medir os sintomas de depressão na semana anterior. Para determinar a presença de sintomas depressivos, o estudo adotou o ponto de corte de 16 pontos (de um total de 20).
Para o cálculo do IMC (peso/altura2), foram utilizadas medidas aferidas e baseou-se no critério da Organização Mundial de Saúde (OMS) com pontos de corte de: 25 kg/m2 para sobrepeso, 30 kg/m2 para obesidade e < 18,5 kg/m2 para abaixo do peso.
Cerca de 17% informaram tratamento psicológico anterior ao estudo e 18,5% apresentaram sintomas depressivos, mais expressivo em mulheres (20,8%) quando comparadas aos homens (15,8%). Aproximadamente um terço dos participantes (31,4%) responderam de forma positiva a pergunta: Você aumenta o consumo alimentar em resposta as emoções? A frequência observada foi maior em mulheres (41,4%) do que em homens (19,4%).
Para avaliar o comer emocional foi utilizada versão espanhola do Questionário de Avaliação de Emoções e Estresse (EADES) com 12 perguntas, nele, as mulheres apresentaram menor escore que os homens, indicando que o problema do comer emocional se apresenta com mais frequência em mulheres.
A média da escala para avaliar sintomas depressivos, foi similar em ambos os sexos. Em relação ao IMC, cerca de um quarto dos participantes estava acima do peso e 8,2% estavam com obesidade, e uma diferença significativa foi observada no IMC, sendo o dos homens superior ao das mulheres (24,5 versus 23,5). Verificou-se a associação entre IMC e depressão, entre IMC e comer emocional e entre comer emocional e depressão, em ambos os sexos.
O IMC elevado foi associado com alto escore de depressão e com baixo escore de comer emocional, que indica que universitários com mais sintomas depressivos e maiores problemas em relação ao comer emocional tiveram maior IMC. Em homens, o efeito indireto da depressão por meio do comer emocional no IMC representa 23,1% dos efeitos totais e representa 25% entre mulheres.
Os resultados reforçam a importante relação do aumento do consumo alimentar emocional com características de humor negativas como: ansiedade, inutilidade, tristeza, raiva, apatia, frustação e estresse e são consistentes com investigações anteriores em que o mesmo instrumento em contexto não ambulatorial/clínico.
O estudo identifica apenas tendências e sintomas e não diagnostica condições clínicas. Por tratar-se de uma pesquisa conduzida com uma população específica (estudantes universitários), o estudo em grupos de diferentes populações é necessário para que se tenha um achado consistente.
Dado o caráter multifatorial da obesidade, outros fatores, além dos dois estudados, contribuem para o ganho de peso e poderiam ser levados em consideração. A prevenção integral e o controle da obesidade devem incluir a detecção da depressão e o comer emocional como potenciais fatores de risco para a obesidade e deve considerar a educação alimentar e nutricional, a gestão adequada das emoções e a identificação de indivíduos vulneráveis a depressão, a fim de contribuir para a redução do risco de desenvolvimento de obesidade entre os jovens.
Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.