Fatores de risco obesogênicos: características sociodemográficas e presença parental em adolescente

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Risco de obesidade entre adolescentes brasileiros: uma doença multifatorial, muito além do refrigerante e guloseimas.

A obesidade é um problema de saúde pública mundial e sua prevalência vem aumentando para todas as idades. O consumo de alimentos ultraprocessados (geralmente marcados por elevada densidade energética e baixo teor de nutrientes) tem sido associado ao excesso de peso em adolescentes, uma vez que estes deslocam o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, podendo impactar no balanço energético.

Sabendo que para a prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) relacionadas ao excesso de peso é importante conhecer fatores associados à ocorrência simultânea de comportamentos de risco (relacionados a alimentação e atividade física, por exemplo), um estudo transversal com dados de Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PeNSE (2009) buscou estimar a prevalência da coocorrência de fatores de risco obesogênicos em adolescentes brasileiros e características sociodemográficas e familiares associadas.

Estudo coletou dados sociodemográficos e do contexto familiar de adolescentes brasileiros

O estudo contou com amostra de 53.274 estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas de todas as capitais do Brasil. A coleta dos dados foi realizada a partir de um questionário estruturado autoaplicável dividido em módulos temáticos: características sociodemográficas, alimentação, imagem corporal, atividade física, tabagismo, consumo de álcool e outras drogas, saúde bucal, comportamento sexual, violência, acidentes e segurança.

A escolha dos cinco fatores de risco estudados foi baseada em comportamentos não saudáveis apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como estratégicos para a prevenção a obesidade na infância e adolescência, tais como: consumo diário de refrigerantes adoçados e consumo de guloseimas, consumo insuficiente (<1 vez/dia) de frutas e de hortaliças, e prática insuficiente de atividade física (< 300 minutos/semana). A presença dos fatores obesogênicos foi categorizada em: 0, 1, 2 e 3 ou mais.

Variáveis como sexo, dependência administrativa da escola (pública ou privada), faixa etária, raça/cor da pele, região brasileira de residência, escore de bens e serviços e escolaridade materna foram agrupadas em características sociodemográficas e de contexto familiar. O escore de bens e serviços foi calculado com base na posse dos bens ou na presença de serviços no domicílio. O contexto familiar foi medido através das variáveis de composição familiar (com quem reside), monitoramento parental (conhecimento do responsável sobre o tempo livre) e a realização das principais refeições do dia junto ao responsável.

Consumo insuficiente de frutas e inatividade física são os fatores de risco mais prevalentes entre adolescentes brasileiros

Dos adolescentes brasileiros avaliados, 52,7% eram do sexo feminino, 65,5% tinham entre 14-15 anos de idade, 60,4% eram pessoas de pele branca, 80,2% de escolas públicas, 64,7% residentes das regiões de maior desenvolvimento socioeconômico do país (Sul, Sudeste e Centro-Oeste), 28% filhos de mães com baixa escolaridade, 58,3% residiam com ambos os pais, 55,6% tinham monitoramento parental sempre ou na maioria das vezes, 62,5% realizavam 5 ou mais refeições junto ao seu responsável, e por fim, 62,8% dos adolescentes apresentaram 3 ou mais fatores de risco obesogênicos.

Isoladamente, os três fatores de risco mais prevalentes dentre os adolescentes brasileiros observados foram: o consumo insuficiente de frutas (82,2%, IC95% 82,0-83,3) e de hortaliças (80,9%, IC95% 80,2-81,5) e a prática insuficiente de atividade física (57,5%, IC95% 56,7-58,4). Quando analisada a combinação do conjunto de fatores, o mais prevalente foi o consumo inadequado de frutas e de hortaliças e a inatividade física (27,1%).

Filhos de mães com maior escolaridade tendem a ter hábitos mais saudáveis

A maior chance de ocorrência de múltiplos fatores foi observada em adolescentes do sexo feminino, com menor monitoramento parental e que realizavam menos refeições junto de seus responsáveis. Isso pode se dever ao fato de a realização de refeições com a família poder influenciar de forma positiva comportamentos alimentares mais saudáveis.

Junto a isso, aqueles que têm menor chance da coocorrência de fatores de risco são adolescentes brasileiros que moram nas regiões mais desenvolvidas do país e filhos de mães com maior escolaridade. Achado condizente com estudo de Ottevaere e colaboradores, que verificou que adolescentes filhos de pais com maior nível educacional são mais propensos a terem hábitos mais saudáveis.

A prevalência de múltiplos fatores de risco têm sido observada em outros estudos, como de Pearson e colaboradores, que analisou adolescentes no Reino Unido, e relatou que cerca de 70% apresentaram de 2-3 comportamentos de risco.

Políticas de prevenção à obesidade entre adolescentes brasileiros precisam incluir melhoria do nível educacional da população geral

Dada a elevada proporção de adolescentes brasileiros expostos a fatores de risco obesogênicos simultâneos, políticas públicas que tenham como foco a promoção da saúde e prevenção da obesidade neste grupo populacional, e que trabalhem também para melhora no nível educacional da população brasileira como um todo e para a diminuição das desigualdades regionais e nacionais, podem ter importante impacto.

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