Dietas sustentáveis e sistemas alimentares na Saúde Pública

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Nutrição em Saúde Pública – a relação entre dietas sustentáveis, sistemas alimentares e saúde

A alimentação ou dieta, caracterizada pela seleção de alimentos consumidos pelo indivíduo, é determinante fundamental da saúde pública por ter impacto na nutrição e, de forma indireta, no meio ambiente. Mudanças na dieta e na demanda alimentar devem-se em parte ao processo de urbanização e transformações na indústria. Um artigo teve como objeto contextualizar dietas sustentáveis, sistemas alimentares e sua relação com saúde e nutrição, que conformam novos paradigmas da Nutrição em Saúde Pública, bem como apresentar as características de dietas para proteção da saúde pública e da saúde planetária.

O que é dieta sustentável?

A terminologia “dieta sustentável” apareceu pela primeira vez em 1986, proposto por Gussow e Clancy. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) cunha o conceito atual, que se relaciona com dietas com baixo impacto ambiental e que contribuem para a segurança alimentar e nutricional, e promove uma vida saudável para as gerações futuras, devem proteger e respeitar a biodiversidade e ecossistemas, ser aceitáveis e acessíveis, sob o ponto de vista cultural e econômico, ser nutricionalmente adequadas, seguras e saudáveis, e otimizar os recursos naturais e humanos. Indo ao encontro à definição do The Global Panelon Agriculture and Food Systems for Nutrition (2016) quanto à qualidade de dietas.

Conceito de Nutrição em Saúde Pública ganhou força com a era dos sistemas alimentares saudáveis

A Nutrição em Saúde Pública tem como norte a busca pela proteção e promoção da saúde relacionada à nutrição e ao bem-estar das populações, por meio de esforços organizados e escolhas informadas da sociedade. Deste modo, as abordagens mais atuais da Nutrição em Saúde Pública se interligam ao escopo de sistemas alimentares e nutrição, tendo codeterminantes sociais, culturais, econômico e ambientais.

A nutrição moderna, do século XX, tinha uma visão reducionista, com foco isolado em micronutrientes. Já nos anos de 1990, a epidemiologia nutricional e um montante de estudos de diversas abordagens e desenhos, mostraram a relação dos padrões de dieta com doenças crônicas de forma consistente e evidenciaram a abordagem inadequada com foco apenas em nutrientes únicos.

Nos dias atuais, o que vivenciamos é uma nova transição deste paradigma, com o aumento da consciência sustentável, que se denomina como “era dos sistemas alimentares sustentáveis”. Esse período marca a preocupação com a má-nutrição em todas as suas formas (desnutrição, carências nutricionais e obesidade) como resultantes de um processo de insegurança alimentar e nutricional e seus codeterminantes complexos, sendo o sistema alimentar vigente impulsionador deste quadro de saúde e de degradação ambiental, como as mudanças climáticas.

Aumento da obesidade e das DCNTs são desafios para a Nutrição em Saúde Pública

É importante reforçar que tais mudanças de paradigmas e eras coexistem e se sobrepõem ao longo dos anos e ainda hoje. Desta forma, os desafios para a Nutrição em Saúde Pública atual incluem o aumento global da obesidade e de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que aliado a manutenção da desnutrição e insegurança alimentar, constitui uma dupla carga de má-nutrição.

Em conformidade ao cenário exposto, além da fome crescente, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 mostram que 10,3 milhões de pessoas vivem com insegurança alimentar grave, que reflete no comprometimento da qualidade e quantidade dos alimentos que se consome, resultante do quadro presente desde 2014 no Brasil. Junto a isso, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 mostra que cerca de 60,3%, da população maior de 18 anos, está com excesso de peso e ¼ destes está com obesidade. No mesmo ano, o Inquérito Telefônico Vigitel indicou avanços das DCNT na população brasileira, tais como: diabetes mellitus (7,4%) e hipertensão arterial (24,5%).

Questões econômicas na Nutrição em Saúde Pública: má-nutrição não é uma escolha individual

Quanto aos sistemas alimentares, estes são protagonistas nas mudanças ambientais e climáticas, responsáveis por aproximadamente 19-29% das emissões de gases de efeito estufa, derivados de atividades humanas. E se afetam desta forma o ambiente, logo, têm importante impacto na saúde dos indivíduos, como na produção de alimentos e composição nutricional das safras.

Os sistemas alimentares sustentáveis vão ao encontro a dimensões da segurança alimentar, aliadas ao direito humano à alimentação adequada (DHAA). Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que visam cumprir a Agenda 2030, incluem: disponibilidade, acesso (econômico, social e físico), utilização, estabilidade, agência e sustentabilidade. Ainda que se entenda tal cenário, dietas sustentáveis devem levar em conta a questão econômica e social das populações, em que grande parte dos indivíduos não tem acesso a este tipo de alimentação, ou seja, a má-nutrição não é uma escolha individual.

Alimentos de origem vegetal e redução do consumo de ultraprocessados são o caminho

Como forma de reduzir os impactos dos padrões atuais de consumo alimentar sobre o meio ambiente e a nutrição, mudanças nas dietas atuais para que estas sejam mais sustentáveis para a saúde das populações e do planeta parecem ser a resposta. Ainda que não exista uma única dieta dita sustentável, Lawrence e colaboradores (2019) as associam ao consumo moderado, dietas mais baseadas em consumo de alimentos de origem vegetal, redução do consumo de ultraprocessados e diminuição do desperdício de alimentos.

A transição para dietas que tenham como base alimentos de origem vegetal, mostra ter importante impacto ao reduzir a mortalidade global em 6-10% e as emissões de gases de efeito estufa relacionadas aos alimentos em 29-70%, em comparação ao cenário de referência de2050.

Guia alimentar é um avanço, mas mudanças políticas são necessárias para a Nutrição em Saúde Pública

A FAO e a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2019, publicaram o Guia de princípios para uma dieta saudável e sustentável, e países como a Alemanha, o Brasil, o Catar e a Suíça, adotaram abordagens mais sistêmicas, que consideram os impactos ambientais provocados pela alimentação, influências do ambiente alimentar e dos modos de vida no padrão alimentar das populações. O Guia Alimentar para a População Brasileira, de 2014, já traz aspectos ligados aos modos de produção e de distribuição dos alimentos e privilegia os sistemas alimentares social e ambientalmente sustentáveis.

No entanto, ainda é essencial que se tenham mudanças na estrutura política que possibilitem transformações nos sistemas alimentares, visto que a produção de alimentos e consumo está dentre as principais ameaças aos recursos ambientais. Dados mostram de cerca que 1/3 dos alimentos produzidos são desperdiçados ou perdidos, sendo necessários múltiplos atores para o fortalecimento de políticas públicas que garantam a segurança e a soberania alimentar e nutricional, e, assim também, se tenha impacto positivo para o planeta.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

 

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