Conhecimento de adultos brasileiros sobre a classificação NOVA

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Os brasileiros compreendem a classificação NOVA de alimentos? Estudo revela onde costumamos errar

A classificação NOVA categoriza os alimentos de acordo com a extensão e o propósito de seu processamento industrial. O processamento industrial de alimentos, conforme entendido por esta classificação, envolve processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem depois que os alimentos são separados da natureza e antes de serem consumidos ou usados ​​no preparo refeições. A NOVA classifica todos os alimentos e bebidas em quatro grupos: 1)alimentos in natura ​​ou minimamente processados; 2)ingredientes culinários processados; 3)alimentos processados; e 4)alimentos ultraprocessados.

Desde a sua criação, em 2009, a classificação NOVA passou por algumas atualizações e revisões. A NOVA é reconhecida por organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e a Organização Pan-Americana da Saúde, como uma ferramenta válida para pesquisa, política e ação em nutrição e saúde pública.

Um Guia Alimentar de fácil compreensão é importante componente na aplicação da classificação NOVA no dia a dia dos brasileiros

No Brasil, a segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira contém recomendações para orientar as escolhas alimentares que se baseiam em evidências empíricas obtidas pela aplicação da classificação NOVA a dados nacionais de consumo alimentar. As diretrizes alimentares e os instrumentos de educação alimentar e nutricional, como o Guia, devem ser de fácil compreensão, práticos, realistas e devem permitir flexibilidade e promover autonomia nas escolhas alimentares. É importante, portanto, saber o quão compreensíveis são esses instrumentos, bem como suas recomendações. Mais precisamente, é importante saber como os indivíduos entendem a classificação NOVA de alimentos para traduzi-la em melhores escolhas alimentares.

Nesse sentido, um estudo teve como objetivos: 1)investigar o nível de compreensão da classificação NOVA dos alimentos por uma amostra de adultos brasileiros, e 2)identificar o que os adultos entendem facilmente, o que eles têm dificuldade de entender e possíveis dúvidas em relação a essa classificação.

O estudo foi realizado na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil. Os participantes eram professores, técnicos administrativos e estudantes da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Primeiramente, os participantes (n=24) foram solicitados a classificar uma série de 24 imagens de alimentos e bebidas nos quatro grupos da classificação NOVA. Em seguida, os participantes foram convidados a explicar sua classificação por meio de entrevistas semiestruturadas. Ao final da entrevista, foram obtidas informações adicionais sobre os participantes (idade, estado civil e local de nascimento foram coletados para caracterizar a amostra do estudo). Os dados da atividade de classificação foram analisados ​​por meio de escalonamento multidimensional não métrico e as entrevistas por meio de análise de conteúdo exploratória e análise de conteúdo somativa.

Estudo demonstra se brasileiros conseguem ou não entender a classificação NOVA

Participaram do estudo oito professores, oito técnicos administrativos e oito estudantes(doze mulheres e doze homens), com média de idade de 30 anos (Dp = 9,4). Seis professores e cinco técnicos administrativos eram casados; todos os alunos eram solteiros. Os participantes pareciam entender a NOVA em termos de processamento de alimentos, produção de alimentos e aditivos alimentares usados. Eles identificaram facilmente alimentos in natura ​​ou minimamente processados ​​e alimentos ultraprocessados, já ingredientes culinários processados ​​e alimentos processados pareceram mais difíceis de identificar.

Todos os participantes pareciam ter conhecimento sobre o grupo de alimentos in natura ​​ou minimamente processados. Eles mencionaram tipos específicos de processamento normalmente realizados pela indústria de alimentos para preservar as características originais dos alimentos in natura ​​​​quando são removidos da natureza.

Alimentos que compunham o grupo de alimentos in natura ​​ou minimamente processados ​​foram frequentemente referidos como “alimentos naturais” pelos participantes. Os autores verificaram que o termo “natural” estava relacionado a uma ausência de transformação e de aditivos alimentares e a uma conexão do alimento com a natureza.

Em relação ao termo “minimamente processado”, os participantes pareceram entender esse termo no sentido de que estes alimentos ​​sofrem intervenção mínima, não alterando seu valor nutricional ou composição. Esta interpretação está de acordo com a classificação NOVA.

Ingredientes culinários e alimentos processados geram mais dúvidas quanto à classificação NOVA de alimentos

Foram encontradas algumas discrepâncias entre o conhecimento dos participantes e a NOVA sobre o grupo de ingredientes culinários processados. De acordo com a NOVA, ingredientes culinários processados ​​são substâncias extraídas de alimentos não processados ​​com o objetivo de obter ingredientes duráveis, como óleos vegetais, gorduras, manteiga, açúcar e mel, usados ​​para preparar, temperar e cozinhar refeições agradáveis ​​e pratos elaborados a partir de alimentos in natura ​​ou minimamente processados. No estudo, alguns alimentos foram classificados como ingredientes culinários processados ​​desconsiderando esse raciocínio, mas pensando apenas no propósito do processamento, e não na extensão e no propósito, como indica a classificação. Por exemplo, o ovo, um alimento in natura, às vezes era considerado um ingrediente líquido de uma preparação culinária (por exemplo, um bolo). Outros alimentos do grupo de ingredientes culinários processados ​​também levantaram dúvidas, como o açúcar mascavo e o açúcar branco. Alguns indivíduos classificaram o açúcar mascavo como um alimento minimamente processado e o açúcar branco como um alimento processado ou ultraprocessado.

Foram identificadas algumas lacunas no conhecimento também em relação ao grupo de alimentos processados. Alguns alimentos desse grupo, como picles, milho enlatado e pêssego em calda, foram classificados como alimentos processados. Já outros itens alimentares, como geleia e queijo, foram classificados como alimentos in natura ​​ou minimamente processados. Em muitos casos, os participantes presumiram que esses alimentos eram “feitos à mão” ou “caseiros”.

Saber identificar os alimentos ultraprocessados é importante principalmente dentre profissionais que tem o papel de orientadores na comunidade

Os participantes pareceram entender o grupo NOVA de alimentos ultraprocessados. Eles descreveram os alimentos ultraprocessados ​​em termos de processamento de alimentos, produção de alimentos e uso de aditivos, muitas vezes usando os atributos “amplamente processados”, “produtos altamente industrializados” e “processados ​​quimicamente”.

Esses resultados têm implicações importantes. Profissionais de saúde, agentes comunitários e educadores devem dar atenção especial aos grupos de ingredientes culinários processados ​​e alimentos processados ​​da NOVA ao fornecer orientação nutricional ou realizar atividades de educação alimentar e nutricional. Por exemplo, eles devem apresentar claramente as características específicas e exemplos desses alimentos.

Os resultados do estudo podem indicar que a classificação NOVA dos alimentos é uma forma fácil e intuitiva de agrupar os alimentos. As recomendações do Guia Alimentar brasileiro, que visam a orientar as escolhas alimentares com base na classificação NOVA, parecem ser compreensíveis e podem ter sucesso em transmitir orientações nutricionais claras, a fim de promover hábitos alimentares saudáveis ​​para a população brasileira.

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