Obesidade e Cuidado em Saúde – Os instrumentos de diagnóstico da obesidade utilizados em estudos sobre a doença
A obesidade é uma doença multifatorial e sua prevalência cresce tanto em países de alta quanto de baixa renda. É caracterizada como fator de risco para outras doenças e afeta também a qualidade de vida dos indivíduos. Diversos fatores podem ajudar a entender a ineficácia de políticas públicas relacionadas à obesidade, como: o foco em abordagens individuais, a falta de políticas e programas socioambientais, a falta de treinamento profissional e o foco inadequado na perda de peso corporal ao invés da saúde.
O campo da saúde tem papel central no controle da obesidade, na produção de conhecimento científico acerca da doença, em ações de advocacy para incluir a temática em políticas públicas e na agenda de gestores de saúde, bem como no desenvolvimento de ações para prevenção do agravo e atenção integral. A Rede de Atenção à Saúde (RAS) deve atuar de forma a propor uma linha de cuidado para lidar com a obesidade considerando sua complexidade e os fatores associados.
Cálculo do IMC é um dos métodos mais populares de diagnóstico da obesidade
O diagnóstico ambulatorial e clínico é comumente realizado por meio do Índice de Massa Corporal (IMC), um método simples e barato, onde valores acima de 30kg/m2caracterizam obesidade. Contudo, há outras medidas e instrumentos para monitorar pessoas com sobrepeso e obesidade. Deste modo, uma revisão da literatura buscou identificar o potencial das medidas e instrumentos para o tratamento do sobrepeso e obesidade em adultos na Atenção Primária à Saúde (APS).
A revisão da literatura incluiu artigos científicos e diretrizes referentes ao tratamento de sobrepeso e obesidade publicados entre 1995 e abril de 2017. As bases de dados utilizadasforam: Medline, Lilacs,SUMSearch e o Google. As palavras-chaves buscadas foram: índice de massa corporal, obesidade, peso corporal, excesso de peso, prestação de cuidados de saúde, continuidade do atendimento ao paciente, avaliação de necessidades, gerenciamento de atendimento ao paciente, planejamento de atendimento ao paciente, abrangência dos cuidados de saúde, resultado do tratamento e indicador do estado de saúde.
Foram encontrados 634 documentos, dos quais 81 foram incluídos no estudo. Destes, 60,5% oriundos da Medline, 19,8% do Google, 16,0% da Lilacs e 3,7% da SUMSearch. Quanto ao desenho de estudo, 38 destes eram intervencionistas, 12 observacionais, 3 revisões, 2 revisões sistemáticas, 20 diretrizes e protocolos e 6 estudos apresentavam outros tipos de desenho.
Revisão revela quais e de que forma instrumentos de identificação da obesidade são utilizados
As medidas e instrumentos mais citados foram: IMC (81,5%), circunferência da cintura (27,2%), pressão arterial (24,7%), perfil lipídico (21,0%), perda de peso (17,3%) e glicemia (17,3%).Ao total, 188 materiais e instrumentos foram identificados, dos quais: 43,1% estavam relacionados a fatores psicológicos e emocionais, 19,7% a modos de vida e condições de saúde, 11,7% a circulação sanguínea, 8,5% ao perfil de consumo alimentar, 8,5% a fatores sociodemográficos, familiares, culturais e econômicos e outros 8,5% a antropometria e exame físico.
Foram observados 16 medidas e instrumentos relacionados à antropometria e exame físico, sendo que cerca de 82% destes recomendam ou utilizam o IMC e 27,2%, a circunferência abdominal. Alguns estudos mediram a perda de peso apenas coma quantidade de quilogramas perdidos, outros mediram a porcentagem de peso perdido ou alterações no IMC. Quanto às medidas e instrumentos relacionados à circulação sanguínea, um total de 22 foram encontrados, 24,7% referiram a pressão arterial como medida mais frequente. Em relação aos protocolos sinalizados, 60% utilizavam como medida o lipídio sanguíneo, 55% a pressão arterial e 50%,a glicemia. Porém cabe ressaltar que foram identificados resultados controversos em relação à recomendação de medição de lipídios no sangue.
Instrumentos associados ao perfil dietético e fatores psicológicos também são utilizados no diagnóstico da obesidade
Associados ao perfil dietético estavam 16 medidas e instrumentos, a maioria pouco especificada. Contudo, 21 estudos de intervenção citaram algum tipo de abordagem quanto à dieta no tratamento, onde apenas 28,6% apresentaram discussão quanto ao perfil de consumo alimentar. Relacionados a fatores psicológicos e emocionais foram identificados 81 medidas e instrumentos, mas o método de aferição para alguns não foi bem especificado. No entanto, mais de 50% dos protocolos recomendavam a avaliação da motivação do paciente para as mudanças na alimentação e/ou mudança corporal. Cerca de 30% dos estudos estavam relacionados a hábitos e distúrbios alimentares. Tinham relação a questões socioeconômicas 16 medidas e instrumentos, sendo os mais frequentes: história familiar de obesidade(7,4%), suporte social (4,9%), gênero(3,7% ) e nível de escolaridade(3,7%).Foram encontrados 37 medidas e instrumentos associados ao estilo de vida e condições de saúde, em que os mais citados estão associados ao uso de álcool e drogas, fatores de risco como tabagismo, além de questionários para avaliar a qualidade de vida (SF-36) e o bem-estar relacionado à obesidade (Obesity-Related Well Being Questionnaire). Foi também verificada a utilização de outros 2 instrumentos (questionários): o Weight Efficacy Life-Style – WELSQ e o Impact of Weight on Quality of Life – IWQOL.
Estudos demonstram que ainda há necessidade de instrumentos mais específicos para o diagnóstico da obesidade
Devido à baixa disponibilidade ou alto custo de equipamentos como adipômetro e esfigmomanômetro, por exemplo, muitas medidas e instrumentos possuem baixa aplicabilidade no contexto da APS, em países de baixa e média renda.
Por outro lado, há dificuldade em se estabelecer intervenções bem sucedidas para a obesidade, mesmo em locais com alta disponibilidade destes recursos. O planejamento eficaz do tratamento da obesidade inclui uma combinação de evidências disponíveis, considerando as características da população, a capacidade dos serviços de saúde quanto à disponibilidade de recursos, incluindo profissionais, assim como questões culturais e regionais.
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