Instrumentos para avaliação da alimentação de crianças e adolescentes

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Avaliação do comportamento alimentar de crianças e adolescentes – uma revisão integrativa

O comportamento alimentar se desenvolve ao longo da infância e da adolescência, sendo na adolescência o período em que há maior independência quanto às tomadas de decisões das escolhas alimentares. Neste sentido, estágios de desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional, atuam influenciando o comportamento alimentar. Contudo, as tomadas de decisões, do que comem e por que comem, podem estar relacionadas a uma alimentação inadequada.

A presença de sintomas como restrição alimentar, compulsão e purgação, indicam a presença de comportamentos de risco para transtornos alimentares. Para tal, avaliar como se dá a alimentação durante a infância e adolescência leva a compreender mecanismos que podem determinar a saúde na vida adulta. Tendo isso em vista, um estudo objetivou produzir uma revisão para investigar instrumentos desenvolvidos e validados de avaliação do comportamento alimentar de crianças e adolescentes.

As bases de dados utilizadas na revisão integrativa foram: Scielo, LILACS e PubMed. As palavras-chave utilizadas foram: “instrumento validado”, “instrumento comportamento alimentar adolescentes”, “instrumento comportamento alimentar crianças”, “instrument validation”, “eating behavior children”, “eating behavior adolescent”.

Os critérios empregados para a inclusão de artigos no estudo foram: estudos de validação ou de tradução e adaptação de instrumentos de avaliação do comportamento alimentar, publicados nos idiomas português ou inglês, entre os anos de 2014 a 2018. Dos 231 artigos encontrados, 14 foram selecionados para a revisão, dos quais 11 eram estudos de validação, 2 de tradução e adaptação e 5 destas publicações eram brasileiras.

Os pais têm importante influência sobre o comportamento alimentar de seus filhos durante a infância

Sabendo que os pais são os primeiros educadores nutricionais das crianças e têm forte influência sobre o comportamento alimentar de seus filhos e filhas, foram identificados 3 instrumentos neste contexto: o Toddler Feeding Behavior Questionnaire, o Questionário de Práticas Alimentares Abrangentes e o Questionário Compreensivo de Práticas de Alimentação.

O primeiro instrumento–Toddler Feeding Behavior Questionnaire, foi elaborado por Hurley e colaboradores com foco no relato do cuidador de crianças entre 12 a 32 meses de idade. Este se baseia em uma alimentação interativa, onde as respostas evidenciam a preocupação com o consumo alimentar, apetite e o comportamento dos filhos e filhas. Sua aplicação é rápida, levando cerca de 5 minutos, sendo útil para a formulação de recomendações voltadas para o cuidador sobre o comportamento alimentar de crianças.

No sentido de validar o instrumento para as práticas alimentares de crianças brasileiras em idade escolar, Mais e colaboradores desenvolveram uma nova versão, que considerou os contextos culturais – do Questionário de Práticas Alimentares Abrangentes (CFPQ). A versão modificada do CFPQ é válida para medir o comportamento dos pais destas crianças em ambientes urbanos brasileiros.

E, por fim, o Questionário Compreensivo de Práticas de Alimentação, foi traduzido e adaptado por Warkentin e colaboradores. Este foi testado em uma amostra de crianças brasileiras de 2 a 5 anos de escolas privadas, com confiabilidade interna significativa na população urbana.

Aspectos sociais estão relacionados a avaliação do comportamento alimentar de adolescentes de forma adequada

Já se tratando de comportamento alimentar de adolescentes, foram encontrados 5 instrumentos. Gaspar e colaboradores validaram uma versão portuguesa do Tempest Self-Regulation Questionnaire for Eating (TESQ-E). Tem como objetivo avaliar estratégias de autorregulação em pré-adolescentes e adolescentes, envolvendo competição cognitiva, comportamental e emocional. Deste modo, torna-se uma importante ferramenta para intervenção, promoção da saúde e prevenção de doenças.

Outro instrumento, a Escala de Competitividade de Pares, foi adaptada à população espanhola por Pamies-Aubalat e colaboradores. Este avalia a comparação social associada aos pares em relação às atitudes alimentares e de aparência física. Apesar de algumas limitações, a escala se mostrou útil para avaliar a comparação social em adolescentes.

Pereira e colaboradores construíram e aplicaram em adolescentes portugueses o Questionário das Escolhas Alimentares, para identificar fatores relacionados às escolhas alimentares e o que pode influenciá-las. Dentre os fatores observados estão: controle de peso, preocupações éticas, qualidades sensitivas, conveniência, disponibilidade, influência social, humor, saúde e familiaridade.

Leme e Philippi também adaptaram uma ferramenta que examina aspectos sociais cognitivos do comportamento dietético em adolescentes brasileiros, composto por aspectos como: autoeficácia, intenções, situação, apoio social, estratégias comportamentais, expectativas e preditores de expectativas.

Avaliação do comportamento alimentar na prevenção e tratamento de condições crônicas

Para verificar problemas alimentares em crianças e adolescentes com alguma condição crônica e com transtornos alimentares, Karlsson e colaboradores validaram um instrumento que observa: percepção; controle motor; compra de comida; comportamento alimentar; ambiente das refeições; e situação social na hora das refeições. O instrumento pretende investigar problemas alimentares em indivíduos com transtorno do espectro do autismo (TEA).

Neste mesmo sentido, Powers e colaboradores validaram um instrumento para identificação de adolescentes com diabetes tipo 1 que possuem risco de desenvolver transtornos alimentares. O instrumento é autoadministrável e analisa principalmente imagem corporal, sentimentos e qualidade de vida.

Uma versão em espanhol do Eating Attitudes Test (EAT-40) foi validada por Peláez-Fernandez e colaboradores, com a finalidade de investigar transtornos alimentares em pessoas de 12 a 21 anos. O ponto de corte de 21 anos teve a melhor predição diagnóstica, sendo o mais apropriado para rastrear transtornos alimentares em estudos epidemiológicos.

Junto a isso, Alvarenga e colaboradores realizaram avaliação psicométrica da Escala de Atitudes Alimentares Transtornadas (EAAT) em adolescentes, com 25 questões distribuídas nas subescalas: relacionamento com alimentos; preocupações sobre alimentação e ganho de peso; práticas restritivas e compensatórias; sentimentos em relação à alimentação; ideia de comer normal.

Revisão aponta a necessidade de instrumentos de avaliação do comportamento alimentar replicáveis em diferentes populações

A revisão apontou que os instrumentos encontrados avaliam aspectos do comportamento alimentar ligados a atitudes alimentares desordenadas, estratégias de autorregulação, preocupação com alimentos e consumo excessivo, transtornos alimentares na população geral e em pessoas com diabetes tipo 1, dentre outros. Os diversos instrumentos e abordagens mostram a importância de instrumentos aplicáveis em crianças e adolescentes de diferentes populações e condições, a fim de facilitar a identificação precoce das condições citadas, bem como as possíveis intervenções.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

 

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