Tratamento da obesidade na atenção primária

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A prevalência de obesidade está aumentando em todo o mundo. Além das consequências significativas para a saúde, a obesidade também impacta os sistemas de saúde. Por exemplo, os custos médicos nos sistemas de saúde aumentam progressivamente à medida que o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta. A atenção primária é a porta de entrada para os serviços de saúde e caracterizada pela integralidade do cuidado, o que a torna um espaço essencial para a introdução de intervenções voltadas para o sobrepeso e a obesidade. Com o objetivo de reunir as evidências sobre as intervenções realizadas na atenção primária para o cuidado de indivíduos adultos e idosos com sobrepeso e/ou obesidade, uma revisão sistemática foi realizada por pesquisadores brasileiros e publicado em Abril de 2021.

Oito bancos de dados foram acessados para a revisão: MEDLINE, Lilacs, Embase, PsycInfo, Cochrane, Google scholar, WHOLIS e Open Grey, sendo as três últimas usadas para pesquisar a literatura cinzenta. As pesquisas nos bancos de dados ocorreram em 28 de dezembro de 2020.

Um total de 6.644 referências foram identificadas, após as estratégias de busca. Os critérios de inclusão (artigos disponíveis em inglês, espanhol ou português; intervenções de tratamento de sobrepeso e obesidade; ensaio clínico aleatorizado) e de elegibilidade (intervenção realizada em um ambiente de atenção primária; adultos de 20 a 59 anos e idosos com idade igual ou superior a 60 anos como público alvo da intervenção; informações sobre o desfecho: IMC, peso corporal e circunferência da cintura) foram aplicados, totalizando 56 estudos e 72 intervenções incluídos na revisão sistemática.

Todos os estudos foram publicados entre 2000 e 2020, principalmente após 2012. A maioria dos estudos incluiu ambos os sexos, com a exceção de 7 deles, que incluíram apenas mulheres. Onze estudos incluíram apenas adultos enquanto os demais incluíram adultos e idosos. O tamanho das amostras variou de 42 a 1882 participantes.

Em relação às intervenções, 34% dos estudos combinou dois ou mais tipos de intervenção, um total de 16 intervenções abrangeram apenas sessões presenciais e individuais, 9 utilizaram apenas componentes tecnológicos (como ligações, aplicativos e sites), apenas uma utilizou medicamento para emagrecer e 13 estudos utilizaram prescrição de dieta. A maioria das intervenções foram conduzidas por enfermeiros, médicos, nutricionistas, profissionais de saúde treinados, pesquisadores e instrutores de atividade física e tiveram duração média de 11,5 meses, variando entre 3 e 30 meses.

Grande parte das intervenções se mostrou eficaz para os desfechos analisados e foram realizadas em países de alta renda. Das 72 intervenções incluídas na revisão, 29 avaliaram o IMC como desfecho e destas 18 foram eficazes na redução do IMC. O peso corporal foi desfecho de 67 intervenções e uma redução significativa deste foi encontrada em 37 intervenções. Por fim, 26 intervenções consideraram a circunferência da cintura como desfecho e destas 13 foram eficazes na sua redução. Independente do tempo de intervenção, houve uma redução do IMC, entretanto, para o peso corporal e a circunferência da cintura, as intervenções a longo prazo (superior a 12 meses) foram mais eficazes do que aquelas com duração de 6 meses. Poucos estudos de longo prazo avaliaram a manutenção dos resultados após a intervenção.

Os autores da revisão sugerem que as intervenções presenciais (face a face) individual e/ou em grupo são uma boa estratégia para o cuidado de indivíduos com obesidade em ambientes da atenção primária à saúde. Embora incipiente, a síntese dos estudos indica que intervenções “in loco”, acompanhadas de componentes tecnológicos (como mensagens de texto, chamadas telefônicas, aplicativos, vídeos) parecem promissoras para o tratamento da obesidade, embora o acesso às tecnologias em países de baixa e média renda possa ser um obstáculo. A maioria das intervenções desta revisão não incluiu prescrição dietética, no entanto, quase todas as intervenções que tiveram dieta prescrita por nutricionista foram eficazes, sugerindo que esta pode ser uma estratégia eficaz. Vale ressaltar que a maioria dos estudos tiveram intervenções comportamentais e a eficácia dos resultados pode estar relacionada também a esta característica.

Apesar dos efeitos positivos das intervenções para obesidade encontrados nesta revisão sistemática, estes efeitos podem ser atenuados em contexto real dos sistemas de saúde, em comparação aos ensaios clínicos. As características do financiamento do sistema de saúde (se é um sistema de saúde universal ou financiado pelo governo, ou um sistema de seguro público ou privado, ou apenas baseado em seguro privado) podem impactar significativamente a efetividade das intervenções.

Estudos que avaliem a eficácia e efetividade das intervenções a longo prazo e que explorem essas realidades em países de baixa e média renda são fundamentais para compreender melhor o impacto destas intervenções em diferentes contextos.

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