Incidência de excesso de peso e ganho de peso anual em mulheres e homens
As taxas de sobrepeso e obesidade têm aumentado em todo o mundo; entretanto, grandes variações nas tendências são observadas em países de baixa, média e alta renda. Em países de baixa e média renda, especificamente os latino-americanos, onde as transições nutricionais ocorreram rapidamente e mais recentemente, as desigualdades sociais entre as populações adultas são um dos fatores que potencialmente contribuem para níveis elevados de excesso de peso corporal, além de padrões alimentares pouco saudáveis e aumento do comportamento sedentário.
Estudos também mostraram diferenças na trajetória de peso entre homens e mulheres. Estas parecem estar mais sujeitas a variações de peso ao longo da vida, o que pode estar relacionado a maiores taxas de paridade, mudanças hormonais e diferenças de gênero nas atividades profissionais e domésticas.
Nesse contexto, artigo com dados de um período de aproximadamente 4 anos (2008–2012), oriundos do Estudo Longitudinal Brasileiro de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), teve por objetivo estimar o ganho de peso anual e a incidência de sobrepeso e obesidade, estratificados de acordo com sexo e fatores socioeconômicos.
Estudo avalia a incidência de excesso de peso em brasileiros com idade entre 35 e 74 anos
ELSA-Brasil é um estudo de coorte em andamento que começou em 2008 e envolve 15.105 servidores públicos ativos e aposentados, com idade entre 35 e 74 anos, de seis instituições de pesquisa e ensino superior localizadas em cidades brasileiras (Salvador, Vitória, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).
Foram incluídos 13.625 mulheres e homens com idades entre 35-74 anos (2008-2010) que compareceram a uma consulta de acompanhamento após cerca de 4 anos. Foram utilizados questionários padronizados para registrar dados sociodemográficos. Altura e peso foram medidos em todos os participantes durante as visitas pessoais nos centros de pesquisa.
A taxa de incidência de sobrepeso foi calculada entre aqueles que não apresentavam excesso de peso no início do estudo e a taxa de incidência de obesidade entre aqueles que não apresentavam essa condição no início do estudo. A incidência de sobrepeso e de obesidade em homens e mulheres foi avaliada, ajustada por idade, por meio de regressão de Poisson com variância robusta. O ganho de peso anual foi calculado subtraindo-se o peso de cada participante no acompanhamento pelo peso na medição da linha de base (2008-2010), dividido pelo tempo de acompanhamento em anos. Um grande ganho de peso anual foi considerado igual ou superior ao percentil 90 para mulheres e homens, independentemente.
Resultados mostram maior incidência de excesso de peso entre mulheres negras e com baixa escolaridade
Observou-se incidência global de 7,7% para sobrepeso e 10,6% para obesidade, com níveis mais elevados em mulheres negras (28,5%), homens jovens (21,1%) e mulheres com baixa escolaridade (35,0%). As proporções de sobrepeso e de obesidade aumentaram com a idade em ambos os momentos, mais comumente entre aqueles com menores níveis de renda per capita e menos anos de escolaridade.
Ao longo dos 4 anos entre a linha de base e o acompanhamento, o ganho de peso médio anual estimado foi de 0,24 kg/ano entre os homens e 0,42 kg/ano entre as mulheres. O ganho de peso anual foi maior entre os participantes com nível intermediário de educação e aqueles que se identificaram como negros.
A incidência de sobrepeso foi de 27,9% entre as mulheres mais jovens (35–39 anos), correspondendo a aproximadamente o dobro em relação aos homens da mesma idade (12,5%). A maior incidência de obesidade foi observada em mulheres de 50 a 59 anos e em homens de 40 a 49 anos.
Com relação à cor/raça, observou-se maior incidência de sobrepeso nas mulheres pardas. Mulheres negras tiveram a maior incidência geral de obesidade. Em relação à escolaridade, ressalta-se que maiores incidências de sobrepeso foram observadas entre mulheres e homens com ensino médio completo, em comparação àqueles com menor escolaridade. O inverso foi observado com relação à incidência de obesidade, que foi maior entre aqueles com menor escolaridade, principalmente entre as mulheres (35,0%).
A maior incidência de excesso de peso foi observada em indivíduos na faixa dos 40
A razão de incidência de sobrepeso foi aproximadamente duas vezes maior para mulheres e homens com idade entre 40-49 anos do que nas outras faixas etárias. Além disso, os homens com idade entre 40-49 anos apresentaram associação mais forte entre idade e obesidade em relação às faixas etárias mais altas.
Em ambos os sexos, após ajuste para idade, foi observada associação significativa entre raça/cor negra autodeclarada e obesidade. As estatísticas da razão de incidência e ganho de peso anual (90% de ganho de peso de 1,86 kg/ano) em mulheres negras sugerem que este grupo apresenta uma ocorrência de obesidade 32% maior do que em mulheres brancas. Em contraste, a incidência de obesidade aumentou em mulheres com níveis reduzidos de escolaridade. Nas mulheres que nunca frequentaram a escola ou com ensino fundamental incompleto, foi observada uma incidência duas vezes maior em relação às com ensino superior completo.
É importante compreender o impacto das desigualdades sociais associadas ao excesso de peso
Foram declaradas como possíveis limitações do estudo: o curto período de acompanhamento; caracterização do desfecho usando apenas dois momentos em um período de quatro anos; e impacto potencial de fatores de confusão residuais. Entretanto, os resultados contribuem para a compreensão das tendências atuais do excesso de peso na população brasileira, sendo necessária uma análise longitudinal posterior.
A relação entre os aspectos de sexo e raça/cor e a ocorrência de excesso de peso deve continuar a ser levada em consideração. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, as intervenções de Saúde Pública devem incorporar estratégias destinadas a inibir a epidemia de obesidade e considerar a determinação social do fenômeno na promoção da alimentação saudável.
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