Estudos mostraram que a obesidade está associada ao aumento do risco de agravamento da COVID-19. Entretanto, pouco se sabe sobre a associação entre Índice de Massa Corporal (IMC) elevado e a morte e o tempo de permanência na terapia intensiva em pacientes com COVID-19.
Com a hipótese de que a obesidade tem impacto grave nos desfechos da terapia intensiva, um estudo teve por objetivo avaliar se um IMC elevado afeta o risco de morte ou o tempo de internação prolongado em pacientes com COVID-19 durante terapia intensiva na Suécia.
Obesidade e COVID-19 – Estudo utilizou IMC para estabelecer estado nutricional dos pacientes
Para o estudo foram utilizados dados das seguintes fontes: do Swedish Intensive Care Registry (SIR), um registro nacional que coleta dados sobre pacientes em terapia intensiva na Suécia, com cobertura relatada de 100% para pacientes tratados para COVID-19 grave; de prontuários médicos; e do Swedish Passport Register de pacientes com COVID-19 admitidos em unidades de terapia intensiva (UTI) na Suécia durante a primeira onda da pandemia de COVID-19.
Os critérios de inclusão para o estudo foram: tratamento em terapia intensiva no período de 6 de março de 2020 a 23 de agosto de 2020, diagnóstico de COVID-19, idade ≥18 anos e dados disponíveis sobre altura e peso recente. Os critérios de exclusão foram idade <18 anos, gravidez ou dados ausentes ou desatualizados de peso ou altura.
Os desfechos avaliados foram óbito durante a terapia intensiva e permanência na UTI ≥14 dias. As associações entre o IMC e os desfechos foram avaliadas por meio de modelos de regressão logística.
Mulheres representam a maioria dos pacientes com obesidade e COVID-19
De 2.628 pacientes elegíveis tratados em UTI durante o período do estudo, que tiveram diagnóstico de COVID-19 (verificado por PCR ou clínico), 1.649 pacientes atenderam aos critérios de inclusão. Os indivíduos que compuseram a coorte tinham uma idade média de 60,1 anos (+ 13,0) e eram predominantemente do sexo masculino (74%). A maioria (95,6%) teve infecção por SARS-CoV-2 verificada por PCR. Em relação ao IMC, 78,3% apresentavam sobrepeso ou obesidade (≥25 kg/m2), 39,4% obesidade classe 1 (≥30-34,99 kg/m2) e 14,9% obesidade classe 2 ou 3 (≥35kg/m2). Havia significativamente mais mulheres do que homens com IMC acima de 30 kg/m2. O número de indivíduos com baixo peso (≤18,0kg/m2) foi muito pequeno para ser analisado como um grupo separado (n = 15).
Quanto maior o grau de obesidade maior a chance de óbito durante a terapia intensiva, em pacientes com obesidade e COVID-19
IMC elevado está associado à maior risco de morte durante a terapia intensiva e a permanência prolongada na UTI
Foi encontrada uma associação significativa entre o IMC como variável contínua e o desfecho composto óbito durante terapia intensiva ou tempo de permanência em sobreviventes ≥14 dias, e essa associação permaneceu também após ajuste para presença de qualquer (uma ou várias) das comorbidades: doença cardiovascular, hipertensão, diabetes mellitus, doença hepática ou renal. Tal achado significa que o aumento de cada unidade de IMC está relacionado ao aumento da chance de ocorrência do desfecho. No mesmo modelo, sexo masculino, idade elevada e presença de qualquer uma das comorbidades também foi significativamente associado ao desfecho composto. O risco do desfecho composto aumentou significativamente para obesidade classe 1 no modelo totalmente ajustado (para idade, sexo, comorbidades e severidade no momento da admissão) e dobrou para obesidade classe 2 ou 3 em todos os modelos ajustados, comparados com o grupo de referência (IMC entre 18 e 25 kg/m2).
Obesidade também impacta no tempo de permanência na UTI em pacientes com COVID-19
Um alto IMC também foi associado à morte durante a terapia intensiva e ao prolongado tempo de permanência em sobreviventes quando avaliados como desfechos separados. O IMC como variável contínua foi associado ao risco de morte durante a permanência na UTI e indivíduos com obesidade classes 2 ou 3 tiveram tempo de permanência significativamente maior do que o grupo de referência. Ao avaliar a associação entre o IMC e o risco de longa permanência em sobreviventes, foi verificado que o IMC é um determinante de tempo prolongado em todos os modelos avaliados.
Dentre as limitações do estudo estão a falta de informações sobre a condição socioeconômica e tabagismo.
Nesta grande coorte de pacientes com COVID-19 em terapia intensiva, um IMC elevado foi associado à maior risco de morte durante a terapia intensiva e a permanência prolongada na UTI. Ressalta-se que as associações observadas não foram mediadas pela gravidade da doença no momento da admissão na UTI. Os resultados estabelecem a obesidade como um fator de risco independente para desfechos graves durante a terapia intensiva em pacientes com COVID-19. Os autores sugerem que indivíduos com obesidade devem ser mais monitorados quando hospitalizados por COVID-19.