Aumento do excesso de peso em gestantes
O excesso de peso (sobrepeso + obesidade) tem apresentado elevada e crescente prevalência nas últimas décadas. Em 2018, dos dados do Vigitel (Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas pelo Inquérito Telefônico), realizado apenas nas capitais brasileiras, sinalizaram uma maior prevalência de excesso de peso entre mulheres no Rio de Janeiro, atingindo 58,4%. A elevada prevalência do excesso de peso também é verificada no período gestacional, considerando-se um dos fatores de risco mais presentes na prática obstétrica. O excesso de peso em gestantes está associado a comorbidades como diabetes gestacional, distúrbios hipertensivos, intercorrências cardiovasculares, eventos tromboembolíticos, cesarianas e complicações cirúrgicas no parto, além de comprometimento na saúde dos neonatos, sendo fundamental a vigilância alimentar e nutricional na gestação.
No município de Macaé-RJ, o monitoramento em gestantes segue o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), que passou a ser incorporado mais efetivamente a partir de 2008 pela gestão do município. Diante da relevância deste tema, um estudo publicado em 2020 teve como objetivo investigar a prevalência e a tendência temporal do excesso de peso em gestantes atendidas na Atenção Primária à Saúde (APS) daquele município, entre 2010 e 2018.
Excesso de peso em gestantes reforça cenário mundial
Na série temporal do estudo foram registrados, a partir do Sisvan Web, dados de 4.279 gestantes, entre 2010 e 2018, com idade igual ou superior a 20 anos, usuárias da APS. Os dados foram acessados no mês de outubro de 2019 e as variáveis do estudo foram: ano de coleta e registro dos dados; e classificação do estado nutricional (baixo peso, adequado, sobrepeso, obesidade, excesso de peso). Na análise descritiva, os dados foram caracterizados por suas frequências absolutas e percentuais. A análise de tendência do excesso de peso em gestantes foi realizada por meio de modelos de regressão linear simples. Foram utilizadas proporções em relação ao total de dados coletados em cada ano para gerar prevalências.
A análise da prevalência de excesso de peso em gestantes de Macaé mostrou aumento a cada ano estudado, correspondendo a 40,2% em 2010, 37,5% em 2011, 46,8% em 2012, 48,8% em 2013, 50,9% em 2014, 51,8% em 2015, 54,4% em 2016, 57,8% em 2017 e 55,8% em 2018 – o que sugere uma tendência significativa e crescente.
Os resultados encontrados no estudo estão alinhados com o cenário epidemiológico brasileiro e mundial, o qual evidencia o crescente número de indivíduos apresentando excesso de peso. Os achados na literatura apontam para um cenário preocupante de excesso de peso, tanto nas gestantes de diferentes regiões do país quanto nas de Macaé.
Excesso de peso em gestantes é naturalizado: “comer por dois”
Uma das hipóteses levantadas consiste na autopercepção da imagem corporal da mulher gestante, apresentando “naturalização” e “resignação” quanto ao peso excessivo durante a gravidez, em função da própria condição fisiológica e em prol da saúde do bebê, permeado pelas crenças de “comer por dois” e fatores emocionais como “desejos”. Além da construção sociocultural de encorajamento à neutralização do excesso de peso e das práticas alimentares inadequadas durante a gestação, a não adesão e a descontinuidade na atenção nutricional das gestantes também contribuem para o cenário do excesso de peso nesta população.
Neste sentido, os dados provenientes do Sisvan Web constituem uma importante ferramenta de Vigilância Alimentar e Nutricional, sendo fundamental para a formulação e avaliação de políticas públicas em alimentação e nutrição para o público de gestantes. Diante das limitações sobre a análise de dados consolidados de base secundária e da crescente importância atribuída à informação produzida pelos Sistemas de Informação de Saúde, faz-se necessário que estes sistemas não sejam negligenciados pelos gestores e esforços sejam mobilizados para a qualificação dessas informações e melhoria dos indicadores de saúde.