Dentre as diferentes possibilidades de avaliação do ambiente alimentar, têm-se analisado os desertos e pântanos alimentares. Desertos alimentares são definidos como locais onde o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou impossível. Pântanos alimentares são denominados os locais nos quais ocorrem maior oferta de alimentos calóricos e baixo valor nutricional. Estudos apontam uma associação entre ambientes alimentares não saudáveis no entorno das escolas e impactos negativos nos hábitos alimentares e na saúde de escolares.
Um estudo ecológico foi realizado com o objetivo de estabelecer a relação entre a desigualdade socioeconômica com a presença de desertos e pântanos alimentares no entorno de escolas. Foram avaliados o entorno de 3.159 mil escolas públicas e privadas do Estado do Rio de Janeiro.
A presença de estabelecimentos de alimentação foi extraída da Secretaria Estadual da Fazenda do Estado do Rio de Janeiro (Secretaria Estadual da Fazenda) referente ao ano de 2019. Tais estabelecimentos foram classificados como: (i) estabelecimentos de alimentos in natura, que incluíam açougues, peixarias e hortifrutigranjeiros; (ii) estabelecimentos de alimentos ultraprocessados, que incluíam bares, lanchonetes, lojas de conveniência, confeitarias e camelôs; e (iii) estabelecimentos mistos, que incluíam mercados, hipermercados, minimercados, padarias, restaurantes e mercearias (lojas de alimentação geral como produtos naturais e dietéticos, congelados, sorveterias, pastelarias, armazéns e lojas de alimentação comercial com varejo predominante de alimentos processados). A partir deste mapeamento, foram definidos desertos e pântanos alimentares do entorno das escolas.
Para avaliar a desigualdade, foram utilizadas diferentes características: renda per capita do bairro, índice de segregação do bairro (proporção de chefes de família com diferentes faixas de renda) e índice de privação (calculado a partir do percentual de domicílios que recebem menos de ½ salário mínimo; percentual de habitantes de 7 anos ou mais analfabetos; e média de indivíduos com acesso inadequado a saneamento). Estes dados foram obtidos do último Censo realizado no país (2010).
Desertos alimentares e pântanos alimentares estavam mais presentes em bairros de renda mais baixa, alta segregação e alta privação. Ainda, a desigualdade socioeconômica dos bairros das escolas foi associada a desertos e pântanos alimentares, ou seja, as áreas de maior carência de estabelecimentos de alimentação eram também as áreas com piores características socioeconômicas. Verificou-se maior predominância de desertos alimentares em bairros de escolas públicas em comparação aos de escolas privadas.
Os autores sugerem que as implicações políticas devem envolver o aumento da regulamentação em ambientes alimentares nos bairros com escolas e a criação de programas e ações direcionados e eficazes para reduzir a desigualdade nas cidades.