Vivências de gordofobia médica em serviços de saúde no Brasil

Consumo de alimentos ultraprocessados, apetite e IMC em crianças
8 de agosto de 2023
Ambiente alimentar, IMC, padrões alimentares e posição socioeconômica no México
22 de agosto de 2023

O termo “gordofobia” vem sendo caracterizado como preconceito, estigmatização e discriminação de pessoas com excesso de peso, que pode ser associado a exclusão social outros aspectos de opressão estrutural, que quando praticados por profissionais de saúde pode ser intitulado como ações de “gordofobia médica”. O objetivo deste estudo foi categorizar vivências de gordofobia médica em serviços de saúde no Brasil.

Trata-se de estudo retrospectivo e misto, com abordagem exploratório sequencial, onde foram utilizados informações disponíveis nas redes sociais Twitter e Instagram, publicadas entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022. As publicações foram categorizadas de acordo com o gênero de quem sofreu  gordofobia, a pessoa gramatical dos relatos (primeira ou terceira pessoa do singular) e os temas do relato. Além disso, as consequências relacionadas à saúde dos indivíduos que vivenciaram a gordofobia medica foram categorizadas em saúde mental, saúde materno infantil e por abandono ou recusa do tratamento.

Seguem abaixo alguns dos relatos:

“Hoje eu relatando para médica que quando estive numa fase aguda de depressão perdi 20kg e a resposta dela foi ‘por esse lado foi bom’. Eu não assenti, nem disse nada, só a encarei e veio a emenda pra quem tem obesidade de qualquer jeito perder peso vale a pena”.

“Fui fazer um ultrassom abdominal e quando terminei o médico falou ‘hoje eu só fiz ultrassom em baleia’ eu fiquei tão sem reação que deixei até a receita dos remédios lá”.

“Ginecologista tocando o terror que eu não poderia engravidar de jeito nenhum, pois se não morria eu e a criança. Que tinha que fazer bariátrica urgente. Só fui fazer uma consulta de rotina. Agora criei coragem parar marcar outro gineco”.

O artigo contou com um total de 75 relatos, sendo que o número de relatos segundo gênero foi de 65 para as mulheres e 8 relatos para o sexo masculino. Tal dado corrobora com os achados na literatura que mostram que há uma maior chance das mulheres que estão acima do peso reportarem episódios de discriminação do que os homens.

Com a hegemonia do “corpo magro” quase como símbolo de saúde, atitudes discriminatórias como as vistas acima têm sido naturalizadas no meio médico. Frente ao paciente com sobrepeso e obesidade, muitos profissionais de saúde expressam concepções negativas a seu respeito. Esse cenário chama a atenção para discussões acerca do tema, em especial, a necessidade de humanizar o cuidado, a assistência e a relação com os pacientes por meio da educação continuada desses profissionais.

Cerca de 31,2% dos relatos se referiram a queixas sobre a insistência do profissional em promover o emagrecimento e 29,7% à recusa de atenção à queixa principal do paciente, com a redefinição do problema para o excesso de peso. Outros 26,6% abordaram situações de violências psicológicas, verbais e/ou físicas associadas ao excesso de peso e 12,5% identificaram a gordofobia como barreira ao acesso à saúde. Também foi identificada insistência frequente na sugestão de cirurgia bariátrica.

Com relação às consequências à saúde, a categoria mais encontrada (29% dos relatos) foi o abandono do tratamento pelos pacientes ou recusa por parte dos profissionais em atender às suas queixas principais. Isso mostra que o comportamento de profissionais de saúde, que envolve a gordofobia, influencia negativamente o envolvimento do paciente com os serviços de saúde. Além disso, 24,7 % dos indivíduos relataram algum dano à saúde mental e 11,8% consequências relacionadas à saúde materno infantil.

Compartilhar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *