A escolha dos alimentos é influenciada por um conjunto complexo de determinantes que incluem fatores biológicos, econômicos, sociais, bem como atitudes, conhecimentos e crenças. As escolhas alimentares pouco saudáveis são um importante fator de risco modificável para doenças crônicas não transmissíveis, e o ambiente alimentar do consumidor foi identificado como um dos principais impulsionadores da escolha de alimentos. Apesar do conhecimento dessas informações, a obesidade continua a crescer, em um ambiente alimentar cada vez mais obesogênico que oferece uma ampla variedade de alimentos e bebidas com alto teor calórico e baixo teor de nutrientes a preços baixos. Além disso, as desigualdades no acesso a alimentos saudáveis, nutritivos e acessíveis também parecem contribuir para as disparidades de saúde.
O presente artigo realizou uma análise de dados secundários de inquéritos transversais de base populacional que tiveram como objetivo avaliar a relação entre a densidade de estabelecimentos de varejo de alimentos, índice de massa corporal (IMC), padrões alimentares e posição socioeconômica no México.
Os dados foram obtidos da Pesquisa Nacional Mexicana de Saúde e Nutrição. Peso e altura foram aferidos e os indivíduos responderam questões sobre dados sociodemográficos (sexo, idade, posse de carro, tipo de usuário do serviço de saúde, participação em programas de alimentação e região), atividade física, posição socioeconômica familiar e alimentação (questionário de frequência alimentar). Foram considerados somente adultos e houve a exclusão de mulheres grávidas. Os indivíduos foram geocodificados de acordo com seus endereços, os quais foram agrupados em nove áreas geográficas para avaliar a existência e tipo de ponto de venda de alimentos. Os dados do varejo foram obtidos no Censo Econômico 2014 do Instituto Nacional de Estatística e Geografia. Os pontos de venda de comida englobavam lojas de conveniência, fast-food, restaurantes, supermercados e lojas de frutas e hortaliças.
O estudo teve como amostra 5.080 indivíduos, sendo 56% do sexo feminino, 35% tinham estilo de vida sedentário, 12% possuíam carro e 14% participavam de uma forma de programa de alimentação.
Apenas 14% dos setores censitários tiveram acesso a uma loja de frutas e hortaliças. Ao olhar para a distribuição de pontos de venda de alimentos no México, uma maior concentração de lojas de frutas e hortaliças foi evidente no centro e sul do México em comparação com o norte e regiões metropolitanas do México. Além disso, lojas de conveniência e lojas de fast-food estavam amplamente disponíveis em todo o país.
Foram encontrados 3 padrões alimentares: padrão saudável, caracterizado pelo consumo de frutas e hortaliças, refeições quentes, leguminosas, peixes e frutos do mar, carne, laticínios fermentados, sopas, pães e bebidas naturais. O segundo padrão foi classificado como não saudável, composto principalmente por gorduras, refeições ricas em carnes e gorduras, açúcar e sobremesas, embutidos, molhos, refrigerantes, fast-food, sopas prontas, batata frita e doces. O terceiro padrão foi denominado padrão carboidratos-e-bebidas, que englobava sucos e bebidas, produtos de trigo integral, leite e cereais refinados.
A densidade de lojas de frutas e hortaliças no México foi inversamente associada a uma dieta pouco saudável, o que pode indicar que ter uma baixa disponibilidade de comércio de frutas e hortaliças pode influenciar padrões alimentares pouco saudáveis. Em áreas com uma maior densidade de restaurantes foi encontrada associação com o terceiro padrão alimentar, rico em carboidratos e bebidas. Já uma maior densidade de lojas de conveniência mostrou uma associação com um maior risco de obesidade, e foi associada a padrões alimentares pouco saudáveis. Embora uma maior disponibilidade de opções de alimentos saudáveis e consumo de padrões alimentares mais saudáveis possam ser importantes para a prevenção da obesidade e das doenças crônicas não transmissíveis, não parecem substituir a disponibilidade abundante de pontos de venda de alimentos que oferecem alimentos não saudáveis.
Uma associação inversa foi observada entre posição socioeconômica e disponibilidade de lojas de frutas e hortaliças e de supermercado, indicando que as famílias de baixa renda eram mais propensas a habitar áreas com menor acesso a esses estabelecimentos. Além disso, quando expostos a áreas com alta disponibilidade de lojas de frutas e hortaliças, as famílias de alta renda foram mais propensas a ter padrões alimentares mais saudáveis, enquanto as famílias de renda média-alta eram menos propensas a padrões alimentares pouco saudáveis.
Em contraste, as lojas de conveniência, que oferecem mais opções de alimentos e bebidas não saudáveis, estavam amplamente disponíveis para populações de baixa renda, bem como para todos os outros estratos sociais. Em relação à exposição a fast-food, as famílias de baixa renda foram menos expostas a altas concentrações de fast-food e eram menos propensos a ter padrões alimentares pouco saudáveis quando expostos a altas concentrações de lojas de fast-food. Os supermercados estavam menos disponíveis para as populações de baixa renda, no entanto, quando as populações de baixa renda têm acesso a supermercados, uma menor probabilidade de uma dieta não saudável foi observada. No entanto, quando expostas a uma alta densidade de supermercados, as populações de renda alta e baixa eram mais propensas a ter um padrão alimentar não saudável.
Os resultados do estudo indicam que as condições ambientais e sociodemográficas dentro dos bairros podem afetar os comportamentos alimentares. Além disso, a renda familiar pode influenciar o acesso aos alimentos e às lojas de alimentação, dificultando que as famílias de baixa renda priorizem a compra de alimentos saudáveis, principalmente quando estes são mais caros.
São necessárias ações para regular o ambiente alimentar diminuindo a disponibilidade de alimentos não saudáveis e aumentando a disponibilidade de opções de alimentos e bebidas saudáveis, particularmente em bairros de baixa renda, a fim de contribuir para melhorar a ingestão alimentar na população mexicana e para a prevenção da obesidade e DCNT relacionadas à dieta.
2 Comments
Excelente artigo e poucos conseguem ter essa informação correta e relevante. Obrigado e vou compartilhar no meu facebook.
ótimo artigo parabéns