A prevalência de excesso de peso aumentou, em todas as faixas etárias, e espera-se que continue a aumentar nas próximas décadas. É amplamente recomendado que as estratégias para prevenção do excesso de peso se iniciem na primeira infância, uma vez que os comportamentos como alimentação e prática de atividade física são formados e estabelecidos nos primeiros anos de vida.
A obesidade é uma doença multifatorial, e no que diz respeito a fatores de estilo de vida, as evidências apontam para um efeito sinérgico de comportamentos relacionados a alimentação, atividade física e sedentarismo, associados ao aumento do risco de excesso de peso (sobrepeso e obesidade).
Resultados anteriores do estudo multicêntrico europeu ToyBox, em crianças com idade pré-escolar, indicou que um baixo nível socioeconômico estava associado ao consumo de alimentos com elevada densidade energética, aumento do tempo de tela e baixos níveis de atividade física, porém, não abordou associações com o risco de desenvolvimento de obesidade.
Neste sentido, um estudo publicado em 2023 teve como objetivo examinar as associações transversais e longitudinais entre alimentação, tempo de tela e recomendação de passos, e o risco de desenvolvimento de sobrepeso e obesidade em crianças pré-escolares europeias participantes do estudo ToyBox.
O estudo ToyBox é um ensaio clínico aleatorizado e controlado com o objetivo de prevenir a obesidade em crianças pré-escolares e foi realizado em seis países europeus: Bélgica, Bulgária, Alemanha, Grécia, Polônia e Espanha. Participaram do presente estudo 718 crianças pré-escolares do grupo controle do estudo ToyBox e a coleta de dados foi realizada entre maio e junho de 2012 (T0) e maio e junho de 2013 (T1).
As medidas antropométricas foram realizadas por pesquisadores treinados, a quantidade de passos por dia foi medida por um sensor de movimento utilizado pelas crianças e o tempo de tela (que considerou assistir TV e/ou DVD e usar computador) e o Questionário de Frequência Alimentar (usado para avaliar o consumo de alimentos e bebidas e para calcular o Índice de Qualidade da Dieta – IQD) foram coletados por meio de questionário respondido pelos pais. O tempo de tela foi classificado entre recomendado (≤ 1 hora) e não recomendado (>1 hora) e a quantidade de passos recomendada por dia foi categorizada em ≥ 11.500 passos, se as crianças atingiram a recomendação de passos por dia, e < 11.500 passos, se as crianças não atingiram as recomendações.
O estudo encontrou que os participantes que tiveram uma baixa qualidade da dieta não atenderam as recomendações de tempo de tela e passos, tanto em T0 quanto em T1, o que corresponde a mais da metade da amostra (55%), e tiveram um risco aumentado de ter excesso de peso do que aquelas crianças com elevada qualidade da dieta e que atenderam as recomendações de tempo de tela e passos no T0 e T1. Da mesma forma, os participantes que tinham uma elevada qualidade da dieta, mas não cumpriam a recomendação de passos e tempo de tela, no T0 e T1, tinham probabilidades aumentadas de ter excesso de peso.
Os resultados indicam que os esforços de prevenção da obesidade devem aplicar uma abordagem integrada de comportamentos não sedentários e consumo alimentar desde a primeira infância.