Estigma de peso vivenciado por indivíduos com obesidade em serviços de saúde

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A obesidade é uma doença crônica muitas vezes associada a outras comorbidades, como diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas comorbidades aumentam com a elevação do Índice de Massa Corporal (IMC). Contudo, outros fatores como o estigma e a discriminação enfrentados pelos indivíduos com obesidade podem interferir negativamente nas condições de saúde dos mesmos. Apesar de estarem intimamente relacionados, os conceitos de estigma de peso e de preconceito possuem diferenças. O preconceito é descrito como crenças e atitudes negativas em relação às pessoas com obesidade e está associado a atribuições falsas e negativas em relação às causas e ao controle do peso. Já o estigma do peso é manifestado por meio de ações que podem ser excludentes e discriminatórias e que resultam na desvalorização e marginalização das pessoas com obesidade.

O estigma do peso tem sido observado em serviços de saúde e pode contribuir para o agravamento das condições físicas do indivíduo com obesidade, assim como também está associado a questões psicossociais e risco aumentado de depressão e ansiedade. Além disso, o estigma de peso vivenciado em serviços de saúde pode ser uma barreira para a prescrição e adoção de intervenções alternativas às intervenções no estilo de vida, como a utilização de medicamentos e a cirurgia bariátrica.

Visando uma melhor compreensão das barreiras relacionadas ao estigma do peso vivenciado em serviços de saúde, foi desenvolvida uma revisão sistemática e uma síntese sobre o estigma do peso a partir da perspectiva dos indivíduos com obesidade que são atendidos nesses locais. Além disso, o estudo objetivou levantar sugestões dos indivíduos para implementar melhores práticas em intervenções futuras no cuidado com o paciente.

A síntese temática incluiu 32 estudos que coletaram dados qualitativos primários explorando as percepções e experiências do estigma do peso em serviços de saúde nos níveis primário, secundário e terciário, na perspectiva do paciente que apresentava obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2). Esses estudos exploraram as experiências de estigma de peso vivenciadas por 1.384 adultos resultando em três temas analíticos abrangentes: (1) comunicação verbal e não verbal do estigma que se refere à comunicação do estigma do peso percebido pelos indivíduos nas interações paciente-profissional; (2) o impacto do estigma do peso na prestação de cuidados que descreve as percepções dos indivíduos sobre como o estigma do peso impacta na prestação de cuidados; e (3) estigma do peso e barreiras sistêmicas aos cuidados de saúde, com destaque para as barreiras sistêmicas percebidas pelos indivíduos na negociação do sistema de saúde. Também foram apresentadas sugestões dos indivíduos para reduzir o estigma do peso nos ambientes de saúde.

Em relação aos aspectos de comunicação verbal e não verbal associados ao estigma de peso os indivíduos relataram um sentimento de desvalorização por meio de repetidas interações negativas com os profissionais de saúde, com predominância de linguagem depreciativa e comportamentos não verbais pejorativos nos serviços de saúde. Os indivíduos descreveram também que não se sentiam ouvidos e que se consideravam impotentes ao tentar participar do processo de tratamento.

Foi observado também que o estigma do peso afeta a prestação de cuidados gerando impactos na busca de opções de tratamento e na obtenção de acesso equitativo a serviços de saúde adequados. Nesse sentido, os indivíduos relataram que um peso mais elevado esteve associado até a recusa a um determinado tratamento pelo profissional de saúde. Outro aspecto observado nos estudos foi a falta de cuidado centrado na pessoa resultando em uma ênfase no IMC como único parâmetro para a tomada de decisão sobre as intervenções e não levando em consideração a autonomia e a história individual dos sujeitos.

Em relação ao estigma do peso e barreiras sistêmicas aos cuidados de saúde, esse aspecto foi observado em serviços primários e secundários caracterizados por uma má alocação de recursos, serviços e equipamentos disponíveis. Já no nível terciário houve uma percepção de falta de apoio aos indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica representado pelo sentimento de abandono decorrente da dificuldade de obter cuidados para apoiar a sua recuperação. Além disso, os pacientes relataram que os profissionais de saúde eram propensos a fornecer orientações que simplificavam e minimizavam a complexidade do controle de peso para o tratamento da obesidade, tais como “comer menos” e ‘movimentar-se mais”.

A partir dos relatos apresentado nos estudos, os autores afirmam que o estigma do peso se traduz na prática clínica quando os profissionais de saúde não conseguem prestar cuidados respeitosos e individualizados aos indivíduos com obesidade.

A partir das sugestões dos indivíduos para reduzir o estigma do peso, os autores apresentam recomendações visando melhorar a prestação de cuidados aos indivíduos com obesidade. São elas: adotar uma abordagem centrada na pessoa, transmitindo empatia e demonstrando interesse nas preocupações apresentadas pelos indivíduos; promover uma abordagem colaborativa para opções de tratamento baseadas nas necessidades e preferências individuais do paciente; oferecer opções de tratamento aos indivíduos que reflitam os avanços contemporâneos na medicina; e promover um ambiente de saúde inclusivo.

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