Medida do equilíbrio de decisões para redução do peso corporal entre pessoas com sobrepeso ou obesidade

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A obesidade é um problema de saúde pública no mundo associado ao aumento das taxas de mortalidade e dos impactos econômicos, trazendo prejuízos à saúde física e mental de indivíduos e populações. A crescente prevalência da obesidade ao longo dos anos aponta para a urgência do desenvolvimento de ações e de programas que apoiem os profissionais de saúde no cuidado a indivíduos com obesidade. Entre as intervenções voltadas para a redução de peso, a adoção de abordagens comportamentais tem se destacado por contribuir para maior efetividade do tratamento.

Entre as teorias que têm guiado as abordagens comportamentais para redução de peso, destaca-se o Modelo Transteórico, que se propõe a explicar a estrutura de mudança de comportamento em torno de quatro constructos: estágios de mudança, processos de mudança, equilíbrio de decisões e autoeficácia.

No Brasil, o Ministério da Saúde inclui o Modelo Transteórico entre as estratégias a serem utilizadas no manejo da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) para qualificar o cuidado integral e humanizado. Apesar das evidências de que ações pautadas no Modelo Transteórico contribuem para a redução de peso, as intervenções baseadas neste modelo ainda são focadas nos estágios de mudança, limitando sua compreensão e aplicabilidade.

Nesse sentido, um estudo de revisão sistemática avaliou a qualidade de instrumentos de avaliação do constructo equilíbrio de decisões para redução do peso, visando qualificar o tratamento da obesidade no SUS. O equilíbrio de decisões é pautado na identificação dos prós e contras da mudança de comportamento, e a avaliação da sua aplicabilidade favorece a seleção de estratégias de intervenção mais adequadas às necessidades de indivíduos e grupos. O conhecimento dos prós e contras da redução do peso para o indivíduo pode ser útil para guiar a escolha por estratégias que incorporem suas vivências com o processo de redução de peso, apoiando o enfrentamento dos desafios no manejo da obesidade no SUS. No entanto, torna-se necessário que, ao propor protocolos para o manejo da obesidade no SUS pautados no Modelo Transteórico, sejam utilizados instrumentos válidos e aplicáveis ao público-alvo.

A revisão sistemática abrangeu estudos observacionais e de intervenção que descrevessem o desenvolvimento e/ou a validação de instrumentos de avaliação do equilíbrio de decisões para redução de peso. Esta revisão foi reportada de acordo com o protocolo COMIN (COnsensus-based Standards for the  selection  of  health  Measurement  INstruments)  para  revisão  sistemática  de  instrumentos de medidas relatadas pelo paciente. As buscas foram realizadas em julho de 2020, em diferentes bases de dados e nenhuma restrição de ano, local e idioma de publicação foi realizada para possibilitar identificar todos os instrumentos de avaliação do equilíbrio de decisões para redução do peso. Estudos que avaliaram o equilíbrio de decisões para redução de peso, porém sem apresentação do desenvolvimento e da validação do instrumento utilizado, foram excluídos.

A validade de conteúdo foi avaliada em torno de três componentes: relevância, compreensibilidade e abrangência. A qualidade da evidência foi, então, classificada em “alta”, “moderada”, “baixa” ou “muito baixa”, dependendo do risco de viés, inconsistência, imprecisão e/ou obtenção indireta da medida.

Foram identificados cinco estudos em cinco países (Estados Unidos, Japão, Taiwan, Itália e Nova Zelândia) que desenvolveram e/ou validaram instrumentos de avaliação do equilíbrio de decisões para redução de peso corporal.  A análise desses estudos sugeriu a ausência de instrumentos que apresentassem evidência de alta qualidade, e suficiente validade.

O desenvolvimento dos instrumentos foi considerado inadequado nos cinco estudos. Nenhum estudo reportou a avaliação da abrangência do instrumento com a população-alvo. Outros aspectos como o estudo da dimensionalidade e a adaptação transcultural foram realizados com qualidade metodológica inadequada na maioria dos estudos. Considerando a avaliação da qualidade, nenhum instrumento apresentou evidências suficientes para validade de conteúdo e todos tiveram consistência interna indeterminada, ou apresentou evidência insuficiente das propriedades de medida e não foi considerada de alta qualidade. Desta forma, todos os instrumentos apresentaram algum potencial de uso.

As evidências de relevância, abrangência e de compreensibilidade dos instrumentos apresentaram resultados insuficientes ou inconsistentes com qualidade de moderada a muito baixa. Além disso, outros aspectos importantes do equilíbrio de decisões para redução de peso não foram contemplados, tais como: autoestima, apoio social e custos financeiros e de tempo. Dessa forma, conclui-se que os instrumentos existentes não são adequados para serem traduzidos e adaptados transculturalmente para o Brasil, sendo necessário o desenvolvimento de um novo instrumento para avaliação do equilíbrio de decisões para redução de peso visando seu uso no âmbito do SUS.

Esse novo instrumento deverá seguir as recomendações do campo da Psicometria e incluir os prós e contras percebidos pelos usuários do SUS para a mudança de comportamentos que visem à redução do peso corporal. Ressalta-se que a disponibilidade de um instrumento válido para avaliar o equilíbrio de decisões para redução de peso poderá contribuir para a maior efetividade das intervenções baseadas no Modelo Transteórico, bem como qualificar o manejo da obesidade no SUS e favorecer o alcance ou a aproximação da meta de deter o crescimento da obesidade.

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