Alimentos ultraprocessados e saúde cardiometabólica: políticas públicas de saúde para redução do consumo não podem esperar.

Posicionamento da Federação Mundial de Obesidade sobre o estigma do peso
21 de novembro de 2023
Tributação de tabaco, álcool e bebidas açucaradas: revendo evidências e dissipando mitos
5 de dezembro de 2023

A relação entre dieta e saúde, anteriormente vista sob uma perspectiva centrada em nutrientes, passou a ser considerada pelo efeito dos padrões alimentares na saúde, evoluindo para a categorização de alimentos de acordo com sua formulação e grau de processamento, ou seja, a classificação NOVA. Segundo tal classificação, os alimentos ultraprocessados são caracterizados por intensos processos físicos ou químicos e uso de aditivos industriais, e têm sido associados ao risco aumentado para obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

O consumo de alimentos ultraprocessados é crescente ao redor do mundo, sendo observada uma variabilidade na prevalência de consumo de tais alimentos entre os países, com influência de fatores econômicos, socioculturais, políticos e comerciais. Tal cenário é preocupante, quando se considera os efeitos adversos dos alimentos ultraprocessados. Evidências provenientes de estudos epidemiológicos associam o consumo de alimentos ultraprocessados ao prejuízo da saúde cardiometabólica. Neste contexto, o artigo apresentado parte do seguinte questionamento: existem evidências suficientes para realizar ações concretas do ponto de vista das políticas governamentais e da saúde pública?

Os autores apontam que diferentes fatores possam mediar os efeitos adversos dos alimentos ultraprocessados na saúde, como a composição de ingredientes, o uso de diferentes aditivos químicos, e contaminantes relacionados ao processamento ou à embalagem. Embora os mecanismos envolvidos nessa relação ainda não sejam totalmente compreendidos, já existem evidências suficientes para justificar ações imediatas em termos de políticas públicas de saúde, a fim de orientar a população sobre os riscos do consumo de alimentos ultraprocessados e limitar sua exposição.

A urgência para o delineamento e implementação de políticas públicas concretas para a redução do consumo de ultraprocessados deve levar em consideração o interesse econômico do mercado de alimentos. Grandes empresas alimentícias têm advogado pela ausência de políticas e regulamentações voltadas para alimentos ultraprocessados, lançando mão dos benefícios do processamento de alimentos (maior estabilidade de prateleira, segurança microbiológica, acessibilidade e propriedades funcionais e de sabor atraentes), e promovendo a ideia de que não há um consenso sobre a relação entre o processamento de alimentos e a saúde humana.

 

Assim, pesquisas multidisciplinares, que sejam independentes da indústria, são essenciais para reavaliar a segurança de aditivos alimentares e ingredientes processados industrialmente, bem como identificar contaminantes relacionados ao processamento de alimentos. Enquanto regulamentações fiscais, de marketing e de rotulagem devem ser utilizadas para transformar o atual sistema alimentar e promover mudanças alimentares pautadas na redução do consumo de alimentos ultraprocessados e incentivo à produção e o consumo de alimentos in natura e minimamente processados.

Em síntese, a complexidade da temática é evidenciada pela variedade de estudos e perspectivas, e sua discussão e compreensão estende-se além da academia, abordando implicações em nível global e político, buscando transformações nos sistemas alimentares e nas diretrizes regulatórias. Ações para enfrentar os desafios impostos pelos alimentos ultraprocessados à saúde pública são urgentes, sendo necessária uma abordagem multidisciplinar e a implementação de políticas que promovam escolhas alimentares mais saudáveis em níveis individuais e populacionais.

Compartilhar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *