Frequência de cozinhar o jantar em casa, consumo de alimentos ultraprocessados e a qualidade da dieta

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A qualidade da dieta de crianças e adolescentes nos Estados Unidos é considerada ruim, com alta ingestão de alimentos ultraprocessados. A baixa qualidade da dieta e o consumo excessivo de ultraprocessados estão associadas ao risco aumentado de excesso de peso, obesidade e doenças crônicas relacionadas à dieta. Soma-se a isso o fato de que a ingestão alimentar durante a infância é preditiva da ingestão alimentar na idade adulta, tornando-se ainda mais necessário compreender a qualidade da dieta desse público.

O preparo das refeições em casa e o desenvolvimento de habilidades culinárias pode ser uma alternativa para melhorar a qualidade da alimentação, por exemplo, estudos realizados com adultos identificaram que a frequência de preparo de refeições está associada ao maior consumo de frutas e hortaliças, e a uma menor ingestão de gordura, açúcar e energia total. No entanto, faltam evidências para entender essa relação com crianças e adolescentes norte-americanos.

O tempo gasto com o preparo de comida caseira nos Estados Unidos da América (EUA) vem diminuindo desde 1965. Esse declínio coincide com o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e de refeições preparadas fora de casa. As evidências apontam que cozinhar pode ser uma estratégia para reduzir o consumo de ultraprocessados, assim como uma alternativa para melhorar a qualidade da dieta.

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi examinar a relação entre a frequência de preparo doméstico dos alimentos, a ingestão de alimentos ultraprocessados e a qualidade da dieta entre crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade nos EUA. A hipótese levantada pelos autores era que a frequência de cozinhar em casa estaria inversamente associada à ingestão de alimentos ultraprocessados e positivamente associada à qualidade da dieta.

Para isso, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES), que é uma pesquisa transversal projetada para coletar dados nacionalmente representativos sobre a saúde e o estado nutricional da população dos EUA. Foram coletados ​​dois recordatórios de 24 horas para cada participante e a qualidade da dieta foi avaliada pelo Índice de Alimentação Saudável-2015 (HEI-2015). Os itens alimentares foram categorizados de acordo com a classificação Nova de alimentos, obtendo um percentual de ultraprocessados da ingestão energética total. Além disso, aplicou-se uma Pesquisa de Comportamento do Consumidor Flexível (FCBS), que pergunta sobre comportamentos individuais e familiares, como ”Durante os últimos sete dias, quantas vezes você ou alguém da sua família preparou comida para o jantar em casa?’‘ e as respostas podiam ser categorizadas em: (1) 0–2 vezes/semana; (2) 3–4 vezes/semana; (3) 5–6 vezes/semana; e (4) 7 vezes/semana. A coleta também envolveu variáveis demográficas como idade, sexo, raça/etnia, relação renda/pobreza, recebimento de benefícios, estado civil e escolaridade da pessoa de referência do domicilio, tamanho da família e situação de segurança alimentar da família. A amostra final deste estudo contemplou 6.028 crianças e adolescentes.

Cerca de 7,5% dos participantes viviam em domicílios onde o jantar era preparado em casa de 0-2 vezes/semana, 20% viviam em domicílios onde o jantar era preparado de 3-4 vezes/semana, 32% viviam em agregados familiares onde o jantar era preparado 5–6 vezes/semana e 40% viviam em agregados familiares onde o jantar era preparado 7 vezes/semana.

Os participantes eram mais propensos a viverem em uma família onde o jantar era preparado 7 vezes por semana se fossem hispânicos, tivessem menos de 11 anos de idade, morassem em uma família que recebesse benefícios, tivessem baixa ou muito baixa segurança alimentar familiar, vivessem em um agregado familiar com mais de 4 pessoas, e se a pessoa de referência do domicílio tivesse escolaridade inferior ao ensino médio ou era casada/morava com companheiro.

Foi identificado uma associação inversa significativa entre a frequência de cozinhar em casa e o consumo de alimentos ultraprocessados pelas crianças. As crianças de famílias onde o jantar era cozinhado 7 vezes por semana tiveram a menor ingestão de alimentos ultraprocessados, enquanto as crianças em agregados familiares onde o jantar era cozinhado 0–2 vezes/semana apresentaram maior ingestão de ultraprocessados.

Também foi encontrada uma associação positiva significativa entre a frequência de preparo doméstico do jantar e as pontuações do HEI-2015 das crianças. No entanto, as crianças em agregados familiares que cozinhavam 5–6 vezes/semana tiveram a pontuação um pouco mais elevada que crianças em agregados familiares que cozinhavam 7 vezes/semana. Em comparação com famílias que cozinhavam 0–2 vezes/semana, uma maior frequência de preparo doméstico foi associada a menor ingestão de alimentos ultraprocessados entre crianças, mesmo após ajuste para variáveis sociodemográficas. Não foram observadas associação significativa entre a frequência de cozinhar e a ingestão total de energia pelas crianças.

Os autores concluem que mesmo após ajuste para variáveis sociodemográficas, uma maior frequência de preparo doméstico do jantar está associada a uma menor ingestão de alimentos ultraprocessados e a pontuações mais altas no HEI-2015, o que indica melhor qualidade da dieta. Estes resultados sugerem que iniciativas para apoiar uma maior frequência de cozinhar em casa podem ser uma estratégia eficaz para reduzir a ingestão de alimentos ultraprocessados e promover padrões alimentares mais saudáveis entre os jovens.

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